Depois de 500 longos anos de doença crónica, Portugal está em fase terminal. Nada de espantoso, até aqui, não houvesse 10 milhões de habitantes que tivessem estado a descontar para a História, ao longo de todo este tempo, e se vissem agora na iminência de morrer como cães. Fomos exemplares na nossa postura, já que nunca nos indignamos, e estamos sempre preparados para transformar tudo em piedosas procissões, como na miserável Fátima, de Miguel Portas. Podemos dizer que também fomos jeitosos, no nosso experimentalismo político, já que andámos pela Monarquia, que se provou ser uma forma decadente da República; experimentámos a República que era uma forma decadente da Monarquia; passámos pela Ditadura, que era uma forma decadente da Democracia, e acabámos a vegetar numa Democracia, que é uma forma decadente de Ditadura. Até aqui, ainda tudo bem, porque a Polónia conheceu destinos piores, os curdos e palestinianos ainda estão à espera, e de Israel é melhor nem falar. Focando-nos na agonia, o meu problema não é o fim do fim, mas as enfermeiras, os auxiliares e os médicos que temos em redor.
Fernando Brandão
OCrime, 9 de Agosto de 2012