Portugal
Proprietários de canal televisivo silenciam serviço noticioso incómodo
Pretoria (Canal de Moçambique) - A administração do canal televisivo, TVI, anunciou a suspensão do «Jornal Nacional», serviço noticioso coordenado e apresentado por Manuela Moura Guedes. O serviço noticioso regressava hoje à grelha do canal depois de um período de férias. Toda a direcção de informação da TVI pediu a demissão, que já foi aceite pela administração.
Manuela Moura Guedes, que é esposa do antigo director da TVI, José Eduardo Moniz, disse que tinha pronta para a edição de hoje reportagens sobre o caso Freeport que seriam “explosivas”. O caso Freeport abalou o governo socialista de José Sócrates, sendo este suspeito de ter beneficiado de luvas de uma empresa britânica para obtenção de uma licença de construção de um centro comercial numa zona protegida a sul de Lisboa.
O «Jornal Nacional» das sextas-feiras funcionava com uma equipa própria e caracterizava-se pelo tom particularmente crítico em relação ao governo de Sócrates e pela insistência na investigação do caso Freeport.
A decisão da suspensão do telejornal de Moura Guedes foi tomada directamente pela direcção de grupo espanhol Prisa, proprietário da TVI e do jornal espanhol El País, conhecido pelas suas ligações ao Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE) do primeiro-ministro Rodríguez Zapatero. Oficialmente, a decisão foi explicada por necessidades de "reestruturação económica". Mas o maior impacto económico que ela conseguiu, até agora, foi nas acções da Impresa, dona da SIC e principal concorrente da TVI, que subiram 10,32%. Já as acções da Media Capital, dona da TVI, caíram na quarta-feira 15% e não tiveram transacções na quinta.
A medida tomada pelos proprietários da TVI é vista por observadores como um “acto de solidariedade” do PSOE para com o Partido Socialista no poder em Portugal. Após ter comprado a TVI, o grupo proprietário espanhol tratou de afastar José Eduardo Moniz das funções de director daquele canal televisivo. A suspensão do «Jornal Nacional», vem reforçar a ideia de que o regime de Sócrates esforça-se por manipular a comunicação social, impondo, na prática, um sistema de censura, semelhante ao que existiu durante o salazarismo e que Marcelo Caetano viria a mascarar com a designação de “exame prévio”.
O PS de Sócrates manifestou ontem ‘repúdio’ pelas acusações de envolvimento dos socialistas na suspensão do «Jornal Nacional» de sexta-feira da TVI . «O PS nada tem a ver com a TVI e com a administração da TVI, sendo absolutamente falsas - e merecem-nos o maior repúdio - as insinuações e acusações que se têm sucedido ao longo da tarde e que procuram relacionar a decisão da administração de uma empresa privada de comunicação social com o PS», declarou em conferência de imprensa Augusto Santos Silva, membro do Secretariado Nacional dos socialistas. Augusto Santos Silva, também ministro dos Assuntos Parlamentares, com a tutela da comunicação social, procurou vincar a ideia de que o PS «nada tem a ver com a decisão absolutamente incompreensível» da administração da TVI de suspender o «Jornal Nacional» de sexta-feira, que tem sido coordenado pela jornalista Manuela Moura Guedes.
(Redacção / Diário Digital)
2009-09-04