30 de novembro de 2021

Angola: Postais Antigos de Nova Lisboa



 

Fonte: Arquivo Pessoal

Digitalizado por MOZ

Angola: Postais Antigos de Benguela


 

Fonte: Arquivo Pessoal

Digitalizado por MOZ

5 de novembro de 2021

Da folia do Entrudo na Avenida de Angola (por Aldino Muianga, 01/11/2021)



Enquanto o Pablo entretinha-se a esmurrar fantasmas aproximava-se a época do carnaval. Era um momento por que a maioria dos habitantes da cidade e dos subúrbios ansiava. Organizavam-se bailes nos grandes clubes da capital, como nos pavilhões do Sporting e da Malhangalene, sem falar noutras agremiações de não menor estatuto, como o Clube dos Engraxadores, o Centro Associativo, a Casa do Porto, a Associação de Auxílios Mútuos Gazense e a Casa dos Funcionários. Era, enfim, mais um pretexto para novos convívios e outras confraternizações.

Outros não iriam aos clubes, mas aglomerar-se-iam nos passeios da Avenida de Angola que, nessa época, se engalanava para receber forasteiros provenientes doutros bairros.

Os passeios e os terrenos adjacentes à Avenida de Angola ainda acusavam a severidade das chuvas recém-caídas. O chão acusava aqui e ali algumas poças de água que o calor de um sol tímido procurava secar.

O baile da pinhata no pavilhão do Sporting foi o toque de chamada ao início das festividades.

Naquele sábado de carnaval era só ver cortejos de gente, compactos  e alegremente ruidosos a despontarem de todos os caminhos em direcção ao bairro Indígena que, curiosamente, se transformara no epicentro das celebrações. Era a sacristia onde muitos iriam tributar a sua homenagem à amizade, onde iriam iniciar-se novos relacionamentos. Foliões trajados de coloridas vestimentas passeavam a sua classe nas pistas do areal. Uns vestiam-se palhaços, de almirantes-marinheiros a navegar em docas secas; piratas de espadachins de madeira e chapéus caprichosos a dar tréguas aos marinheiros de mar alto;  de diabos que desceram à  terra  em missão de justiça. Outros tinham os rostos ocultos por máscaras; eram Zorros elegantes e corajosos, Mandrakes prestidigitadores de varinha mágica e cartola para transformar o destino dos mortais; outros ainda coloriam as peles com aguarelas multicores, arco-íris  ambulantes a colorir a tarde de festa. Outros mais, sem as mesmas porque já nada tinham para esconder ou imitar. Todos; porém, presentes na roda partilha da alegria comum dum tagarelar descontraído, de trocar historietas do quotidiano, ao encontro dalgum elo de unidade entre os residentes dos diferentes bairros. Camiões  cedidos à borla pelos cantineiros _o tempo era de generosidade, e também o orgulho do seu bairro em competição com os demais_ carregavam grupos de foliões, bandas musicais de ocasião muito ruidosos, e cantores de vozes sofrivelmente timbradas, mas nem por isso menos alegres, espalhavam notas de canções ensaiadas durante meses para abrilhantar a festa. Sobre a bagageira do camião cedido pelo cantineiro Suzarte, a rolar lento no asfalto, o grupo da Mafalala, do qual se destacavam o vocalista  “Bode” Mordicai que, com aquela voz de caprino muito característica, alucinava as multidões; o Antoninho “Gaita” na harmónica de boca, o Habibo “Gargalhada” no tamborete, o Hassane “Esqueleto Humano” no pandeiro, o Gulamo “Coiote” no violão e, finalmente, o guitarrista-mor Salimo “Makhôfu”, executava o sempre presente hino dos carnavais: