Portugal e Jonas Savimbi
Por José Ribeiro (Director do Jornal de Angola)
"O pesadelo da guerra terminou com a morte de Jonas Savimbi, o traidor da Pátria angolana até ao fim dos seus dias. Mas ontem como hoje ainda há entre nós uma minoria pouco esclarecida que tem saudades do colonialismo que serviu convictamente. Como serviu o “apartheid” e está pronta a servir tudo desde que esteja contra Angola e o seu povo. O mesmo se passa com a desvairada imprensa portuguesa e as elites corruptas políticas e económicas daquele país em profunda crise moral, acossado pelos credores e ao mesmo tempo a exibir tiques imperiais ridículos.
Uma parte significativa das elites políticas corruptas e intelectuais portuguesas fez tudo para que Angola não fosse um país independente. Se o plano aprovado na ilha do Sal por Spínola, Nixon e Mobutu tivesse resultado, hoje as elites portuguesas e a sua imprensa tratavam os angolanos como trataram durante décadas a UNITA. Já a ONU tinha aprovado pesadas sanções contra a organização de Jonas Savimbi e os seus dirigentes e Portugal era ainda um paraíso para os sancionados. A imprensa portuguesa apresentava Savimbi como um herói. Mário Soares, então presidente da República, tratava-o como um amigo e o seu filho João como compadre. Altos dirigentes políticos seguiram o exemplo e curvaram-se reverenciais diante dos servidores do colonialismo e organizados nas forças repressivas do regime de “apartheid” da África do Sul.
Nunca a imprensa portuguesa referiu que Savimbi foi um dos carcereiros de Nelson Mandela, ao colaborar com o regime racista da África do Sul. Ou que pôs as suas armas ao serviço da sangrenta guerra colonial. Os dirigentes da UNITA andaram décadas por Lisboa a traficar armas e diamantes e a tratar das suas negociatas criminosas. Mas nunca a Procuradoria-Geral da República Portuguesa ou os serviços de combate ao banditismo investigaram os traficantes e criminosos que circulavam livremente em Portugal. Muito menos os raptores e assassinos de cidadãos portugueses que viviam em Angola. Antes pelo contrário, muitos foram premiados com a atribuição da nacionalidade portuguesa e integrados em instituições e sociedades secretas para ficarem melhor protegidos.