28 de julho de 2020

Moçambique: Frelimo considera "tristes e lamentáveis" declarações de Dhlakama sobre independência


A Frelimo, partido no poder, classificou como "tristes e lamentáveis" as declarações do líder da Renamo, Afonso Dhlakama, de que a maior força política de oposição nunca foi contra a independência do país.

"É triste e lamentável que depois de tantas atrocidades e destruição das conquistas da independência, a Renamo e o seu líder apareçam agora em público a dizer que este partido nunca esteve contra a independência", disse o porta-voz da Frelimo, Damião José, citado na passada quarta-feira no diário Notícias.

Na segunda-feira, durante uma reunião de quadros do seu partido na Beira, província de Sofala, Afonso Dhlakama disse à imprensa que o seu partido nunca foi contra a independência e que estava satisfeito com as celebrações dos 40 anos, que se assinalaram no dia 25 de Junho.

"Ninguém nega que a Frelimo tenha combatido pela Independência. Nós nunca fomos inimigos da independência. Os 40 anos da independência foram comemorados de uma maneira que fiquei satisfeito, porque pude assistir aos históricos da Frelimo a quererem dizer a verdade.", afirmou Dhlakama, que não participou nas cerimónias centrais das celebrações em Maputo.

Após a independência em 1975, a Frelimo e a Renamo envolveram-se numa guerra civil que durou 16 anos, tendo causado a morte de cerca de um milhão de pessoas e a destruição de numerosas infraestruturas, até à assinatura do Acordo Geral de Paz em Outubro de 1992, pelo ex-Presidente moçambicano Joaquim Chissano e Afonso Dhlakama.

Para o porta-voz da Frelimo, foi a Renamo que causou a guerra e, por isso, o partido de Afonso Dhlakama deve um pedido de desculpas ao povo moçambicano.

"A cronologia dos factos ensina-nos que a Renamo nunca, em nenhum momento, esteve contra o sistema colonial português, mas sim contra a Frelimo, por ter libertado a terra e os povos, proclamando a independência total e completa de Moçambique", defendeu Damião José, salientando que o partido de Afonso Dhlakama " continua igual a si próprio, como um instrumento criado para desestabilizar o país e colocar em causa as conquistas colectivas dos moçambicanos".

Moçambique vive actualmente um clima de tensão política e militar, após um conflito na região centro do país que durou 17 meses até à assinatura do Acordo de Cessação de Hostilidades, a 05 de Setembro de 2014 entre a Renamo e o Governo, pouco antes das eleições gerais de 15 de Outubro último e cujos resultados o maior partido de oposição não reconhece.


SAPO, 02 de Julho de 2015

Moçambique: A “diligência” confidencial de Maputo para libertar reféns dos EUA no Irão


A eventual “diligência” de Moçambique no início da crise entre os EUA, Irão e os possíveis apelos de Maputo no sentido da libertação dos reféns norte-americanos são referidos confidencialmente pela embaixada de Portugal em Dezembro de 1979.

“O embaixador de Espanha disse-me ontem [04 de Dezembro de 1979] que o embaixador dos Estados Unidos lhe confidenciara estar muito satisfeito com diligência que teria sido entretanto feita, pela República Popular de Moçambique, junto de dirigentes iranianos no sentido da libertação dos cidadãos norte-americanos sequestrados em Teerão”, transmite a embaixada de Portugal, às 19:30 de 05 de Dezembro de 1979.

O mesmo documento sublinha que o embaixador norte-americano não quis acrescentar mais detalhes - “por enquanto” - por se tratar de material confidencial.

A crise dos reféns prolongou-se durante 444 dias, entre 04 de Novembro de 1979 e o dia 20 de Janeiro de 1981.

Os 52 norte-americanos, a maior parte diplomatas, foram feitos reféns pelos estudantes da Revolução iraniana que acabava de derrubar o regime do Xá Reza Pahlevi, entretanto exilado.

A referência à eventual diligência entre Maputo e Teerão terá acontecido no início do longo processo que só termina em Janeiro de 1981, no dia em que Ronald Reagan toma posse como presidente dos Estados Unidos, sucedendo a Jimmy Carter.

A crise dos reféns norte-americanos não volta a ser referida nas transmissões que se seguem até ao final do ano e em 1980 pela embaixada de Portugal, que no dia 05 de Dezembro de 1979 admite que o novo poder em Teerão possa ter sido permeável aos “apelos” de Samora Machel.

Moçambique: John Kerry felicita todos os moçambicanos pelo aniversário da independência


O secretário de Estado norte-americano, John Kerry, - cuja mulher nasceu em Maputo - felicitou hoje todos os moçambicanos pelo 40.º aniversário da independência de Moçambique, afirmando que este ano representa "um marco" para as relações bilaterais.

"Em nome do presidente [Barack] Obama e do povo norte-americano, cumprimento todos os moçambicanos num momento em que celebram o 40.º aniversário da vossa independência, a 25 de Junho", escreveu John Kerry.

O responsável da diplomacia norte-americana afirmou que Moçambique é um país que lhe é "muito especial", já que foi aí que nasceu a sua mulher, Teresa (na então cidade de Lourenço Marques, hoje Maputo).

"A nossa casa ressoa com o som do Português, bem como as saudosas memórias da Teresa de quando ia para a mata com o seu pai, que era médico, enquanto ele ia ver os doentes. E pendurado em nossa casa está um mapa de Moçambique", acrescentou John Kerry.

Para o secretário de Estado norte-americano, "este ano representa um marco na história das relações Estados Unidos-Moçambique".

"Nos últimos 40 anos, o nosso relacionamento cresceu até reflectir um compromisso comum: uma paz duradoura, progresso e prosperidade partilhada para todo o povo", salientou.

Os Estados Unidos e Moçambique, realçou Kerry, "são parceiros no fortalecimento da democracia, na promoção do comércio e do investimento, na melhoria da saúde, no aumento das oportunidades educacionais, na conservação do ambiente e no combate ao crime transfronteiriço".

"Neste dia de celebração, a Teresa junta-se a mim para desejar ao seu povo, de Moçambique, paz, felicidade e prosperidade", concluiu John Kerry.

A mulher de John Kerry, Teresa Heinz Kerry, de 76 anos, tem dupla nacionalidade portuguesa e norte-americana.


Lusa, 26 de Junho de 2015

Moçambique: O regresso dos portugueses visto pelos telegramas da embaixada em Maputo



Os milhares de telegramas transmitidos pela embaixada de Portugal em Maputo entre 1975 e 1980 relatam acontecimentos cruciais para milhares de portugueses obrigados a retornar a Portugal após a independência.

As prisões arbitrárias de cidadãos portugueses efetuadas pela FRELIMO desde 1975, a existência de campos de reeducação, as expulsões pelo crime de “sabotagem económico” ou por irregularidades no processo de escolha da nacionalidade e a instauração do decreto-lei 34/76 - que restringe o embarque de “bens móveis”- são matérias recorrentes nos telegramas emitidos pela embaixada de Portugal e que afectam directamente os cidadãos portugueses, sobretudo nos três primeiros anos.

Registam-se também centenas de telegramas relacionados com as sucessivas nacionalizações, sobretudo da banca, setor dos seguros e caminho-de-ferro mas também do pequeno comércio, a carestia e a escassez de bens essenciais, alguns deles pode ser consultados na página da Lusa dedicada aos 40 anos das independências de Angola, Moçambique, Cabo Verde, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste.

Todos estes assuntos são constantes nos aerogramas, muitas vezes “secretos” ou “confidenciais”, da embaixada de Portugal em Maputo, de acordo com a consulta feita pela agência Lusa no arquivo do Ministério dos Negócios Estrangeiros, entre os anos 1975 e 1980 e que fornecem dados e enquadramentos sobre os efeitos da forma como decorreu o processo de descolonização.

Os primeiros tempos da independência de Moçambique ficam marcados pelas dúvidas e pelas incertezas de um processo que decorreu de forma rápida e surpreendeu milhares de pessoas directamente envolvidas no processo de descolonização.