Sr. primeiro-ministro, os portugueses não podem ser cobaias de terapias económicas nunca antes testadas. Os portugueses, sr. primeiro-ministro, formam um povo dócil, ordeiro, trabalhador. Mas tais virtudes – ou agora volveram defeitos? – não legitimam uma troika tecnocrata para, através de si, apertar ainda mais o garrote que estrangula os milhões de famílias dos trabalhadores do País.
Sr. primeiro-ministro, o seu ministro das Finanças falha previsões em mais de 1,5 mil milhões em 2012, e o sr. primeiro-ministro passa agora a ser cúmplice de um erro ainda maior para 2013. O que acha o sr. primeiro-ministro que irá acontecer à procura interna com a penúria a que condena ainda mais as famílias? O senhor e o seu ministro das Finanças - que viu IVA e outros impostos minguarem, apesar da carga confiscatória que já atingem, enquanto os custos do desemprego sobem em flecha - conseguem prever o que será deste País em 2013?
Não tenha dúvidas - o coma a que as suas medidas brutais induzem a procura interna vai trazer falências, despedimentos, miséria em catadupa. Os 5,5 mil milhões que visa obter com esta insanidade política desenham sobre os céus de Portugal, em cego galope, dois cavaleiros do apocalipse. Fome e Morte, em sentido literal.
Sr. primeiro-ministro, quem só percebe de Finanças não percebe nada de Economia e não está habilitado a conduzir um Povo. A política não é a arte de dizer que sim a um bando de especialistas em agiotagem, enquanto se fustigam milhões de cidadãos honestos, inocentes e indefesos. Sabemos, sr. primeiro-ministro, que não foi o seu Governo que nos trouxe até aqui. O monstro, esse Estado gordo em alegre comezaina com vários níveis de corrupção, não é obra sua. Mas não há solução neste caminho que impõe. O mesmo Estado, com os mesmos tiques - que reformas já fez na Justiça, sr. primeiro-ministro? O que há de novo na área da transparência?-, lança-se sobre os cidadãos e alimenta-se das últimas réstias de rendimento disponível. Devora liberdade, felicidade e vida.
Política, sr. primeiro-ministro, seria a capacidade de usar o ímpar comportamento cívico dos portugueses para renegociar os juros da dívida do seu Estado vicioso. Patamares aceitáveis estão na casa dos 2%. Que ainda assim seriam o dobro do que o BCE exige à Banca.
Sr. primeiro-ministro, um juro razoável, na imensa dívida pública, libertaria igual verba anual do que esta seca maldição que lançou sobre o seu Povo.
Se o senhor apagar a luz no fundo do túnel, o túnel vai virar poço.