O PSD quer refundar o Estado à pressa e não diz que essa refundação não é mais do que um apertar de cinto.
Num tempo tão difícil para o País, quando não há esperança de que este esmagar das portas do futuro abrande nos próximos tempos, em que se abate sobre as famílias a mais dura das realidades, alastrando a fome, as crianças abandonadas, os jovens sem emprego, homens com as vidas cortadas, velhos com as reformas diminuídas, não deixa de ser espantoso como a discussão pública e política dos grandes desafios nacionais se torna no pretexto para o golpismo, para o taticismo político, para o oportunismo sem escrúpulos. Começa pela velha e sebenta história dos culpados. Do CDS ao BE, não existem inocentes.
Nos últimos quinze anos, o poder gastou acima das suas possibilidades, os sindicatos exigiram acima das possibilidades reais e os governos ficaram de cócoras tornando cúmplices decisores e reivindicadores, ignorando expectativas dos muitos milhões que sem abrigo, nem cacique, nem senhor que os proteja, são agora os mais aflitos com a crise. Os milhões que são chamados a votar. E aquilo a que se assiste, neste momento, em que o FMI impõe mais uma série de medidas restritivas, é inqualificável do ponto de vista moral. O PSD quer refundar o Estado à pressa e não diz que essa refundação não é mais do que um violento apertar de cinto. O CDS diz que quer, mas nas costas diz que não quer. O PCP e o BE entraram definitivamente no terreno do Carnaval das acusações a eito, populistas, tão autistas perante a crise que parece que homens cultos, até sábios, de repente perderam a cabeça. O PS tornou-se indescritível. Deu-lhes agora para a trafulhice. Querem acabar com a ADSE, dizem uns. Não querem acabar com a ADSE, dizem outros. Querem eleições mas não querem. Não querem as medidas do FMI mas não dizem quais aquelas que querem. Nem se lembram e fazem os possíveis para esquecer que foi o PS quem assinou o acordo, atirando à boa maneira de Pilatos a culpa para cima de todos.
Se houvesse a sensatez de ser patriota em vez de arrivista, ser servidor de Portugal em vez do seu cantinho ou quintinha, de se entregar à causa pública com a grandeza dos que sabem servir sem calculismo, talvez o País tardasse a recuperar porque é grande o caminho. Mas fá-lo-ia limpo deste sebo malcheiroso que infeta a discussão sobre o nosso futuro comum.
Por: Francisco Moita Flores, Professor Universitário
Correio da Manhã, 20 de Janeiro de 2013