1 de maio de 2012

Democratas (João Pereira Coutinho)


Chegam as comemorações de Abril e a pergunta é fatal: quem são os donos da revolução? A resposta devia ser óbvia: ninguém e toda a gente. Acontece que em Portugal as coisas nunca foram tão simples: até 1982, Abril pertencia aos quartéis, que tutelavam a vida doméstica.

E depois de 1982, o sectarismo continuou: Abril era da esquerda, e só da esquerda, um espectáculo de ressentimento e ódio que devia cobrir qualquer democrata de vergonha. Nunca cobriu. Pelo contrário: como se viu esta semana, com as ausências de Soares, Alegre e restante tropa-fandanga, a data continua a ser usada para ajustes de contas com inimigos imaginários. E, claro, para passar atestados de menoridade aos portugueses.

Perante isto, a única coisa a lamentar é que não se pondere seriamente suspender para os próximos anos as festividades solenes da revolução. E esperar que as gerações futuras possam honrar o 25 de Abril com a dignidade que manifestamente falta aos nossos ‘democratas’.

Correio da Manhã, 29 Abril 2012