10 de junho de 2021

Filha de Franco Nogueira doa espólio nunca visto por historiadores (Bárbara Reis)

 


É o maior espólio alguma vez oferecido ao arquivo do Instituto Diplomático. São milhares de documentos, talvez mais de um milhão. O PÚBLICO leu algumas centenas.

Rodeada por dragões chineses e cartas secretas do Estado Novo, Aida Franco Nogueira abre caminho pela sala-de-estar do apartamento onde o seu pai foi preso no Verão Quente de 1975. É preciso andar com cuidado. Os caixotes, arquivadores, sacos, pastas, malas e torres de papel cobrem tudo em todas as direcções. E as marquises estão cheias.

Vinte e cinco anos depois da morte de Alberto Franco Nogueira, leal ministro e amigo de António de Oliveira Salazar, a filha decidiu doar o seu espólio ao Arquivo Diplomático do Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE). O gesto será formalizado na cerimónia de evocação dos 100 anos do nascimento do diplomata, hoje às 18h, na Biblioteca da Rainha, no Palácio das Necessidades.

O auto de doação não é minucioso — seriam necessários anos de trabalho. Na casa do Restelo, em Lisboa, para onde a família Franco Nogueira se mudou em 1968, há centenas de milhares de documentos, talvez mais de um milhão. Todos, menos a correspondência privada (como as cartas trocadas entre Alberto e Vera Wang Franco Nogueira, a sua mulher), são património do Estado a partir de hoje e, dentro de alguns meses, estarão disponíveis para consulta pública.

À excepção das pessoas a quem o próprio Franco Nogueira possa ter mostrado os seus papéis, o espólio nunca foi lido por nenhum historiador ou especialista. Há investigadores que procuram há anos documentos concretos do último chefe da diplomacia de Salazar — e rosto oficial da defesa do colonialismo na década de 1960, quando a ideia já era tida como inaceitável e anacrónica pela maioria dos Estados-membros das Nações Unidas.

Aida Franco Nogueira, que trabalhou na PLMJ durante 20 anos e hoje é advogada independente e tradutora, começou há dois meses a organizar os papéis do pai. O espólio atravessa meio século e vai, pelo menos, de 1946 a 1990. “Infelizmente, o meu pai não era muito organizado. Sabia onde estava cada papelinho e notava sempre que alguém mexia em algum, nem que fosse para o endireitar. Mas cá em casa o escritório foi sempre conhecido como ‘o caos’: ‘Está no caos’, ‘aqui é o caos’...”

A primeira tarefa foi agrupar a documentação em grandes temas: a pilha dos papéis “secretos”, “secretíssimos” e “confidencialíssimos”, a pilha dos originais de livros publicados, a pilha dos manuscritos de livros com títulos desconhecidos, a pilha da correspondência com a família, a pilha da correspondência política, a pilha das cartas do exílio em Londres, a pilha da crise de Goa, a pilha dos recortes de imprensa, a pilha dos discursos, a pilha das Nações Unidas, a pilha das fotografias… “Não tenho um sistema. Vou vendo o que são os papéis e vou abrindo pilhas novas. Quero dar os papéis ao Arquivo Diplomático minimamente organizados.”

O estilo, a garagem e o homem

A tarefa é difícil por três razões. A primeira é o estilo de Franco Nogueira, que parece ter-se preocupado pouco — ou nada — com o futuro dos seus papéis. “O meu pai tinha zero de arquivista”, diz a filha.

Após ler centenas de cartas e telegramas — uma ínfima parcela do espólio —, fica-se com a ideia de que os papéis são a acumulação de anos de despacho quotidiano e que não foram guardados com uma intenção ou para memória futura. Não parece, também, terem sido seleccionados para a escrita dos muitos livros que o diplomata publicou — o último em 1992, pouco antes de morrer. Mas isso só será possível confirmar com a leitura do conjunto.

Eu, Salazar. O homem, a história e a ficção sob os ecos da revolução

Franco Nogueira fala pouco neste espólio — lê sobretudo o que os outros lhe dizem. Mas há um diário inédito que começou a escrever mal chegou a Tóquio, em Janeiro de 1946, que impressionou a filha. “Tem um sentido de humor espectacular, é subtil e não tem adjectivos. Sou suspeita, sou filha e muito admiradora, mas acho magistral”, diz Aida Franco Nogueira, com o original de Diário do Japão na mão. Este Verão, quando o deu a ler à mãe, ouviu uma resposta diferente: “‘Não tem nada de político, é muito pessoal, não tem interesse nenhum’, disse a minha mãe.” O embaixador José Freitas Ferraz, director do Instituto Diplomático, já o leu e discorda. “Tem uma prosa muito cinematográfica, muito bonita. Logo nas primeiras linhas, quando ele conta a chegada a Tóquio: salta de uma carrinha militar com duas malas na mão e é deixado sozinho numa rua. É um depoimento escrito por um diplomata que chega ao Japão a seguir ao fim da II Guerra Mundial para o seu primeiro posto no estrangeiro. O armistício tinha sido assinado há quatro meses. Tóquio está completamente destruída e, pouco a pouco, ele dá conta da reconstrução da cidade.”

O espólio inclui uma pasta de pele com o monograma dourado gravado na frente. Terá sido nela que Franco Nogueira foi levando para casa muitos dos papéis que agora vão ser doados, e que ali ficaram, talvez para ler ou responder à noite, amontoados em enormes pilhas no “escritório-caos”, e que acabariam em gavetas e, mais tarde, caixas de cartão.

Não parece haver um fio condutor, nem temas ou pessoas de eleição. Há centenas de cartas de embaixadores, em diferentes postos e continentes, há cartas de ministros e pelo menos um manuscrito de Salazar (de 25 de Março de 1965), correspondência de várias personalidades da elite da época, mas também de anónimos, pessoas que escrevem a elogiar um discurso ou uma entrevista. Há cartas escritas à mão e classificadas no topo como “secretíssimo”, mas também telegramas do MNE “ostensivos” (os que podem ser vistos por qualquer diplomata). Uns são dirigidos ao “ministro”, outros ao “embaixador”, outros tratam Franco Nogueira por “tu”. Aqui e ali, há um “dear Alberto” ou “Dear Mr. President”, do período em que foi administrador da Companhia dos Caminhos de Ferro de Benguela.

Um arquivo plural

O segundo desafio da organização do espólio tem a ver com as mudanças de lugar. Algumas caixas vieram da casa da Avenida Infante Santo para o Restelo e todas passaram as últimas décadas na garagem de uma casa de Cascais. Foi por causa das obras nessa casa, iniciadas em Agosto, que a filha transportou tudo de volta para Lisboa, obrigando a família a decidir sobre o destino definitivo dos papéis.

O terceiro tem a ver com a história profissional: “Franco Nogueira não foi só diplomata e ministro. Foi professor, foi crítico literário, foi escritor, foi biógrafo, foi pensador, foi administrador de empresas”, diz Margarida Lages, directora do Arquivo e da Biblioteca do MNE. “Vieram caixas daqui e dali, dos vários lugares onde o meu pai trabalhou e que ele ia trazendo para casa à medida que mudava de vida”, diz a filha. Por ser um acervo de várias proveniências, é aquilo a que os técnicos chamam um “arquivo plural”.

Foi na Primavera, numa ida à biblioteca do MNE, que Aida Franco Nogueira decidiu doar tudo ao Estado. Estava na sala de leitura quando ouviu, mais do que uma vez, jovens diplomatas pedirem livros do pai. “‘Queria aquele livro do Franco Nogueira’, ‘Franco Nogueira aqui’, ‘Franco Nogueira ali’... Fiquei espantada. Percebi que era ali que os papéis do meu pai tinham de estar. Falei com a minha mãe e ela disse: ‘Se achas que sim, está bem, mas primeiro quero vê-los todos, um a um’.” Era isso que as duas tinham começado a fazer quando, no fim de Agosto, Aida Franco Nogueira recebeu um telefonema do lar a comunicar a morte da mãe, aos 90 anos. “Morreu com os papéis no colo — literalmente.”

Nos anos 1990, no fim do seu mandato como ministro dos Negócios Estrangeiros, José Manuel Durão Barroso comprou à família os livros de Franco Nogueira, que hoje fazem parte do catálogo da biblioteca do Instituto Diplomático, instalado na parte sul do Palácio das Necessidades. A seguir, já no mandato de Jaime Gama, foram feitos armários para os arrumar e abrir à leitura pública. Há pelo menos quatro anos que o MNE demonstrou interesse em receber o que faltava — os papéis. “Franco Nogueira chegou aqui com 23 anos e saiu de cá já depois dos 50. Esta era a casa dele”, diz Freitas Ferraz. Quando poderá ser consultado? “Na Primavera já deverá haver documentos disponíveis, mas a organização final, dada a dimensão, demorará anos”, prevê Margarida Lages. “Este é — de longe — o maior arquivo pessoal que alguma vez recebemos.”

O espólio

Diz-se muitas vezes que Franco Nogueira era um homem “complexo”. Foi considerado um possível sucessor de Salazar, mas sempre gerou desconfiança dentro do regime. Nacionalista conservador, defendeu a “política africana” da ditadura — o colonialismo — de forma “enérgica e obstinada” com “ardor e convicção” (Bernardo Futscher Pereira, Crepúsculo do Colonialismo – A Diplomacia do Estado Novo, Dom Quixote, 2017) e intervenções “catastrofistas” (Filipe Ribeiro de Meneses, Salazar – Uma Biografia Política, Dom Quixote, 2010). Hoje, muitos diplomatas da democracia, tanto da direita como da esquerda, o reconhecem como um grande diplomata. “Na defesa dessa política intransigente, votada ao fracasso mais tarde ou mais cedo, Franco Nogueira evidenciou dotes excepcionais”, escreve Bernardo Futscher Pereira, que é embaixador e neste momento assessor diplomático do primeiro-ministro, António Costa. “Imprimiu à acção diplomática um novo estilo, mais agressivo, mais público, mais emotivo, ao mesmo tempo que tudo fazia para semear a divisão entre os seus adversários.” Resume o diplomata-historiador: “Colocou um brilhante tacticismo ao serviço de uma estratégia condenada.” Mas antes faz uma confissão: “Custa a crer que, no seu íntimo, Franco Nogueira não considerasse a defesa do Ultramar uma causa perdida. A própria PIDE reportou a Salazar que o novo ministro estava ‘pessimista’.”

Ao mesmo tempo, Franco Nogueira publicara nos jornais críticas de livros de autores proibidos pela censura, tinha amigos anti-salazaristas e mantinha contactos próximos com jornalistas pouco alinhados com o regime. Além disso, foi ele que propôs — e em 1963 quase convenceu Salazar — que se fizesse um referendo à “política ultramarina” do governo, uma ideia que algumas alas do regime nunca lhe terão perdoado. Escreve Jaime Nogueira Pinto, seu amigo e, como ele, admirador de Salazar: “Para uns, [era] um tecnocrata dos Negócios Estrangeiros, um bom profissional que se limitava a executar, com brio, uma política externa em que talvez nem acreditasse muito; para outros, um convertido por Salazar aos seus pontos de vista; para alguns, um republicano patriota, com aquela costela de tradição laica e ultramarinista da I República” (O Fim do Estado Novo e o 25 de Abril, Difel, 1995). E acrescenta: “É curioso, em face do depois sucedido [oito meses de prisão durante o PREC], que Franco Nogueira era figura suspeita aos olhos da chamada ‘extrema-direita’.”

No artigo Franco Nogueira: Argumentação e Obstinação, publicado no livro Diplomacia e Política Externa, Conferências (2012-2013), Jaime Gama, que foi MNE duas vezes em governos socialistas, descreve-o assim: “Não é dedutível do pensamento de Franco Nogueira a apologia de uma ditadura como sistema político […]. Franco Nogueira não é um ideólogo de extrema-direita, não é um paladino do totalitarismo com ideal salvífico, é um nacionalista pragmático e um céptico com convicções.”

Na casa do Restelo há uma carta “pessoal e urgente” de Norberto Lopes, director do Diário de Lisboa, que, incrédulo, envia ao ministro a cópia do “comentário mutilado” pela censura. De uma coluna de jornal com 70 linhas, só 20 tinham sobrevivido ao lápis azul. “Confesso-lhe que tive de abrir mais os olhos e limpar as lentes dos óculos para acreditar. Não lhe parece que há nesta atitude da censura um exagero e uma incompreensão inexplicáveis?”

À procura de um fio condutor

Na sala-de-estar dos pais — cheia de fotografias da família, mas só uma de Salazar —, Aida Franco Nogueira procura um metro quadrado livre no chão. Sentadas no meio das caixas, é aqui que lemos centenas de papéis durante alguns dias, horas seguidas, de manhã à noite.

Às de José Azeredo Perdigão, primeiro presidente da Fundação Calouste Gulbenkian, segue-se uma carta de Luís Pinto Coelho, que parte nesse dia para o Brasil “tentar fazer vida nova”. Depois surge um “relato secreto” de uma conversa com o embaixador dos EUA em Portugal, Burke Elbrick; uma nota simpática de Lord Colyton; ofícios da PIDE; relatórios (de 20 e 30 páginas) de Jorge Jardim — o homem-de-mão e agente especial de Salazar para África que respondia directamente ao ditador — contando a visita ao Malawi “da Sra. Rebello de Sousa”, mulher do governador de Moçambique, Baltazar Rebello de Sousa, pais do actual Presidente da República. A carta seguinte começa com um “my dear Alberto” — é o embaixador britânico a despedir-se. Muitas são pedidos para promoção, mudança de posto ou aumentos no salário, ou pedidos de trabalho para o marido ou um filho. Lemos uma autorização para a família Franco Nogueira usar a piscina do forte de São Julião da Barra e logo a seguir o pedido de um embaixador que precisa de adido militar “autêntico”. Há relatos de “conversas confidenciais” com estudantes do MPLA em Washington e um telegrama secreto cor-de-rosa (original, portanto) da delegação portuguesa junto da NATO.

Há segredos que expiraram há anos e protagonistas com títulos que já não existem, como o rei de Barotseland. Mas também há documentos recentes, como as cartas de 1992 para angariar fundos para a compra de documentos e objectos “pertencentes ao Doutor Oliveira Salazar” e sobre os quais Franco Nogueira escreve a Pedro Queiroz Pereira (que lhe dá um milhão de escudos) e a José Blanco, administrador da Gulbenkian (que delicadamente lhe diz não). Há uma acta da reunião do Grupo de Reflexão Estratégica do Ministério da Defesa do qual Franco Nogueira tomou parte em 1990 e, no extremo oposto, quatro longos telegramas confidenciais de Tóquio de 1947, 1948 e 1949 (estes, sim, políticos). Há cartas sobre a Base das Lajes e sobre o mau estar com o Vaticano a seguir à visita do Papa a Bombaim após a queda de Goa (“não sei ainda ao certo qual é a verdadeira opinião do governo sobre eventual visita do Papa” a Portugal, queixa-se o embaixador de Portugal junto da Santa Sé) — a carta é de Março de 1966 e chega a Franco Nogueira com um cartão manuscrito de Salazar de Junho de 1966 dizendo que se esqueceu de a reenviar… Há o relato de uma conversa sobre Moçambique “com o homem que costuma falar com o R. de Sousa”; uma carta “confidencial” de Franco Nogueira para Salazar; um rascunho manuscrito em inglês sobre o convite ao Presidente da Indonésia, Sukarno, e as “friendly ties” que uniam os dois países; um telegrama sobre o padre incómodo que criticava as acções militares dos portugueses contra os civis em Moçambique e a quem era “preciso chamar a atenção”; uma carta a dar “contidos pêsames” pela morte da mãe; outra sobre a partida dos “elementos da ‘Operação Gralha’ para Moçambique” e a forma de lhes “entregar o restante da gratificação”. Por esta altura, o espanhol Miguel Loria conta ao ministro que está há 55 dias em África “como combinado” e vai tentar fazer em Angola e Moçambique “as reportagens que interessam” — o dinheiro e o tempo que ambos calcularam parecem correctos.

Cartas enigmáticas

Sobre algumas cartas, é conhecido o fim da história. Noutros casos não. Há cartas enigmáticas sobre o “programa de envio material especial”, um aerograma “muito secreto” sobre uma reunião com um dirigente do Ordine Nuovo, da extrema-direita fascista italiana, dois relatórios de reuniões do grupo Bilderberg, em 1968 e 1972, nas quais Franco Nogueira foi orador.

Em 1965, José Maria d’Eça de Queiroz escreve-lhe da Praia da Granja e envia contas do SNI e 30 anos depois escreve-lhe a amiga “Pequenina” (Luiza Manoel de Vilhena, condessa da Azarujinha), a elogiar “o meu querido Salazar”. Há cartas de amigos mais novos, como André Gonçalves Pereira e Jaime Nogueira Pinto, de quem se manteve próximo até ao fim. E uma carta de 1967, “secretíssima”, de 23 páginas, na qual Leonardo Mathias relata um encontro tido em Madrid com um líder africano e “François (Ernesto)”, um antigo paraquedista “formado em todas as técnicas da guerra subversiva”. No fim, faz um P.S. misterioso para o ministro: “O seu telegrama n.º 9 foi destruído. Desta carta, escrita pelo meu punho, faço fotocópia para arquivar no cofre da Embaixada.”

Num sofá há uma caixa com dezenas de manuscritos de possíveis livros que Franco Nogueira quereria publicar ou que, pelo menos, têm títulos que não correspondem a livros lançados no mercado. Quase todos têm uma capa desenhada pelo próprio, que experimentava sempre soluções de “paginação”. Alguns têm títulos parecidos com livros que o ex-ministro de Salazar publicou, outros são diferentes de tudo o que se conhece. É nesta pilha que está o manuscrito de Debate Antigo, de 1966. “Não sei se é um estudo prévio de Debate Singular, que o meu pai publicou em 1970. Tenho de cruzar os dois textos.” O mesmo se passa com Salazar, estudo biográfico. Pode ser um estudo biográfico inédito ou um esboço de um dos seis volumes da biografia do antigo Presidente do Conselho que Franco Nogueira publicou nos anos 1980, durante o exílio em Londres, e que ainda são uma fonte dos investigadores. Do outro lado da sala, está um grande caixote de cartão com milhares de fotocópias de documentos de Salazar que, segundo a filha, o pai usou para escrever a biografia do ditador. “Os originais estiveram aqui muitos anos, mas foram todos devolvidos à Torre do Tombo.”

De regresso à zona da lareira, Aida Franco Nogueira explica: “Nesta caixa, pus os manuscritos de livros que são esboços de livros publicados ou outra coisa. São mais de 50.” É aqui que está No Caminho de Bizâncio, com notas para o prefácio e um desenho de uma capa com dois títulos: Estrada de Bizâncio e No Caminho de Bizâncio. “Com o desenho das estrelinhas, que ele sempre fez. Não conheço nenhum livro com este título, apenas um capítulo no Juízo Final. Ainda não sei o que é.” Alguns capítulos remetem para livros conhecidos (como Os 250 anos do MNE), mas outros nem por isso (As armas nucleares). Ao fundo, numa das marquises, estão os originais manuscritos dos seis volumes da biografia de Salazar. No lado oposto da sala, na outra marquise, estão três grandes caixotes e vários sacos cheios de papéis que a filha ainda nem abriu. “O meu pai dizia sempre: para a menina só há preto ou branco, mas olhe que o cinzento também é cor”, diz Aida Franco Nogueira, tentando descrever o pai.

Hoje, na cerimónia de evocação, essa tarefa caberá a Luísa Black, professora e antiga assistente de Franco Nogueira na universidade, a Carlos Gaspar, investigador do IPRI e antigo assessor político no Palácio de Belém, e a Marcelo Mathias, embaixador reformado, cujo pai, do círculo próximo de Salazar, propôs o nome de Franco Nogueira para lhe suceder como ministro.


Público.pt, 17 Setembro 2018