“Rússia (URSS) nas guerras da segunda metade do séc. XX”. M., Triada-farm 2002. Pág. 402-407
Luta armada do povo de Moçambique pela liberdade e a independência (1965-1979)
(continuação)
"A fim de preparar quadros de comando e especialistas técnicos no período mais curto, foram criadas: a escola militar de Nampula, o centro de treinos de Nacala, o centro de instrução de tropas fronteiriças na Beira, a escola de condução do Maputo. Os primeiros finalistas da escola de Nampula estavam formados no início de 1982.
Em 1980, tinham sido instaladas quatro brigadas de tropas fronteiriças para guardar as fronteiras de Estado. Para isso conselheiros e especialistas soviéticos tiveram de realizar um grande trabalho. Eles ajudaram a realizar o reconhecimento dos locais, faziam propostas para a melhor instalação das unidades, batalhões e brigadas de guarda-fronteiras, organização de serviços de apoio técnico e manutenção.
Decorria com o mesmo êxito a formação de tropas terrestres. Até finais de 1980 foram criadas cinco brigadas de tropas regulares, embora não completas, mas com capacidade de combate. No início de 1982 foi dado início à formação de mais duas brigadas. Os conselheiros e especialistas soviéticos participaram directamente na sua formação, elaboraram estruturas de organização e comando, organizaram o treino militar, o serviço de manutenção. Os armamentos e equipamentos militares eram fornecidos pela URSS.
Os oficiais soviéticos realizaram um grande trabalho com vista à criação da defesa anti-aérea de Moçambique. Além das divisões de artilharia anti-aérea, eles ajudaram a organizar as divisões de mísseis e batalhões de radares, que garantiam a defesa anti-aérea da capital de Moçambique.
Os soviéticos trabalhavam abnegadamente: realizavam aulas, criaram a base de ensino e material, prestavam assistência técnica, (405) realizavam exercícios de treino debaixo do sol escaldante e das chuvas tropicais. As condições de vida, frequentemente, estavam longe de ser as melhores. Apenas se podia sonhar com aparelhos de ar condicionado em funcionamento, já era bom se nas casas havia regularmente luz e água, frigoríficos. Mas havia lugares onde era preciso dormir em tendas ou viver em compartimentos sem luz e canalização.
Os acordos de cooperação militar entre a URSS e Moçambique previam que os conselheiros e especialistas soviéticos não deviam ter armas pessoais e não podiam participar nos combates. Só nos meados dos anos 80, quando a situação no país se agravou ainda mais, é que foi autorizado a ter armas em casa. Não obstante, era constante a ameaça dos conselheiros e especialistas soviéticos se verem envolvidos em situações de combate. Aconteceu que tiveram de participar em escaramuças, andar debaixo de bombardeamentos e tiroteios.
Existiram baixas. A 26 de Julho de 1979, quatro dos nossos conselheiros e um tradutor, que trabalhavam na 5ª brigada motorizada das FPLM, regressavam à Beira da região de exercícios. No caminho, o seu automóvel caiu numa emboscada organizada por bandidos armados. Atingido por disparos de lança-granadas e metralhadoras, o carro incendiou-se. Morreram todas as pessoas que se encontravam nele.
Durante o período de combates em Moçambique morreram, em missões de serviço, seis militares soviéticos, dois faleceram devido a ferimentos e doenças.
A aviação rodesiana bombardeou regularmente, até Fevereiro de 1980, Mapai onde se encontrava o estado maior da 3ª brigada e trabalham especialistas militares soviéticos. Só por sorte é que ninguém foi atingido.
Em Fevereiro de 1981, um destacamento especial das tropas da RAS lançou um ataque contra as residências do Congresso Nacional Africano em Matola, nos arredores de Maputo. Uma delas ficava ao lado da casa onde viviam as famílias de especialistas militares soviéticos. Então, eles, desarmados, foram testemunhas de como os comandos sul-africanos fuzilavam as caças vizinhas com lança-granadas e armas ligeiras. Em Janeiro de 1982, a aviação sul-africana bombardeou esses arredores. Em 1984, uma coluna de transporte, onde se encontravam oficiais soviéticos de um dos centros de treino, foi atacada a tiro no caminho para Nampula. Vários especialistas ficaram feridos.
Em Fevereiro de 1988, destacamentos anti-governamentais atacaram o centro de treino de Matalana (perto do Maputo). Até aí, esse centro era alvo regular de disparos de lança-morteiros. Sete oficiais soviéticos, durante a noite, ajudaram nos combates. Vendo-se perante uma resistência renhida, os bandidos armados recuaram. Nenhum dos instrutores e especialistas soviéticos foi ferido. (406)
Entre 1976 e 1982, existia uma grande probabilidade de se cair numa emboscada nas províncias centrais de Moçambique. A partir de 1982, tornou-se perigoso circular pelos caminhos de qualquer região do país. Os grupos armados anti-governamentais organizavam emboscadas nas estradas próximas do Maputo.
Aconteceu que, várias vezes, os especialistas que iam à capital por questões de serviço, tornaram-se testemunhas dos resultados das emboscadas organizadas algumas horas antes da sua passagem, viam nas estradas camiões e autocarros pilhados e queimados.
Era difícil trabalhar nas condições do clima quente e húmido africano. Acontecia que os conselheiros e especialistas militares soviéticos sofriam de doenças tropicais. Muitos sofriam de malária tropical.
Não obstante todas as dificuldades e perigos, os conselheiros, especialistas, instrutores e tradutores militares soviéticos cumpriram dignamente o seu dever de prestação de ajuda na formação e desenvolvimento das forças armadas de Moçambique. A maior parte dos comandantes e oficiais das forças de libertação nacional estudaram, nos anos 70-90, em escolas militares e centros de treino ou na União Soviética, ou em escolas militares e centros de treino no território de Moçambique sob a direcção de conselheiros, especialistas e instrutores soviéticos. A cooperação militar com a URSS teve um papel fundamental na criação e desenvolvimento das forças armadas da Moçambique. O reforço desse Estado permitiu, do ponto de vista militar, prestar ajuda à luta dos povos do Sul da África pela libertação, contribuiu para o aceleramento da queda do regime fascista na Rodésia do Sul e do regime do apartheid na RAS”.
darussia.blogspot.com, Junho 11, 2007