Hotéis de Maputo com História
Quem chega a Moçambique ouve sempre falar no famoso Hotel Polana, principalmente gravado na memória dos portugueses que ali conviveram no tempo colonial.
Neste momento está em recuperação mas esta foi uma obra polémica para a época, pois construir um hotel de cinco estrelas para receber a mais alta sociedade gerou discussões contra e a favor.
Alfredo Pereira de Lima, no seu livro Edifícios Históricos de Maputo relata a história do homem que mais se debateu para que esta obra visse a luz do dia. Foi o coronel Alexandre Lopes Galvão que na altura fazia parte do Conselho de Turismo.
Quando este abriu as portas a 1 de Julho de 1922, após terem sido gastas 300 mil libras, o seu maior defensor escrevia numa carta a um amigo: “Se não fosse eu o Polana não existiria!” Quem assistiu à festa relata que foi definido como algo que não existia na Europa, pois todos os quartos tinham água aquecida, frigorifico, lavandaria electrónica, sistema de comunicações e outras mordomias.
Mas o Polana tornou-se conhecido internacionalmente também porque tendo Portugal proclamado neutralidade durante a II Guerra Mundial, os agentes secretos tanto dos aliados como das potências do eixo Alemanha, Itália ali se puderam dedicar à espionagem e contra-espionagem. Após a paz em Moçambique pode dizer-se que o Polana se tornou também num local de contactos e de reuniões importantes. Muitos negócios e parcerias já devem ter sido seladas nas suas salas.
Hotel Cardoso
Outro hotel com uma história ligada a Portugal é o Hotel Cardoso, ainda existente mas já com um rosto diferente do que fora quando nasceu. Este foi erguido num terreno que pertencia ao Comandante Augusto Cardoso, daí o seu nome. Este homem foi o capitão tenente da Armada Real que acompanhava Serpa Pinto nas arriscadas expedições ao Niassa.
Quando Serpa Pinto adoeceu ele tomou o comando das operações. Ambos regressaram a Portugal vitoriosos e foram homenageados no hotel S. Carlos por uma cerimónia presidida por El Rei D. Luís.
De acordo com Alfredo Pereira Lima este regressa a Lourenço Marques em 1888 como capitão do Porto e encarregue de várias missões, entre elas balizar a baía para ali se construir um farol e fazer o saneamento da cidade. Devido a estes projectos o Governos das Obras Públicas cede-lhe um terreno na Ponta Vermelha junto à encosta.
Era árido mas Augusto Cardoso cuida dele tornando-o num local muito aprazível, valorizando-o. Em 1892 o Estado vendo-lho mas em 1894 a câmara exige que este pague um foro. Foi neste terreno que ergueu o hotel Cardoso mas quem o explorou foi a arrendatária Dolores Veja Bernin e mais tarde Luis Boschian.
O Hotel Cardoso era um dos mais conceituados e foi construído primiero do que o hotel Polana.
Também aqui se realizaram muitos encontros e banquetes com a alta sociedade da época. Em 1920 vendeu-o a uma sociedade por quotas a Cardoso Hotel Syndicate Lda.
Em 1929 a italiana Aida Sorgelini adquiriu-o e em 1938 demoliu-o para reconstruir um novo, dando-lhe contudo o mesmo nome. Também neste hotel, actualmente muitas reuniões de negócios são efectuadas no seu magnífico jardim com uma bela vista sobre a baía de Maputo, assim como muitos executivos ali passam os seus fins-de-semana na piscina com a mesma vista.
Hotel Clube, actual Centro Cultural Franco Moçambicano
Por fim, o hotel Clube que se transformou no magnífico Centro Cultural Franco-Moçambicano.
Segundo o historiador moçambicano António Sopa o rápido desenvolvimento de Lourenço Marques no último quartel do Séc. XIX, centrado sobretudo na linha ferroviária para o interior trouxe vários trabalhadores que procuravam chegar às minas de ouro e de diamantes da África do Sul, obrigou a que a cidade se dotasse de infra-estruturas para os receber e divertir.
Em 1887 Manuel Fernandes Piedade teve a ideia de fazer um clube com casino mas de acordo com Alfredo Pereira Lima no seu livro Edifícios Históricos de Maputo o empresário e advogado Almeida Saldanha é que teve a iniciativa de levar o projecto para a frente.
De acordo com a mesma fonte a primeira pedra seria lançada a 30 de Junho de 1898.
António Sopa diz que apesar de o Estado não ter apoiado esta iniciativa ainda ali se realizaram alguns bailes e concertos. Mas “ a sua transformação em hotel deve ter ocorrido nas duas décadas passadas com a construção de um anexo com 50 quartos”, afirma.
A 25 de Fevereiro de 1993 o edifício é recuperado transformando-se no actual centro cultural Franco Moçambicano, sendo um dos mais activos a divulgar a cultura do país. E um belo recanto para passar o fim de tarde na sua esplanada.
Texto e fotos: Teresa Cotrim
Sapo MZ