Restos mortais de Rangel vão a enterrar segunda-feira
Os restos mortais do foto-jornalista moçambicano Ricardo Rangel, falecido na noite da última quinta-feira na sua residência, em Maputo, vão a enterrar segunda-feira, pelas 15 horas no Cemitério de Lhanguene, num acto antecedido de velório às 13 horas nos Paços do Município de Maputo. As exéquias estão a cargo do Estado moçambicano, através do Ministério da Educação e Cultura (MEC) e do Conselho Municipal da Cidade de Maputo (CMCM).
O decano do foto-jornalismo moçambicano perdeu a vida de forma súbita, no intervalo entre as 19.40 e 19.55 horas, enquanto aguardava pelo início do serviço noticioso das cadeias televisivas nacionais.
Beatriz Kiener, viúva de Ricardo Rangel, contou que se apercebeu do funesto acontecimento por volta das 19.55 horas, quando chamou pelo esposo para lhe dar conta do início dos noticiários da televisão.
Disse que momentos antes estiveram a conversar sobre a milionária transferência do futebolista português Cristiano Ronaldo, do Manchester United para Real Madrid.
Entretanto, desde Setembro de 2006 Ricardo Rangel padecia de problemas cardiovasculares, tendo ficado hospitalizado durante perto de um ano. Por causa deste problema foi-lhe amputada uma das pernas em 2007. Vinha recuperando, apesar de algumas recaídas de quando em vez.
Ricardo Achiles Rangel foi um dos primeiros jornalistas de imagem, cuja carreira iniciou no tempo colonial.
Ao longo do regime colonial português, diversas fotografias de Ricardo Rangel foram banidas devido ao seu carácter crítico. Aliás, em entrevista à BBC em Junho de 2005, Ricardo Rangel chegou a dizer que os “censores” da era colonial não eram muito inteligentes.
“Muitas vezes eles não se apercebiam da mensagem que transmitia certo texto ou determinada fotografia: não sabiam ler as fotografias. Passaram algumas que eram declaradamente contra o regime, mas a maioria só foi publicada depois da independência”, disse na altura.
Ao longo da sua carreira, Ricardo Rangel fotografou diversos acontecimentos que documentam diversos factos de carácter socio-económico e cultural do país.
O trabalho de Ricardo Rangel foi reconhecido internacionalmente, sendo que parte do seu espólio foi publicado em livros. Considerado “pai” do foto-jornalismo moçambicano, Ricardo Rangel foi responsável pela formação uma nova geração de fotógrafos, tendo fundado o Centro de Formação Fotográfica (CFF), de que era director desde 1983.
Fez parte do grupo de jornalistas da revista “Tempo”, a primeira publicação a cores do país, bem como trabalhou para os jornais Notícias da Tarde”, ”Notícias”, “A Tribuna”“ e “Domingo”, onde foi director entre 1982 e 1983.
Ano passado, a Universidade Eduardo Mondlane (UEM), a maior e mais antiga instituição do Ensino Superior do país, distinguiu Ricardo Rangel com o título de Doutor Honoris Causa em História Visual, em reconhecimento da sua contribuição para o país ao longo do seu percurso humano e profissional.
Maputo, Sábado, 13 de Junho de 2009:: Notícias
13 de junho de 2009
Moçambique: Restos mortais de Ricardo Rangel vão a enterrar segunda-feira
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MOZ
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