Marcelino dos Santos declara sua aversão pela imprensa privada
“Camaradas, vocês são de instituições que eu não respeito. Portanto, não respondo às vossas questões. Não respeito as vossas instituições. Porquê é que querem fazer perguntas a mim?”, - Marcelino dos Santos dirigindo-se a jornalistas do Canal de Moçambique e TV-Miramar, ontem, na Praça dos Heróis, em Maputo.
Maputo (Canalmoz) - O veterano da luta de libertação nacional, Marcelino dos Santos, declarou ontem a sua total aversão e desrespeito pelos meios de comunicação social independentes. Convidado a prestar declarações ao Canal de Moçambique e à televisão privada Miramar, Marcelino dos Santos foi categórico ao recusar-se. “Não respeito as vossas instituições”. Disse-o momentos depois de ter respondido às questões que lhe foram colocadas por jornalistas da Televisão de Moçambique, a televisão pública, tida como a grande instituição de propaganda do partido Frelimo, embora sobreviva à custa dos impostos de todos pagos ao Estado independentemente das simpatias políticas.
O veterano da luta de libertação nacional que se recusou a responder às nossas questões, é tido como da “ala dura” da Frelimo. É tido como uma das figuras que lidera a tendência da reimplantação do sistema monopartidário em Moçambique, o mesmo sistema adoptado pela Frelimo, logo após a independência nacional em 1975, que só viria a ser destituído através de uma guerra civil sangrenta movida pela Renamo, e que durou 16 anos. Ignorando que a guerra civil semeou a destruição de significativas infra-estruturas, conduziu à morte mais de um milhão de moçambicanos e destruiu o tecido social e económico do país, Marcelino dos Santos é tido pela opinião pública como um dos mentores do regresso ao partido único por aliança com Armando Guebuza e outros velhos combatentes que se opõem à ascensão ao poder dos jovens, excepto até a lugares subalternos.
Marcelino dos Santos foi abordado à margem da cerimónia de deposição de coroa de flores na Praça dos Heróis moçambicanos, em memória a Samora Machel.
Samora Machel morreu no acidente fatídico de Mbuzine, há 23 anos, mas até hoje ainda não foram esclarecidas as circunstâncias em que ocorreu.
Atrelando-se a uma entrevista que Marcelino dos Santos estava a conceder para a televisão públicas, um repórter da televisão privada Miramar, quis saber do veterano da luta de libertação nacional quais eram os contornos das investigações que levaram a morte do Samora Machel, e dos Santos respondeu o seguinte: “camarada-chefe, vocês são uma instituição que eu não respeito, vocês e outros, portanto eu não respondo. Não respeito a vossa instituição, porquê é que querem fazer perguntas¬ a mim?”, disse Marcelino dos Santos no seu tom habitual, temendo perguntas que por ventura poderiam desenterrar algumas verdades escondidas há 23 anos, como comenta a opinião pública. A tentativa do repórter do Canal de Moçambique insistir com as mesmas questões, também recebeu o mesmo “não”, de Marcelino dos Santos.
Afinal de contas, quem matou Samora Machel? Esta é a pergunta que o povo faz no dia-a-dia. Uns defendem que se tratou de negligência de várias partes envolvidas com o voo, outros falam de morte preparada por dentro. Outros dizem que foi o regime do apartheid que matou Samora. O certo, porém, é que o texto integral do relatório da Comissão de Inquérito presidida por Armando Guebuza continua escondido sem se conhecerem as razões para tal.
Joaquim Chissano chegou a dar garantias de que se publicariam as conclusões do inquérito. Tabo Mbeki, ex-presidente sul-africano também prometeu. Ambos acabaram os seus mandatos sem cumprirem com as promessas.
Samora Machel morreu a 19 de Outubro de 1986, na zona montanhosa de Mbuzine, na África de Sul, num acidente aéreo quando vinha de uma reunião na Zâmbia, num dos seus esforços para se alcançar a paz na região austral de África, na altura seriamente ameaçada por guerras várias em países da SADC e pelo regime minoritário do apartheid na África do Sul.
(Borges Nhamirre e Egídio Plácido)
2009-10-20
20 de outubro de 2009
Moçambique: Marcelino dos Santos declara sua aversão pela imprensa privada
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