Mas esta não serve apenas como indumentária, ela é usada em todas as fases da vida: nos rituais de iniciação, para carregar os bébes – uma capulana especial chamada ntehe, para cobrir o defunto, para decorar a casa, para carregar doentes, para cobrir o corpo, É usada por ambos os sexos, sendo, porém, a mulher que lhe dá mais destaque. Não há registos sobre a proveniência da palavra mas segundo o catálogo de Suzette da sua exposição Festa na Ilha há referências escritas. Em 1890 numa narrativa sobre a Baía de Delagoa é referido o seu uso.
Sabe-se ainda que várias regiões de Moçambique produziram têxteis. Durante os Séc. XVIII e XIX, os Estados Marave do Norte de Moçambique produziam panos de algodão de cor branca, as machiras que faziam parte do comércio internacional na costa oriental de África. Do Séc. XVIII em diante começa o período de importação de tecido.
“No princípio do Séc. XX, no litoral de Cabo Delgado as mulheres com possibilidades financeiras, vestiam as capulanas intituladas tuukwe ou succa. A primeira tem cor preta e a segunda, branca. Os comerciantes vendiam-nas, cortando-as em duas peças de tecido com um comprimento de quatro metros”, refere a mesma fonte. Já no Sul de Moçambique, na região de Delagoa as mulheres com posses vestiam-se com pano azul-escuro sem qualquer padrão. O uso das cores indicava ainda a posição social, rituais e convicções culturais e religiosas. Só a partir de 1920 é que a capulana começa a ser vestida à escala nacional.
Como a capulana entrou na indumentária moçambicana?
O comércio de longa distância com os asiáticos trouxe para a África Oriental uma variedade de tecidos, incluindo a capulana. Estes eram trocados por produtos de grande valor, caso de ouro, marfim e escravos.
“A presença indiana é um factor decisivo no de envolvimento do traje da mulher moçambicana”, refere o documento da exposição de Suzette à Festa na Ilha. O mesmo documento diz ainda que mais tarde, em meados do Séc. XIX, no Sul do Save, as transacções comerciais envolviam capulanas ou um jogo completo de dois panos e lenços. Ou seja, os comerciantes estrangeiros tinham por obrigação oferecer panos às mulheres dos líderes moçambicanos. Esta oferta era conhecida por saguate.
Dos anos de 1930 em diante, em todo o território moçambicano generalizou-se o uso da capulana. A mulher agrícola passou a ter acesso a estes panos mediante a troca de castanha de caju, amendoim, gergelim e outros produtos.
Texto: Teresa Cotrim
Sapo MZ