21 de junho de 2010

Moçambique: Gorongosa, um antigo problema ecológico


Gorongosa – um antigo problema ecológico

Maputo (Canalmoz) - O sinal de alerta lançado sexta-feira última pela ministra da Coordenação da Acção Ambiental, Alcinda Abreu, para o perigo de aluimento de terras na Serra da Gorongosa, mercê de práticas agrícolas erradas, serviu para ilustrar um dos aspectos da grave situação que se faz sentir nesse ponto do país. Tais práticas, a par das queimadas descontroladas, do derrube de árvores, do garimpo e da dizimação de espécies animais, espelham uma realidade amarga que se tem vindo a agravar desde a independência em 1975. Efectivamente, trata-se de um problema já antigo que conheceu novos contornos com o advento da independência nacional.

“A Frelimo sujou conquistas da Independência com políticas devastadoras”


“A Frelimo sujou as conquistas da Independência com as suas políticas devastadoras”

– afirma o presidente do partido Renamo, Afonso Dhlakama, a propósito da celebração dos 35 anos da Independência Nacional

“Toda a gente abraçou a Independência por ter lutado por ela, e, com a saída dos colonos, os nacionalistas já se podiam afirmar, mas, surpreendentemente, o Governo da Frelimo veio a piorar a situação e em muito pouco tempo matou muitas pessoas, mais do que durante os quinhentos anos da colonização portuguesa. A Frelimo negou a democracia. Matou quem se arriscasse a pensar de maneira contrária à sua ideologia marxista-comunista. Quem pensasse de forma diferente era morto. Muitos moçambicanos foram fuzilados por serem acusados de anti-independência” – Afonso Dhlakama

18 de junho de 2010

Jornalismo vergonhoso (Canal de Opinião: por Borges Nhamirre)


Canal de Opinião: por Borges Nhamirre

Jornalismo vergonhoso

Maputo (Canalmoz) – Evito, sempre que possível, criticar publicamente os erros dos colegas, porquanto entendo que somos uma classe e “roupa suja não se lava fora”. Mas, quando um comportamento desonesto e deliberado de um colega se confunde com o “modus operandi” de toda a classe e atira areia aos olhos do povo, é preciso repudiá-lo publicamente.
Escrevo a propósito da peça apresentada no telejornal da TVM, do dia 10 de Junho de 2010. Escuso-me a citar o nome do seu autor, pois não é meu objectivo atacá-lo pessoalmente, mas sim criticar o seu trabalho. E, neste, partilha as responsabilidades com a direcção editorial da TVM.
No mesmo dia em que o director do Gabinete de Controlo de Bens Estrangeiros do Departamento do Tesouro dos EUA, Adam Szubin, concedeu uma vídeo-conferência na Embaixada norte-americana em Maputo, para explicar os contornos do “caso MBS”, o jornalista da TVM exibiu uma peça produzida na sala de estar do empresário Momade Bachir Sulemane – ressalvo que não tenho nada contra nem a favor dele. Na peça, Bachir aparece a chorar perante as câmaras da TVM, com os membros da sua família reunidos. Até se confundia com uma telenovela ou comédia televisiva!

Corrupção ataca Urgências do Hospital Central de Maputo


Corrupção ataca os Serviços de Urgências do Hospital Central de Maputo

Maputo (Canalmoz) – A chamada pequena corrupção está instalada nos Serviços de Urgências do Hospital Central de Maputo, que funcionam na entrada da Avenida “Eduardo Mondlane” daquela unidade sanitária. Um doente que procura socorro naquele sector do HCM pode levar mais de seis horas na sala de espera, sem receber o atendimento médico, depois de ter passado pela recepção e pagar 150 meticais de entrada. Para ser atendido rapidamente – que nem chega a ser tão rápido – é preciso pagar um valor extra aos serventes que recebem as fichas do doente e as encaminham para as salas médicas.
Depois de receber queixas dos utentes daquele hospital, a nossa reportagem esteve presente nos Serviços de Urgência do HCM para observar como tudo se passa.

Apelo ao Santo António


Apelo ao Santo António

Ó meu rico Santo António
Meu santinho Milagreiro
Vê se levas o Zé Sócrates
P'ra junto do Sá Carneiro

Se puderes faz um esforço
Porque o caminho é penoso
Aproveita a viagem
E leva o Durão Barroso

17 de junho de 2010

Quando se zangam as comadres, descobrem-se as verdades...


Quando se zangam as comadres, descobrem-se as verdades...

Canal de Opinião: Por Noé Nhantumbo

…Ou quando o Quarto Poder se exclui e colabora com os lesa-pátria...

Beira (Canalmoz) – Se havia alguma dúvida sobre o que movia a maioria dos jornalistas moçambicanos, um facto aparentemente não ligado a eles e nem por eles iniciado ou investigado teve a virtude de mostrar para todos o tipo de jornalistas que temos.
Ao mesmo tempo veio validar a tese de que temos uma maioria de intelectuais de trazer no bolso, pois para pouco mais servem.
As diferentes abordagens que abundam na imprensa moçambicana, e elaboradas por jornalistas moçambicanos, sobre o alegado treinamento de terroristas em solo moçambicano só podem espantar aos observadores menos atentos.
Quase todos se pronunciam no sentido e em defesa da soberania nacional, sem olhar para o outro lado da mesma questão. Há já muito tempo que se ouvem e se observam sinais inegáveis de todo um procedimento que coloca a defesa da soberania em risco prático e concreto.

Portugal: Manel dos Cromos


Manel dos Cromos

Manuel Santos, conhecido como "Manel dos Cromos", vende e troca cromos em Lisboa desde 1974. Na Estação do Rossio, em Lisboa, vende por estes dias cromos do Mundial 2010 da África do Sul.

Foto@Lusa/Miguel A. Lopes

16 de junho de 2010

Portugal: Estamos a criar 'alunos que não sabem ler, nem escrever'


Estamos a criar 'alunos que não sabem ler, nem escrever'

Maria do Carmo Vieira quer dar uma 'reguada' ao sistema de ensino português: através da Fundação Manuel dos Santos (presidida pelo sociólogo António Barreto), lançou esta semana o ensaio 'O ensino do Português'.

Sem pudor, a professora de Língua Portuguesa - já com 34 anos de experiência - dirige duras críticas ao baixo nível de exigência do actual sistema de ensino, aos professores, aos sucessivos Governos, às escolas. No dia em que arranca a primeira fase dos exames nacionais do ensino secundário, o SAPO foi ouvi-la.

15 de junho de 2010

Mia Couto, apresentou em Lisboa, o seu novo livro "Pensageiro Frequente"


Mia Couto um "Pensageiro Frequente" da LAM

Em pré-lançamento ainda, já que o livro só vai estar à venda daqui por um mês, Mia Couto apresentou esta tarde, em Lisboa, na livraria Buchholz, o seu mais recente livro “ Pensageiro Frequente”. Um conjunto de crónicas que escreveu para a revista Índico, das Linhas Aéreas de Moçambique (LAM).

O autor diz que a bordo de um avião torna-se um pensageiro, ou seja um passageiro que apesar de frequente continua a sentir o mesmo medo a cada viagem. Para entreter o medo põe-se a escrever. Estas crónicas surgem na sequência de alguns desses voos e foram feitas a pensar no passageiro que entre fusos horários procura uma distracção.

São 26 artigos sobre as gentes e terras de Moçambique, textos que viveram numa revista de bordo para “ fazer com que o meu país voasse pelos dedos do viajante, numa visita às múltiplas identidades que coexistem numa única nação. Esse era o serviço daquela escrita.” Agora estão disponíveis num único livro.

Sapo MZ,
15 de Junho de 2010

Novo B.I. tem emblema da República Popular de Moçambique


Novo B.I. tem emblema da República Popular de Moçambique

Todos os bilhetes a que tivemos acesso, último dos quais emitido a 5 de Abril do ano em curso, contêm o mesmo erro. É um erro que, segundo uma fonte da Direcção de Identificação Civil (DIC), já foi detectado e reconhecido pelas autoridades governamentais.

O novo Bilhete de Identidade contém, na parte holográfica, no fundo, emblema do período socialista, com a escrita “República Popular de Moçambique”, ao invés de “República de Moçambique”, o que viola o artigo 1, do capítulo 1, que designa o nosso país “República de Moçambique” e define-o como um Estado independente, soberano, democrático e de justiça social. São, ao todo, cinco emblemas com a escrita “República Popular de Moçambique”: dois grandes e três pequenos.

Polónia: Depois da inundação


Depois da inundação

Um urso de peluche ficou perdido no meio da lama em Wilkow, na Polónia, depois de a vila polaca ter ficado inundada. Milhares de pessoas ficaram desalojadas devido às fortes inundações que têm afectado a Polónia.

Foto@EPA/Wojciech Pacewicz

Verónica Macamo em Portugal em busca de apoio para o parlamento


Verónica Macamo em Portugal em busca de apoio para o parlamento

A presidente da AR é acompanhada pelos chefes das bancadas da Renamo, Maria Angelina Enoque, e do MDM, Lutero Simango, e pelo vice-chefe da bancada da Frelimo, Tobias Dai

Maputo (Canalmoz) – A presidente da Assembleia da República, Verónica Macamo, está de visita a Portugal em busca de cooperação institucional entre os órgãos legislativos dos dois países. Como resultado da visita da presidente da AR a Portugal, a Assembleia da República garante que em breve os dois parlamentos irão “incrementar novas áreas de cooperação, com vista a melhorar o trabalho dos deputados em matérias legislativas e de fiscalização”.

12 de junho de 2010

Portugal: Escolas proíbem roupas curtas e decotadas


Escolas proíbem roupas curtas e decotadas

Rapazes com mais de 13 anos proibidos de usar calções ou raparigas impedidas de envergar minissaias exageradas são regras que se encontram com alguma frequência nos regulamentos internos de escolas públicas e privadas em Portugal.

Numa pesquisa rápida e aleatória na Net, a Lusa descobriu que, por exemplo, o regulamento interno da Escola Dr. Horácio Bento de Gouveia, no Funchal, Madeira, reza que os alunos devem evitar calções de praia, «minissaias exageradas», tops e camisolas de alças, vestuário roto, camisolas demasiado curtas e vestuário de cintura muito descida.

Alfabeto para combater a pobreza – X como Xénon

Alfabeto para combater a pobreza – X como Xénon

Imagino alguns leitores assíduos deste tipo de séries que envolvem todo o alfabeto a fazerem apostas em relação às letras do alfabeto mais difíceis, estilo “quero ver que palavra ele vai inventar agora para o X! Aposto que ali ele vai encalhar...”. Esses leitores subestimam a fertilidade da imaginação dum sociólogo. Na verdade, o mais difícil não é identificar uma palavra útil com essa inicial. O mais difícil é decidir que história contar a partir das várias que são possíveis. Por exemplo, quando comecei a pensar nesta série de textos anotei as primeiras palavras que me ocorreram. Quando chegou a vez do X a primeira palavra que me ocorreu foi xénon porque eu estava a ver o cinema Xenon na janela da minha cabeça. E logo a seguir ocorreram-me dois sentidos. Um etimológico que, na verdade, normalmente é o primeiro que me ocorre; o outro químico.

Alfabeto para combater a pobreza – V como Virtude

Alfabeto para combater a pobreza – V como Virtude

Já abordei a questão da virtude em artigo anterior desta série. Volto aqui à carga porque é importante. Importante em minha opinião, claro. Vamos começar por um exemplo. Há compatriotas entre nós que desde que começaram a pensar meteram na cabeça que a fonte do mal no mundo pode ser encontrada na injustiça. Eles têm em mente a injustiça na distribuição da riqueza dum país. São muito exactos no seu pensamento. Localizam a fonte da injustiça no sistema económico que, após a leitura de Marx, eles chamam de capitalista. Para eles a justiça é um valor e, consequentemente, em nome desse valor eles procuram ajustar a sua vida aos imperativos colocados pela necessidade de acabar com a injustiça no seu mundo. Assim, quando eles olham para o país e para o conjunto de relações sociais que o fazem, o que eles vêem não é simplesmente o país ou esse conjunto de relações sociais. Eles vêem a manifestação da injustiça de modo que quando eles abrem a boca é para chamar atenção a isso bem como à necessidade de se lhe pôr fim.

Alfabeto para combater a pobreza – U como Unidade

Alfabeto para combater a pobreza – U como Unidade

Usiwana / uloyi, diz-se em changana (pobreza é feitiçaria). E é mesmo. O feiticeiro não tem família, não tem onde ir encostar a cabeça quando volta deprimido duma das suas voltas nocturnas à procura de vítimas, não pode, enfim, dar na cara. Outra coisa também não era de esperar. O feiticeiro coloca-se voluntariamente à margem da sociedade pelo que faz sentido, de facto, que a imaginação popular associe a pobreza ao isolamento. Não há pior destino para um Changana do que a perspectiva de morrer sozinho sem ninguém próximo para nos enterrar. Morrer assim é o pior dos destinos. Pode parecer engraçado, mas quando um Changana diz “essa tua mulher vai te enterrar” ou “esses teus vizinhos vão te enterrar”, está a tecer um elogio. Está a constatar que alguém não está a sós no mundo.

Alfabeto para combater a pobreza – T como Trabalho

Alfabeto para combater a pobreza – T como Trabalho

Há quem diga ser possível trabalhar sem resultados; o que raramente acontece é ter resultados sem trabalho. Aí está: trabalho. A palavra trabalho é uma das mais maltratadas do nosso vocabulário social. No tempo colonial já serviu para definir o que era necessário fazer para que pudéssemos ser aceites como humanos. O empreendimento colonial português ganhou uma boa parte da sua coerência graças à regulação do chamado “trabalho indígena” encetada sob orientação lúcida de António Enes. Através desta regulação foi possível não só redefinir institucionalmente o africano como alguém preguiçoso, vivendo da exploração do trabalho da mulher (curiosamente, o mesmo argumento que alguns programas da indústria do desenvolvimento de vez em quando usam) e pouco previdente, como também criar as bases para o estabelecimento do aparelho estatal colonial.

Alfabeto para combater a pobreza – S como Subsidiário

Alfabeto para combater a pobreza – S como Subsidiário

É segundo este princípio que a União Europeia é gerida. O princípio da subsidariedade. É muito simples na sua formulação: os escalões mais baixos do sistema administrativo tomam a maior parte das decisões que lhes dizem respeito. Dito doutro modo: não é da competência dos organismos centrais marcar tarefas para estes escalões. Para ilustrar isto podemos dizer que a ordem de importância na tomada de decisões vai de baixo para cima, isto é comunas, municípios, governos provinciais, regionais, nacionais e Comissão Europeia. No caso de Moçambique, por exemplo, a ordem de importância seria, de baixo para cima, a localidade, depois o distrito, depois a província e finalmente a “nação”. É um princípio que vem já de longa data na Europa e foi, particularmente, reiterado pela reforma protestante na sua revolta contra o centralismo (não democrático) do Vaticano. Em Moçambique temos resquícios disto nas igrejas protestantes que têm nos chamados consistórios (por exemplo, na Igreja Presbiteriana) uma das expressões mais altas da importância dos escalões mais baixos.

Alfabeto para combater a pobreza – R como Revolução

Alfabeto para combater a pobreza – R como Revolução

Não sou marxista, nem nunca realmente tive simpatia por essa ideologia salvo aqueles reflexos normais dos anos gloriosos logo após a independência. A sua mensagem de emancipação económica dos mais desfavorecidos é aliciante e explica, até um certo ponto, porquê gente sensata, bondosa e generosa abraçou o marxismo como uma inevitabilidade histórica para Moçambique. Há, claro, os que nunca souberam e, provavelmente, nunca saberão por que se diziam marxistas na altura, mas esse é um problema que não precisa de nos ocupar. O principal problema do marxismo – e aqui sigo a crítica severa, e polémica, de Karl Popper contra sistemas teleológicos – é justamente esta ideia de que alguém conhece a lógica da história, em nome da qual ele está mesmo disposto a fazer as coisas mais vis a outras pessoas. O mesmo raciocínio influencia a actuação da indústria do desenvolvimento. Tal como o marxismo, a indústria do desenvolvimento tem esta convicção nociva de que sabe qual é o destino da humanidade, exigindo, para o efeito, que a humanidade lhe siga cegamente.

11 de junho de 2010

Alfabeto para combater a pobreza – Q como Quotas

Alfabeto para combater a pobreza – Q como Quotas

Em política é difícil fazer seja o que for sem uma base de conhecimento sólida. No nosso país um dos maiores problemas que temos reside justamente na falta de conhecimento. Não se trata de conhecimento no sentido privilegiado pelo discurso do desenvolvimento de taxa de analfabetismo ou falta de quadros. Esse também é um problema, mas com um pouco de eficiência no uso de recursos humanos resolve-se com relativa facilidade. O conhecimento que tenho em mente aqui é aquele que diz respeito à base sobre a qual assentam as nossas decisões políticas. Por exemplo, quando a polícia elabora um plano de intervenção na luta contra o crime, que ideia tem ela do crime, suas manifestações, grupos etários e profissionais mais propensos a que tipo de actividades criminosas, etc.? Outro exemplo: vamos supor que a Autoridade Tributária constata que os agentes económicos evitam a facturação para não terem que pagar o IVA e, por isso, ela agrava as penalidades na lei; o que sabe a Autoridade sobre o tipo de agentes económicos e circunstâncias em que evitam fazer a facturação?

Alfabeto para combater a pobreza – P como Preferências

Alfabeto para combater a pobreza – P como Preferências

Dizem que a economia é o estudo das preferências enquanto que a sociologia é o estudo das razões que fazem com que as pessoas não possam seguir as suas preferências. É bem capaz de ser assim mesmo. De qualquer maneira, a noção de “preferências”, muitas vezes empregue no sentido de “escolhas” é central à reflexão sobre o que faz uma sociedade mais do que a soma dos indivíduos que a compõem. Em certa medida, o que determina a vida económica e faz a roda do mercado rolar e rolar são as escolhas individuais e colectivas de modo que o funcionamento são duma economia depende largamente da sua capacidade de continuar a proporcionar aos indivíduos a possibilidade de formularem e realizarem escolhas ou preferências. Até aqui nada de especial a observar. A coisa complica-se um bocado quando perguntamos, como aliás devemos sempre perguntar, que condições devem ser satisfeitas para que os indivíduos possam satisfazer as suas preferências.

Alfabeto para combater a pobreza – O como Ordem

Alfabeto para combater a pobreza – O como Ordem

No dia em que a África mandar no mundo uma das primeiras coisas que os nossos líderes políticos terão de mandar à Assembleia Geral das Nações Unidas fazer será de riscar a palavra “ordem” de todos os dicionários e documentos oficiais. É que não há palavra no discurso das ciências sociais, da política e da imaginação popular nos países já desenvolvidos que mais nos humilha do que esta. É uma faca de dois gumes. Quando é no sentido positivo é o que devíamos ter; quando é no sentido negativo é o que descreve aquilo que nos faz falta. Condenados em dois sentidos somos nós. Tenho até vergonha de dizer, mas não há saída, que a minha disciplina académica, a querida Sociologia, contribuiu bastante para emprestar a esta noção esta natureza problemática quando articulada com a nossa condição.

Alfabeto para combater a pobreza – N como Nacionalismo

Alfabeto para combater a pobreza – N como Nacionalismo

Afinal a indústria do desenvolvimento também dorme. Por vezes. Como, por exemplo, quando o nosso país mudou de hino. Aquele pessoal devia estar a dormir ou fechado num seminário qualquer sobre as políticas do género. É que pior demonstração de machismo não pode haver. O nosso hino chama-se “Pátria Amada”. Pátria, de pai. Como é que não houve protestos e ameaças de cortes de fundos se não se eliminasse essa designação tão discriminatória e machista? O pessoal devia estar mesmo a dormir. Pátria? Não é concebível, nos anos que correm, ignorar o papel da mulher e partir-se simplesmente do princípio de que só os homens é que contam na determinação da nossa origem. E isso logo num país com tantos sistemas matrilineares de parentesco!

Alfabeto para combater a pobreza – M como Mercado

Alfabeto para combater a pobreza – M como Mercado

É difícil ser sociólogo sem alimentar tendências imperialistas. Não me refiro, claro, ao tipo de imperialismo, cujo combate e destruição deu corda aos fazedores da nossa independência. Esse Imperialismo é demasiado poderoso para fazer parte do aparato duma disciplina tão simples como a sociologia. Refiro-me mais ao tipo de Imperialismo que se manifesta através da tendência de querer comentar tudo, mesmo quando não fazemos a mínima ideia do que se trata. É um defeito profissional intrínseco à sociologia pelo que nem vou tentar curá-lo. Prefiro render-me completamente e navegar na onda saborosa das certezas que o defeito me injecta. É uma espécie de dopamina que explica, por acaso, donde vem a energia para andar a escrever alfabetos de tudo mais alguma coisa. Dopamina, este neuro-transmissor que por vezes é chamado de hormona da felicidade, soa perigosamente próximo de “dopar” como em fulano de tal estava dopado...

Alfabeto para combater a pobreza – L como Liberdade

Alfabeto para combater a pobreza – L como Liberdade

Vamos supor que a coisa mais importante na vida é a liberdade. Na realidade até porque é, mas por enquanto vamos apenas supor. O que deveríamos fazer para assegurá-la? Formar o melhor exército do mundo para a proteger? Introduzir a disciplina de “liberdade” em todos os níveis do nosso ensino? Formar comités de liberdade que vão regularmente controlar a sua disponibilidade? Emitir títulos de liberdade a serem depositados nos cofres do Banco de Moçambique com garantias do ouro moçambicano que Portugal arrecadou no período colonial no contexto dos pagamentos deferidos aos mineiros moçambicanos? Introduzir, por via dum despacho da Ministra da Função Pública, a obrigatoriedade de fechar todos os documentos oficiais com o slógan “Liberdade acima de tudo”? Ou substituir todas as referências marciais no nosso hino nacional (vencer, combate, luta...) por liberdade, liberdade, libderdade?

Alfabeto para combater a pobreza – J como Justiça

Alfabeto para combater a pobreza – J como Justiça

A Justiça é um dos grandes temas da modernidade política. Todas as ideologias modernas dos últimos trezentos anos recuperam de alguma maneira esta noção, colocando-a no centro da sua reflexão sobre as tarefas para as quais o sistema político é chamado a dar respostas. Há, obviamente, diferenças na maneira como cada ideologia se socorre da justiça. Por exemplo, o Liberalismo na sua forma inicial foi convocado pelos seus defensores para ajudar a defender a santidade da propriedade privada. A ideia era, e continua a ser em certos sectores mais à direita do espectro político, de que a propriedade é o resultado mais visível do trabalho individual pelo que a sua protecção seria um acto de justiça. Protecção era um eufemismo para descrever a liberdade de cada qual usufruir dos frutos do seu trabalho sem peso na consciência. Mesmo entre nós, nos dias de hoje, há gente sensata e mansinha que acredita seriamente que a riqueza que tem é simplesmente fruto do seu esforço e que, por isso, devia desfrutá-la sem peso nenhum na consciência.

Alfabeto para combater a pobreza – I como Igualdade

Alfabeto para combater a pobreza – I como Igualdade

Não gosto de citações académicas em textos de jornal. Mas esta tem que ser: “Se olharmos para a sociedade humana de forma calma e desinteressada à primeira vista vai ser como se ela nos estivesse a mostrar apenas a violência dos poderosos e a opressão dos fracos. A nossa mente fica chocada pela crueldade de uns, ou é induzida a lamentar a cegueira de outros”. Antes de prosseguir com a citação, que é longa, talvez seja importante dar ao leitor uma informação importante. Quem escreveu isto foi Jean-Jacques Rousseau, grande pensador francês do século XVIII. E prosseguiu: “E como nada é menos permanente na vida como essas relações externas que são muitas vezes produzidas por acidente mais do que por sabedoria e que são chamadas fraqueza ou poder, riqueza ou pobreza, todas as instituições humanas parecem à primeira vista se fundarem meramente sobre bancos de areia movediça. Só olhando de mais perto, tirando o pó e a areia que envolve o edifício, que nos damos conta da base imóvel sobre a qual ele se ergue, e aprendemos a respeitar as suas fundações”. Mais uma pequena pausa para dizer que Rousseau escreveu isto num texto sobre a origem da desigualidade entre os homens.

Alfabeto para combater a pobreza – H como Humanismo

Alfabeto para combater a pobreza – H como Humanismo

Nnca ouvi, nem li, em alguma parte que finalistas duma escola privada qualquer da cidade de Maputo resolveram, como forma de angariar fundos para o baile final, dar aulas gratuitas de explicação à crianças internadas em hospitais ou em situação difícil, carregar o saco dos deficientes de regresso à casa após a visita às lojas muçulmanas na sexta-feira ou distribuir a roupa ou brinquedos a mais que têm em casa aos necessitados, tudo isso em troca do compromisso dos pais de lhes financiar o baile. Repito: nunca ouvi, nem li, mas pode ser que já tenha acontecido. O que sei que tem acontecido, e aí abano a cabeça incrédulo, é que finalistas se metam em concorrência com os meninos da rua invadindo os parques de estacionamento para também lavarem carros em troca de pagamento para poderem financiar o seu baile final. O leitor também devia abanar a cabeça incrédulo, ou envergonhar-se, se ao ver isso tiver achado a ideia genial.

Alfabeto para combater a pobreza – G como Género

Alfabeto para combater a pobreza – G como Género

É claro que numa reflexão sobre a pobreza a questão do género não pode faltar. Um dia quando se escrever a história geral das grandes halucinações no mundo o capítulo sobre a indústria do desenvolvimento vai registar o género como uma das maiores descobertas feitas por esta indústria. O leitor sem imaginação vai se perguntar que parvoíce é esta já que género sempre existiu. O leitor com imaginação vai sorrir e dizer sim, até porque estou casado com uma delas. A leitora vai se insurgir e dizer, bem característico do machismo que permeia a nossa sociedade; o único leitor que o autor imagina só pode ser homem. Bom, não é bem assim. Estão todos enganados. Sempre existiram homens e mulheres. A grande novidade introduzida pela indústria do desenvolvimento foi de que a posição ocupada por homens e mulheres na sociedade era estruturalmente desigual e, no fundo, a principal causa da pobreza feminina que, por extrapolação – já que as mulheres nos países pobres é que fazem tudo – determinava a pobreza desses países.

Alfabeto para combater a pobreza – F como Felicidade

Alfabeto para combater a pobreza – F como Felicidade

No dia em que eu concorrer à Presidência da República – nunca percebi porque é que as pessoas preferem sempre imaginar-se como Ministros – vai ser na boleia dum partido – que eu próprio vou criar, claro, cujo programa vai ser de aumentar a felicidade do povo. A ideia ainda não está amadurecida porque ainda estou a reflectir sobre o que constitui a felicidade do povo. Nos momentos mais étnicos da minha reflexão, aqueles momentos em que tento pensar como um Changana, imagino a felicidade como sendo feita de três refeições diárias com carne à fartura, revisão da questão da monogamia no código da família e a instauração dum processo contra as autoridades coloniais portuguesas que confiscaram o gado do meu avô em Panda-Mudjekeni no tempo em que as vacas que tínhamos eram gordas.

Alfabeto para combater a pobreza – E como Emancipação

Alfabeto para combater a pobreza – E como Emancipação

Eu sempre associo a noção de emancipação não só à liberdade individual – que é importante – mas também a um melhor conhecimento da condição humana. Não é, de resto, à toa que a noção de emancipação aparece associada ao que é chamado de Iluminismo na Europa. Este momento histórico está profundamente ligado à soltura da verdade das garras ciumentas da razão obscurantista das instituições religiosas. Espero que o leitor não me entenda mal. Não estou a dizer que a igreja em si era obscurantista – embora fosse, e continue a ser, até um certo ponto – mas sim que a prerrogativa que ela reclamava para si própria de determinar pela graça conferida por Deus ao clero – segundo o próprio clero! – o que constitui a verdade ou não, tinha feito a sociedade humana refém do poder religioso. Emancipação, nesse contexto, significava não só a prerrogativa de cada um de nós de procurar a verdade como também o questionamento da prerrogativa de outrem de ser o detentor da verdade.

Alfabeto para combater a pobreza – D como Dignidade

Alfabeto para combater a pobreza – D como Dignidade

Não ponho as minhas mãos no fogo, mas arrisco este palpite: pior do que ser pobre, mas muito pior mesmo, é ver a sua dignidade violada. A sério. Um indivíduo pode não ter dinheiro suficiente para apanhar o “chapa”, ir à cidade e meter o requerimento para seja lá o que for; pode ter que sair lá de Mahlampswene, caminhar sob o sol ardente de Março e Abril, fazer depender o ritmo da sua caminhada do número de sombras e da rapidez com que pode galgar a distância sem entregar a pobre sola do seu pé ao prazer sádico da areia quente do nosso verão e ir formar a bicha até chegar a sua vez; ele pode passar por tudo isso e morder os lábios porque sabe que esse é o significado da pobreza material. Não obstante, o que ele não pode engolir – porque vai se formar um nó seco na sua garganta – é que chegado ao balcão algum funcionário qualquer, gozando da prerrogativa de estar do outro lado do balcão, portanto, na companhia confortável da razão oficial, o trate sem consideração, o mande esperar enquanto atende uma pessoa “importante”, “estrutura” ou alguém que lhe passe algumas notas da nova família por entre as folhas do requerimento.

Alfabeto para combater a pobreza – C como Comunidade

Alfabeto para combater a pobreza – C como Comunidade

Uma das imagens mais bonitas e impressionantes do nosso país é-nos proporcionada aos domingos de manhã. A gente vê nas cidades e nas zonas rurais filas e filas de gente vestida da mesma maneira com diferenças de cor que marcam a pertença a diferentes igrejas. Não sou religioso, nem acho a religião particularmente útil para seja o que for, mas essas pessoas impressionam-me. Elas documentam um momento bastante particular da nossa condição humana que consiste na vida em comunidade. Não somos nómadas, mas sim gente que vive em comunidade. Somos gente que partilha a tristeza, a alegria, a esperança, a riqueza e a pobreza com outros. Essas coisas todas ganham sentido no contexto da vida com outros. Mesmo aquele que quer gingar só o pode fazer, e tirar satisfação daí, com referência a uma comunidade.

Alfabeto para combater a pobreza – B como Bem-estar

Alfabeto para combater a pobreza – B como Bem-estar

A Psicologia não é o tipo de empreendimento científico que eu havia de aconselhar a seja quem fosse a seguir. Mas existe e existem pessoas que a seguem. Ainda bem que é assim, pois eu próprio não confio nas minhas preferências. De qualquer maneira, há sempre uma ou duas coisas que podemos aproveitar de coisas que não nos interessam como exercício intelectual. Uma delas é a ideia desenvolvida por alguns psicólogos sobre a sugestão. É incrível como uma série de palavras bonitas, encorajadoras e positivas podem afectar alguém de forma positiva e, inclusivamente, elevar o seu desempenho. Se eu, por exemplo, dissesse ao líder da Renamo, Afonso Dhlakama, minutos antes de entrar numa reunião para discutir o resultado das últimas eleições com o partido no poder, que ele é um dos raros exemplos de líder rebelde com visão, moderado nas suas posições, conciliador e curvado até ao chão pelo enorme peso da responsabilidade que o destino do povo moçambicano unido do Rovuma ao Maputo representa para a sua frágil coluna vertebral, aposto que a conversa que ele teria logo a seguir seria muito mais moderada e ponderada do que o costume. É a nossa condição humana.

Alfabeto para combater a pobreza – A como Autonomia


Alfabeto para combater a pobreza – A como Autonomia

Não é impossível, mas é formidável. Refiro-me à tarefa de definir a pobreza. Quando é que alguém é pobre? Quando não tem o suficiente para comer? E quando é que o que temos para comer não é suficiente? E para vestir? Telhado, cama, diversão, família, contactos sociais, etc.? Isso também entra no cálculo da pobreza? Não estou a levantar questões novas. Desde que existem esforços organizados de socorrer as pessoas em dificuldades existe também o debate sobre como definir essas dificuldades. No fundo, até podemos dizer que todo o esforço de desenvolvimento – essa palavra mágica da nossa perdição – tem sido uma tentativa gigantesca de definir esta noção.

10 de junho de 2010

África: Os Líderes mas influentes (Thomas Sankara)

Thomas Sankara (1949-1987)

Defensor activo da saúde e dos direitos das mulheres, ficou conhecido pelo seu carisma. Foi líder político e primeiro Presidente do Burquina Faso, deposto e assassinado durante um golpe de estado.

África: Os Líderes mas influentes (Thomas Yayi Boni)

Thomas Yayi Boni (1952)

É o actual Presidente da República do Benin. Chegou a ser o presidente do Banco da África Ocidental.

"Nação Pária" é o título da obra do escritor moçambicano Adelino Timóteo


Homens de uma nação que não existe

“Nação Pária” de Adelino Timóteo

Uma terra que desaparece é o ponto de partida para “Nação Pária”, um livro de prosa do jornalista Adelino Timóteo. A obra questiona a organização social de uma nação e o que os homens têm feito para a preservação da terra.

“Pode uma terra desaparecer?”. Com esta pergunta, Adelino Timóteo regressa à problemática de “um país que não existe”, iniciado no nacionalismo moçambicano dos anos 1950/60, onde José Craveirinha se apresenta: “vim de qualquer parte/ de uma nação que ainda não existe...” e recupera também “um país que deixa de existir”, sugerido por Mia Couto em “Último Voo de Flamingo”.

Em “Nação Pária”, o autor faz um retorno aos medos de uma nação deprimida devido aos desentendimentos do seu próprio povo. Mas esta é uma hipótese, como se narra no livro. “Hipótese segunda: se atribuía o mistério às guerras intestinais, lá iam mais de duas gerações.”

2 de junho de 2010

Portugal: Feira do Livro do Porto


Feira do Livro do Porto

A Avenida dos Aliados recebe até 20 de Junho a 80ª edição da Feira do Livro. São 126 pavilhões, 87 expositores e muitas promoções.

Foto@SAPO/Alice Barcellos

Dubai: A todo o pano


A todo o pano

Tripulantes de um veleiro treinam para a regata al-Gaffal junto à ilha Sur Bin Na'air, na costa do Dubai. Trata-se da maior regata do mundo e será levada a cabo sob o patrocínio do xeique Hamdan Bin Rashid Al Maktoum, governante do Dubai e Ministro das Finanças dos Emiratos Árabes Unidos, com 3000 participantes.


Foto@EPA/Ali Haider