25 de junho de 2015

Chamaram-lhes retornados (Helena Matos)



Foi no último dia de Março, há 40 anos. Nascia o IARN. Os retornados já estavam aí, mas ainda não se chamavam retornados. Muitos vindos de Moçambique, onde contra eles se fizeram as leis mais abjectas

Em 1975 uma palavra entra na actualidade portuguesa: retornados. Há precisamente 40 anos, os colonos, os brancos, os africanistas, os europeus, os ultramarinos, os residentes ou os metropolitanos do Verão de 1974 que entretanto tinham passado a desalojados, regressados, repatriados, fugitivos, deslocados e refugiados, tornam-se por fim retornados.
Mas antes de lhes reconhecerem a existência, os responsáveis políticos e militares discutiram em Lisboa a possibilidade de os proibir de deixar as antigas colónias e acusaram-nos de colonialismo e de reaccionarismo por quererem fugir.

“Os retornados reconstruíram Portugal” (Fernando Dacosta)



Dramaturgo, jornalista, formado em Filologia Românica pela Faculdade de Letras de Lisboa e galardoado com vários prémios, Fernando Dacosta é mais conhecido pelas suas obras sobre o Estado Novo. O DIABO entrevistou-o sobre a vida durante essa época, sobre a republicação da sua obra “Os Retornados Estão a Mudar Portugal” e o seu mais recente livro sobre Natália Correia.
O DIABO – Como surgiu a ideia de escrever sobre os retornados?
Fernando Dacosta – A questão dos retornados surgiu porque eu viajava muito pelo País e comecei a notar que, pelas estradas, havia muitos cafés novos com comida e música africanas e achei interessante. Contei isso ao Prof. Agostinho da Silva, com quem me dava muito bem, e ele disse: “Mas você ainda não percebeu que Portugal vai ser reconstruído pelos retornados”. Foi aí que decidi explorar esse fenómeno. Estava então no semanário “O Jornal”, que era mais de esquerda, e propus fazer essa reportagem. No entanto, o editor responsável, que era ferozmente anti-retornados porque achava que eles eram todos reaccionários, disse-me: “o sr. nem pense que se vai ocupar dessa cambada de fascistas”.

4 Países Libertados Porugal, Guiné/Bissau, Angola, Moçambique

21 de junho de 2015

3 de junho de 2015

Portugal: Serra do Marão

O choque cultural do "retorno": A vida em Moçambique e a vida em Portugal, uma narrativa na 1ª pessoa



Introdução

Este trabalho centra-se na história verídica do seu autor, narrada na primeira pessoa, e onde se irão encontrar alguns relatos que encontram equivalência em algumas das situações expressas no texto que à frente transcrevo, e que é nota introdutória do livro de Rita Garcia. A narrativa vai incidir sobre a cultura e modos de vida em Lourenço Marques (Moçambique) nos anos pré 25 de Abril de 1974, e posteriormente vai situar-se numa pequena vila do norte de Portugal, de nome Caldas de Vizela, local de onde era oriundo o pai do autor e onde residia grande parte da família deste, sendo também o local para onde o autor foi residir após a saída de Lourenço Marques. A principal intenção deste trabalho é dar a conhecer a cultura da classe média residente em Lourenço Marques nos inícios da década de 70 e que na sua quase totalidade era constituída por pessoas de raça branca, dando algumas notas sobre a construção nacional da identidade neste país. Tenho também como segunda intenção e ambição de desmistificar um pouco o conceito que existe na sociedade portuguesa, e que considero pouco correcto, de que os “retornados” eram “colonialistas exploradores dos povos africanos”, correndo o risco de estar errado, considero ser um conceito formado pela construção duma entidade social nacional pós 25 de Abril em que havia a necessidade extrema de condenar tudo o que estava relacionado com o antigo regime, sendo os “retornados” catalogados como colaboradores desse mesmo regime. Não tenho qualquer intenção de transmitir aqui um discurso ou mensagem politica ou partidária, apenas pretendo transmitir um pouco da cultura onde nasci e dar a conhecer uma realidade que foi de alguma maneira desconhecida pela maioria dos portugueses residentes em Portugal.

Os últimos filhos do Império (São José Almeida)



Chegaram em barcos e aviões num movimento que durou poucos meses. Ficaram conhecidos como os “retornados”. É meio milhão de pessoas que ajudaram a construir a democracia e o Estado social e cuja integração na metrópole é uma história de sucesso que a Revista 2 agora conta.

Meio milhão de portugueses foram integrados na sociedade portuguesa durante o período que vai do Verão de 1974 ao Verão de 1975, fruto da descolonização imposta pelo fim da ditadura do Estado Novo. É um movimento de integração populacional único que trouxe uma massa humana qualificada que contribuiu de forma decisiva para a construção do Estado democrático. Para a história ficaram conhecidos como os “retornados”. Na realidade, são a última geração de portugueses que viveram e cresceram na África colonial portuguesa.

“É um dos momentos mais extraordinários da história portuguesa do século passado, a capacidade de integrar 500 mil pessoas que chegam em poucos meses”, defende o empresário Alexandre Relvas, nascido em Luanda, para quem o movimento de integração dos retornados “correu tão bem que não é suficientemente valorizado, a sociedade portuguesa não valoriza essa capacidade enorme que teve”.

Retornados: 40 anos depois recomeçar do zero



Conheça as histórias de pessoas da região que deixaram as ex-colónias de África depois do 25 de Abril
Retornados: voltar sem nada e recomeçar do zero
África era o sonho e a paixão de muitos portugueses. Durante décadas, deixaram para trás tudo o que conheciam e lançaram-se à aventura, à procura de uma vida melhor nos territórios ultramarinos. Foram essas pessoas que ajudaram as ex-colónias a desenvolver-se, que aí incentivaram a agricultura e o comércio. Até ao dia em que o sonho se esfumou. O 25 de Abril de 1974 pôs fim à Guerra Colonial e abriu portas ao processo de descolonização de territórios como Angola, Moçambique, Guiné, Timor e Cabo-Verde. A instabilidade e a insegurança cresceram e cerca de meio milhão de pessoas optou por fugir para Portugal, entre o Verão de 1974 e o de 1975. A maioria chegava com nada ou quase nada, deixando para trás casas, carros, fazendas, empresas, prédios, roupas e dinheiro. Muitos ainda embarcaram haveres em contentores e caixotes, mas grande parte nunca chegou ou foi saqueada. Cá deparam-se com um país mais atrasado e com uma mentalidade mais fechada.
Encontraram poucos apoios, mas mesmo assim a maioria conseguiu reerguer-se rapidamente. Foram muitos os nomes que lhes chamaram, desde repatriados, refugiados, fugitivos, desalojados, espoliados... O que ficou para a história foi só um: retornados. Esta semana, contamos-lhe algumas histórias de quem perdeu tudo, arregaçou as mangas e recomeçou, quase do zero.

“7 de Setembro de 1974: O último grito de portugalidade em Moçambique”



O Acordo de Lusaka foi assinado entre o Governo português e a Frelimo, contra tudo o que tinha sido dito no Programa do MFA e pelos Generais Spínola e Costa Gomes
No dia 7 de Setembro de 1974, um levantamento popular exigia que o povo moçambicano fosse ouvido em plebiscito, mas os golpistas de Abril desrespeitaram o previamente acordado e entregaram Moçambique à Frelimo. Clotilde Mesquitela (1924 – 2005) registou essa revolta no livro “7 de Setembro: Moçambique – memórias de uma revolução”, agora republicado pela Branco Editores. O DIABO entrevistou Pedro Mesquitela, filho da autora.

O DIABO – Como devemos ver este livro?

Pedro Mesquitela – Este livro deve ser visto como uma radiografia de um momento histórico, com evidentes componentes emocionais por parte da autora, mas sempre com uma visão de Portugalidade que é inegável, e, tanto quanto a memória lhe permitiu, um relato fiel do que realmente aconteceu em Moçambique entre 7 e 11 de Setembro de 1974.

Moçambique, 7 de Setembro de 1974: os dias do fim



Durante três dias essa vaga alteou-se e chegou a pensar-se que chegaria à praia. Ao terceiro dia, abateu-se, para não mais se levantar, não sem que tivessem sido feitas novas promessas e garantias vãs

A 7 de Setembro de 1974 foram assinados na capital da Zâmbia, entre o Estado Português e a Frente de Libertação de Moçambique, o denominado Acordo de Lusaka. Neste acordo o Estado Português não só reconheceu formalmente o ‘direito do povo de Moçambique à independência’ como acordou – ‘em consequência’, escreve-se algumas vezes, sem muito respeito pela lógica – a data e os passos da transferência para a FRELIMO da soberania que detinha sobre o território de Moçambique.