27 de março de 2013

Luís Amado// Acabou o tempo da imposição’



Luís Amado, ex-ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal, considerou esta quinta-feira, em Luanda, as tensões existente nas relações com Angola como uma herança colonial, cuja solução assenta no princípio do equilíbrio, reciprocidade e respeito mútuo.

Falando sobre as relações entre Angola e Portugal, no ciclo de conferências promovidas pela Embaixada de Portugal e o Centro de Estudos Estratégicos de Angola, o ex-ministro recorda que o processo de descolonização foi violento, brutal, situações que pesam ainda hoje nas relações entre esses países.

Luís Amado diz, no entanto, que o “tempo de imposições acabou”, e que as empresas portuguesas devem encarar o contexto como sendo de igualdade, cooperação e reciprocidade. “As empresas portuguesas têm de olhar para Angola como uma oportunidade de mercado, no qual deverão concorrer com as outras sem contudo a possibilidade de imporem as suas vontades, pois o contexto ê outro, de igualdade entre os Estados e de reciprocidade”, disse Luís Amado, ex-ministro do governo de José Sócrates.

Sobre a investigação que as autoridades judiciais portuguesas estão a levar a cabo contra o Procurador da República de Angola, Luís Amado desvaloriza, considerado tratar-se de um fait-diver, sem qualquer consequências para as relações entre os dois países. Para Luís Amado, as relações entre os dois governos estão acima dessas quezílias, passageiras.

“Essas situações são naturais, sobretudo para países como os nossos que têm uma relação histórica. Sempre vão existir essas tensões; porém é importante haver o equilíbrio das autoridades políticas, de modo a que essas relações sejam saudáveis”, defendeu.

Luís Amado discorda da opinião segundo a qual há na sociedade portuguesas resistência aos investimentos angolanos no seu país.

Lembra que tem havido de maneira esporádica opiniões dessa ou daquela pessoa, que não pode no entanto ser entendido como uma posição das autoridades políticas, pois essas estão abertas ao investimento estrangeiro, dado que precisam tirar o país da crise que se encontra.

O Euro afundou as economias

Luís Amado criticou a negligência dos governos europeus, por não terem fiscalizado durante uma década as economias mais frágeis da Europa, depois da criação da moeda única.

Fazendo uma contextualização da crise mundial, em particular do continente europeu, antes de falar sobre Angola e Portugal, o especialista em relações internacionais diz que o Euro foi criada para tornar as economias dos países da comunidade mais fortes, no entanto, “acabou por ser ao contrário”. Luís Amado criticou a “irresponsabilidade política dos governos pela actual situação dos países da comunidade europeia, pois não fiscalizaram as economias desses países, o que resultou neste quase desastre”. Apesar disso, acredita que o EURO não irá desaparecer, mas precisa de sofrer uma refundacao, de modo a ser sustentável.

Empresas portuguesas devem abrir as portas aos angolanos

Lopo do Nascimento, um dos palestrantes no ciclo de conferências, defendeu ser necessário que as empresas portuguesas em Angola dêm trabalho aos poucos angolanos formados, como forma de manter a sustentabilidade dessas empresas.

O político angolano antevê um grande problema, caso os jovens formados não tenham emprego.

Reconheceu que o grande problema hoje é a questão do emprego, por isso, apela as empresas portuguesas a abrirem as suas portas para os angolanos.

Na opinião de Lopo do Nascimento, o país é estável quando a maioria da sua população tem alguma coisa a perder. Mas quando não tem nada a perder, a instabilidade pode surgir a qualquer hora.

O deputado lembrou como um financiamento do governo americano ajudou as autoridades sul africanas a criarem no país uma classe média para, desse modo, atenuar as crises sociais.

No mesmo espírito, Lopo contou igualmente uma situação anedótica ocorrida em Moçambique.

Revelou que um dia foi convidado a participar num congresso da Frelimo, partido no poder em Moçambique, e a dada altura os camponeses reclamavam falta de comida, quando as estatísticas económicas apontavam um crescimento do PIB de Moçambique.

E um dirigente de Moçambique foi perguntar aos camponeses se estavam satisfeitos com a notícia da subida do PIB. E os camponeses perguntavam se iriam comer o PIB ao jantar ou ao almoço.

Para Lopo de Nascimento, o crescimento de uma economia tem de ter reflexos na vida social das populações, em particular dos jovens formados. “Se as empresas portuguesas não abrem as portas aos jovens angolanos formados, serão sempre vistas como estrangeiras,o que coloca sempre em risco a sua sustentabilidade”