Polícia Militar vigia a capital do Norte
Cidade de Nampula sitiada em silêncio
A operação surge do seguimento das declarações do partido Renamo de “incendiar o país através de uma manifestação” e de um provável descontentamento no seio das FADM em Nampula
Nampula (Canalmoz) – Um acto inédito e pouco vulgar num Estado de Direito está a acontecer aqui na cidade de Nampula, capital da província do mesmo nome. O cenário é preocupante. Vive-se uma situação de estado de sítio ou de emergência. A cidade deixou de ser patrulhada apenas por agentes da PRM. Está agora a ser patrulhada por Agentes da Polícia Militar, PM, um ramo das Forças Armadas de Defesa de Moçambique. Estão a fazer vigilância e patrulha à cidade.
Nampula está de novo transformada numa cidade militarizada.
A denúncia sobre os movimentos estranhos que começam a causar um misto de espanto e de preocupação aos cidadãos desta urbe vieram de um membro da Renamo, mas as coisas agora começam a ficar transparentes a olho nu. Há realmente grande tensão entre as autoridades e os membros da Renamo.
Pelo cenário, começa a ganhar consistência, nas várias conversas de esquina e cafés, a tese dos três especialistas para sequestrar o líder da Renamo, Afonso Dhlakama.
Os comentários referem que o objectivo desta operação militar em curso é “atrapalhar” os seguranças de Afonso Dhlakama. Especula-se que os tais especialistas para raptar o líder da Renamo estão no grupo dos militares que agora patrulham a cidade.
Pelo menos na tarde de quarta-feira e manhã de ontem, quinta-feira, a reportagem do Canalmoz e do Canal de Moçambique em Nampula, viu nas imediações do aeroporto internacional, no bairro de Namicopo, homens da Polícia Militar a fazer vigilância.
Um dos agentes afectos à mesma brigada de militares confidenciou-nos que estão em vários pontos da província e com o objectivo de terem os olhos sobre a Renamo. “Nós fomos mandados para aqui para guarnecer este lado da cidade. Os outros colegas estão em outras partes da província, como é o caso de Nacala-a-Porto”, disse-nos o militar com quem falámos.
“Aqui nós temos uma missão bastante clara que é atirar diante de qualquer um movimento estranho que for protagonizado por membro e simpatizante da Renamo”- disse-nos, coberto de muito receio e secretismo militar, a nossa fonte. Mais adiante o mesmo militar sublinhou: “em princípio eu não devia te contar nada, porque sei que você não brinca e vai publicar, mas basta não passar o meu nome porque vão me fuzilar”. “A Frelimo não brinca”, conclui o militar. Depois acrescentou que “nem todos que estão nesta missão estão a favor”.
Com medo das represálias, mas ciente de que da situação em que está envolvido pode resultar o pior, a nossa fonte adiantou ainda o seguinte: “Os nossos comandantes foram claros em nos dizer que quem negar ou fizer escapar uma informação, seja para quem for, vai ser punido e, aqui, nestas missões confidenciais, a punição não passa de um fuzilamento depois de permanecer muitos dias sem comida e nem banho na nossa cadeia”.
A dado passo, a fonte do Canalmoz não hesitou em informar “quando o senhor publicar esta matéria pode acreditar que seremos reunidos de emergência para procurarem saber “quem fez escapar estes dados. Mas eu não me arrependo, porque sei que estou agir com a mente sã e convicção legal aceitável, porque o povo moçambicano está cansado destas atitudes dos chefes da Frelimo, porque imagine que lá dentro nós não podemos falar nada, nem que algo esteja errado”.
Descontentamento nas FADM
A fonte que temos vindo a citar na condição de anonimato, revelou-nos estar a reinar um “clima tenso no seio das FADM” (Forças Armadas de Defesa de Moçambique), “porque os militares das fileiras que são membros da Renamo têm-se mostrado aptos em relação a qualquer chamamento que um dia possa vir do partido de que são membros para reivindicar os resultados da eleições de 28 de Outubro” último.
Militares simpatizantes da Renamo, estão sob apertada vigilância
“Lá dentro há muito cuidado. O pessoal da Renamo tem os movimentos controlados pelos nossos chefes para que não possam se encontrar com os superiores hierárquicos do seu partido, sobretudo o respectivo líder, Afonso Dhlakama” – disse o nosso interlocutor. Num outro desenvolvimento, esta mesma fonte do “Canalmoz” e do “Canal de Moçambique – semanário”, explicou que “o descontentamento começou no ano passado, aquando das eleições autárquicas em que a Renamo pretendia reagir em Nacala-a-Porto. “Aqui dentro das FADM todos os membros da Renamo estavam prontos para seguirem”.
“No seio das FADM aqui em Nampula não são apenas os membros da Renamo que andam descontentes com o sistema político nacional adoptado pela Frelimo. Também os próprios membros do partido Frelimo andam chateados porque não gozam do direito de expressão”, confidencia-nos o militar que serve de nossa fonte. “Aliás, nós da Frelimo, aqui dentro, não podemos reclamar, caso contrário somos conotados com a Renamo. Por isso estamos cansados” - concluiu.
O ambiente em Nampula está realmente muito tenso e pode-se realmente persentir que algo está para suceder.
(Aunício da Silva)
2009-11-27