Eleições
Moçambique entre Frelimo e a mudança
Quase duas décadas após os acordos de paz de 1992, Moçambique vota hoje para escolher novo Presidente, novo Parlamento e novos representantes do poder a nível provincial. Entre as habituais acusações de fraude e um crescente desencanto entre o eleitorado, estas eleições, que poderão assinalar o fim da bipolarização no país, representam importante desafio, quer para o partido tradicional de oposição quer para a mais recente formação política, com menos de um ano de existência.
A campanha foi considerada a mais pacífica desde que existem eleições multipartidárias neste Estado lusófono da África oriental e ficou marcada pelo aparecimento daquela que pode tornar-se a terceira força partidária do país, pondo em xeque o tradicional duopólio entre a Frelimo, o partido no poder, e a Renamo, principal força de oposição.
Só as acusações de fraude em pouco ou nada diferiram das surgidas em anteriores processos eleitorais, sendo as críticas dirigidas à Comissão Nacional Eleitoral (CNE), que, pela primeira vez, interditou oito partidos e duas coligações de se apresentarem a votos.
Um dos principais alvos foi o Movimento Democrático de Moçambique (MDM), o partido fundado pelo ex-dirigente e ex-autarca da Renamo, Daviz Simango (ver perfis). A nova formação que, na perspectiva de vários analistas, pode colocar ponto final na bipolarização resultante dos acordos de paz de Roma, em 1992, foi impedida de apresentar candidatos na maioria dos 13 círculos eleitorais para as legislativas, mas concorre nas duas principais cidades do país: Maputo e Beira.
O MDM é liderado pelo presidente da Câmara da Beira, Daviz Simango, um dos três candidatos às presidenciais que decorrem em simultâneo com as legislativas e as provinciais (ver gráfico). Simango concorre contra o actual Presidente, Armando Guebuza, da Frelimo, que é dado como vencedor, e contra o líder da Renamo, Afonso Dhlakama, que se apresenta pela quarta vez consecutiva a este escrutínio. O resultado que obtiver pode ser determinante para o seu futuro político assim como os resultados do partido que dirige não deixarão de influenciar o seu rumo, após um período em que somou vários reveses (ver caixa).
Se a generalidade dos observadores, ainda que com algumas reservas, tem como adquirida a vitória do Presidente Guebuza e do seu partido, não deixa de salientar que a distribuição dos restantes sufrágios dará uma medida do desejo de mudança num país que permanece entre os mais pobres do mundo e com uma importante taxa de abstenção.
O apelo eleitoral do MDM deve encontrar eco nos centros urbanos, onde aliás pôde apresentar candidatos, com a Frelimo a recolher o apoio entre as populações rurais. Mas é entre estas que se têm verificado a maior subida da abstenção. Todos os comentários e reportagens das agências sublinhavam o importante grau de descontentamento das populações nestas áreas, que terão assistido a poucas ou nenhumas mudanças em 17 anos de paz.
As mesmas reportagens notavam que está em curso um vasto programa de criação ou reconstrução de infra-estruturas e que a economia moçambicana apresenta sinais de crescimento. Do lado negativo, tornavam claro que a corrupção grassa ainda a nível local e nacional. Ao mesmo tempo, a maioria dos indicadores reflecte uma situação negativa na maioria dos indicadores de desenvolvimento.
O imobilismo não deixou, por isso, de ser o tema mais abordado por Dhlakama, que garantiu não ter a Frelimo realizado "nada de nada" desde que chegou ao poder em 1975. Simango, por seu lado, criticou os outros candidatos por "voarem sobre os problemas do povo", alusão às deslocações em avião e helicóptero de Guebuza e do líder da Renamo, enquanto o dirigente do MDM se movimentou principalmente em caravana automóvel.
Abel Coelho de Morais
Diário de Notícias, 28 de Outubro de 2009
28 de outubro de 2009
Eleições: Moçambique entre Frelimo e a mudança
Publicada por
MOZ
Etiquetas:
Eleições,
História,
Moçambique,
PALOPs,
Política