Fundação Salazar, na Malhangalene: Edifícios clamam por reabilitação
Os moçambicanos obtiveram grandes alegrias com as nacionalizações, mas com elas também vieram grandes preocupações e desafios. Uma das lutas é a necessidade de mudança de hábitos, adaptar-se a novos meios, e ao tipo de vida das cidades.
No entanto, em certos momentos essas apostas revelam-se estéreis. Há ainda gente que se muda do campo para as urbes carregando consigo todos os hábitos das zonas rurais. Plantio de hortaliças e milho nas varandas dos prédios, para além de criar galinhas, patos, coelhos, cobaias entre outros animais de pequeno porte. Outros moradores continuam cozinhando com lenha e pilando no interior de suas moradias.
Já agora, vamos ao concreto: aos prédios da Fundação Salazar, no bairro da Malhangalene “B”, em Maputo, que visivelmente carecem de obras de reabilitação devido a diversos problemas de saneamento que perduram há longos anos.
A degradação é de tal forma aguda, dado que as fachadas dos edifícios estão seriamente desconfiguradas, necessitando de pintura. Grande parte dos prédios tem problemas de filtração de água. Isso sem contar com as fossas que frequentemente se entopem. Isto piora dado o facto daquelas cavidades estarem interligadas.
Nalguns casos a água chega sem pressão, não alcançando daí todas as casas devido à obstrução das condutas. Como resultado, a partir das quatro horas os moradores começam a disputa pelas insignificantes reservas.
Os residentes com dificuldades de obter a água, mas com recurso financeiro, recorrem a reservatórios que permitem acumular aquele líquido.
Algumas das casas situadas nos andares superiores não utilizam os lavatórios de loiça e de roupa existentes nas cozinhas e varandas por estarem entupidos, daí a opção de acumular a água resultante da limpeza em recipientes e lançarem-na do alto para baixo, o que concorre para a deterioração das paredes.
David Daniel, um dos residentes da Fundação Salazar, disse à nossa Reportagem que o bairro já enfrentou problemas sérios e graves de poluição sonora que actualmente não se fazem sentir tanto. Acrescentou que já houve várias e constantes reuniões na zona no sentido de se reverter toda a situação ali vivida, mas que pouco resultaram.
Pelo facto de muitos residentes não serem os devidos proprietários das casas, isto é, por estarem a arrendar, pelo “senso de pertença” à suas casas ao invés do bairro, a indisponibilidade financeira e a falta de civismo de muitos moradores, são factores apontados por muitos e que têm causado a impossibilidade de resolução dos inconveniente indicados.
Segundo Fenias Carmona Manjate, chefe de segurança do bairro da Malhangalene, os imóveis da Fundação Salazar foram uma iniciativa do governo colonial com o objectivo de inclusão e promoção de negros e isso era feito por via de doações de casas e comida, principalmente aos mutilados de guerra.
De facto, aqueles imóveis não podem ser visto como um caso particular, basta que se saia de casa e que se circule com um pouco mais de atenção, com os “olhos de observador” para que se identifique muitos outros bairros e prédios na mesma situação.
Maputo, Quarta-Feira, 2 de Setembro de 2009:: Notícias