Acabou o consenso social e político em Portugal. Levem-lhe flores. As medidas que Passos Coelho anunciou ontem, atacando uma vez mais os rendimentos do trabalho, revelando total insensibilidade com os pensionistas e, inevitavelmente, emagrecendo mais o consumo, cavando a recessão, foram a estocada final.
O consenso já andava debilitado, meio desmaiado, rojando-se pelas ruas, mas desta é que foi. Medidas para combater o desemprego? Zero. Apoio às empresas? Onde está o crédito? Outra vez os do costume a pagarem a crise? O Primeiro-Ministro diz que o capital também vai contribuir. Só não diz é como. Para os trabalhadores, o roubo é apresentado tintim por tintim para tapar o buraco orçamental. Dois salários a menos no sector público, um a menos no privado. Aumento de impostos disfarçado. Já as entidades patronais poupam e acontribuição oriunda da renegociação das PPP ou das rendas da energia é coisa vaga, assim-assim. Outras taxas sobre grandes rendimentos, água. Eis o Tribunal Constitucional bemfintado. Ah, e o que dizer do momento escolhido pelo Primeiro-Ministro para afiar as facas, uns minutos antes do jogo da selecção? Pão e circo? Não. Pão já era.
Joana Amaral Dias
Correio da Manhã, 8 de Setembro de 2012