Há mais de 17 biliões de euros escondidos em paraísos fiscais. Fiz uma pequena pesquisa de bancos nas Ilhas Caimãs e descobri que nem é preciso lá ir: tudo se deposita, levanta e faz pela Internet, sem sairmos de casa.
Já há muito que não é preciso, como nos filmes, fazer chegar, em notas e malas Samsonite, milhares de milhões de dólares, aos bancos insulares que fazem vista grossa. Basta uns toques num teclado de um computador.
É isto que está mal. É isto que permite as especulações gigantescas que dão cabo dos países que gastam mais do que ganham, como Portugal. O dinheiro internetizou-se. Transferir um bilião de euros tornou-se tão fácil como fazer um tuíte. Só que é mais rápido e mais invisível.
A solução é voltar ao dinheiro em papel. Tudo tem de ser comprado e pago em cash. Acabam-se os cartões Multibanco e os cartões de crédito e todas as transacções que não se fizerem em moeda do reino.
Nas fronteiras, deve haver um limite para o dinheiro que se exporta e, a partir de uma certa quantidade (dez mil euros?), um imposto progressivo desde 1 a 75 por cento, sobre a massa que se leva para países isentos de impostos. O dinheiro tem de ter forma, peso e o desconforto de todos os pertences materiais. Não poderá ser movido sem nervos ou disfarces. Tem de ser rematerializado, para regressar à era postal e contrabandista.
A solução é desdigitalizar e voltar, financeiramente, aos anos 60. O resto da sociedade poderia progredir em paz.
Miguel Esteves Cardoso