Fotografia, Jornalismo e Jazz, de luto
Morreu Ricardo Rangel (1924–2009)
Maputo (Canal de Moçambique) – O foto-jornalista Ricardo Rangel morreu ontem, 11 de Junho de 2009, cerca das 20 horas, na sua residência na Av. Julius Nyerere, em Maputo. Morreu tranquilamente. Estava a repousar.
Ricardo Rangel nasceu em 1924, em Lourenço Marques, cidade que a partir de 1976 passou a designar-se por Maputo. Ficará para a história como o primeiro jornalista não branco a entrar (1952) para uma equipa de um jornal em Moçambique, como repórter fotográfico do “Notícias da Tarde”. Fez da fotografia a sua arma de luta contra o colonialismo e, depois da independência nacional, de denúncia de abusos e arbitrariedades das autoridades. Era filho de um homem de negócios grego, com uma ascendência de uma mistura étnica rica, com origens na Europa, África e China. Cresceu em casa da sua avó nos arredores da cidade de Lourenço Marques e viveu em várias cidades de Moçambique, onde sobressaiu a sua passagem pelo Diário de Moçambique criado na Beira pelo bispo católico que se notabilizou a denunciar as arbitrariedades e a discriminação racial e social, opondo-se ao regime colonial.
Trabalhou no Notícias da Beira em meados dos anos 60, como repórter-fotográfico, altura em que se notabilizou por ter sido quem registou as imagens do incêndio de gás do Pande. Na Beira trabalhou ainda para a Voz Africana, um jornal editado pelo Centro Africano.
Iniciou a sua notável carreira como fotógrafo profissional, em 1941, como aprendiz de laboratório de fotografia do caçador de elefantes que se tornou fotógrafo profissional, Otílio Vasconcelos.
A sua bibliografia publicada por Christoph Merien Veriag, em “Iluminando Vidas”, diz ainda que em 1940 Ricardo Rangel foi trabalhar para o laboratório do estúdio fotográfico “Focus” onde começou a ganhar fama como impressor a preto e branco. Depois passou a fazer revelações fotográficas na câmara-escura no jornal bilingue “Lourenço Marques Guardian”.
Em 1970 tornou-se co-fundador da revista «Tempo» e seu editor fotográfico.
Fundou o Centro de Formação Fotográfica de Maputo onde está hoje preservada uma colecção de alto nível de imagens do País.
Foi também fundador do «Domingo» semanário de que se tornou o primeiro director, sendo assim a primeira vez que no País um foto-repórter ascendia a tal cargo.
Era casado com a cidadã Suiça, Biatrice. Foi recentemente elevado à categoria de Doutor em História da Fotografia pela Universidade Eduardo Mondlane. Tem as suas obras permanentemente expostas em algumas das mais conceituadas galerias do Mundo.
Era o decano dos fotógrafos e jornalistas moçambicanos e um aficionado e activista do Jazz que percorreu mundo impulsionando o gosto por esta forma musical e de arte de que era possuidor de uma vasta e rica discoteca.
Foi fundador da Associação Moçambicana de Fotografia (AMF) e seu primeiro presidente. Era seu presidente Honorário Vitalício.
Os jornalistas do «Canal de Moçambique» rendem aqui a Ricardo Rangel a sua última homenagem e endereçam à família enlutada as mais sentidas condolências.
(Redacção)
12 de Junho de 2009