1 de novembro de 2018

Arqueólogos revelam provas de que a Papisa Joana existiu


A Papisa Joana representada como o anti-cristo. “The Whore of Babylon”, óleo de Lucas Cranach (1534)

Arqueólogos conseguiram provas substanciais de que uma mulher ocupou o cargo mais importante da Igreja Católica. A descoberta foi feita por pesquisadores da Universidade de Flinders, na Austrália.

Para os pesquisadores, a história acerca da existência de uma papisa, alimentada desde a Idade Média, é real. Entre as provas que sustentam os argumentos está a produção de moedas em homenagem à papisa.

De um lado das moedas analisadas está o nome do imperador Luís II. Do outro, um monograma assinado pelo papa vigente que representa o nome “IoHANIs”. Segundo os pesquisadores, este nome pode ser lido como “Iohannes”, latim para João.

“Nessa época [850 d.C.], não existiu oficialmente nenhum papa com o nome de Iohannes. Mas há muitos registos de Iohannes Anglicus, a papisa”, afirmou Michael E. Habicht, autor do livro “Papisa Joana: O Pontificado Encoberto de uma Mulher ou uma Lenda?”, numa entrevista à AH.

As ilusões perdidas da ‘primavera marcelista’


Há 50 anos, Marcelo Caetano tornou-se o novo chefe do Governo de Portugal. Mas o regime não mudou.


Na noite de 26 de Setembro de 1968, faz esta quarta-feira meio século, o Presidente da República, Américo Tomás, anunciou aos portugueses o nome do novo presidente do Conselho de Ministros. Marcelo Caetano tomou posse no dia seguinte. 

Tomás resistira até à última mas, desenganado pelos médicos sobre as hipóteses de recuperação de Salazar, acabou por nomear um novo primeiro-ministro. 

Professor catedrático de Direito, ex-reitor da Universidade de Lisboa, antigo ministro da Presidência e das Colónias, antigo Comissário Nacional da Mocidade Portuguesa e ideólogo do Estado Novo, Marcelo Caetano (1906-1980) era considerado o ‘enfant terrible’ do salazarismo. A nomeação do novo chefe do governo - o primeiro em 36 anos - foi antecedida de cuidados especiais. Os chefes militares só admitiram Marcelo Caetano na condição de este dar garantias de continuar a guerra em África. Caetano aceitou. 

19 de agosto de 2018

Figuras da ditadura na toponímia de 78 concelhos. São 15 as ruas em Portugal com o nome de Salazar




Recurso à base de dados dos CTT permite perceber em que dimensão a memória das principais figuras do Estado Novo permanece no espaço público. Há 15 ruas com o nome de Salazar.


Quarenta e quatro anos após o fim da ditadura em Portugal, as figuras principais do regime mantêm-se presentes em ruas de pelo menos 78 concelhos do país e 15 delas têm o nome de Salazar. Entre ruas, largos, praças, avenidas, parques, travessas, pracetas e becos, mais de uma centena de topónimos associados a protagonistas do Estado Novo permanecem no espaço público, sobrevivendo à iniciativa de apagar, após o 25 de Abril de 1974, a ideologia política e as memórias dos 41 anos de ditadura, de acordo com a base de dados dos CTT facultada à Lusa.

Portugal: Estado Novo marcou arquitectura que mantém viva a estética do poder



Desde a Ponte 25 de Abril, batizada "Ponte Salazar" quando foi inaugurada, e mudou de nome com a revolução, em 1974, até ao Estádio Nacional do Jamor são muitas as obras arquitectónicas do regime que continuam "vivas"


O Estado Novo deixou marcas do regime e da estética do poder na arquitetura do país, em pontes, universidades, estádios e monumentos que guardam a memória da época da ditadura, alguns deles ainda hoje muito visitados.

Desde a Ponte 25 de Abril, batizada "Ponte Salazar" quando foi inaugurada, e mudou de nome com a revolução, em 1974, até ao Estádio Nacional do Jamor, que continua a receber todos os anos a final da Taça de Portugal, são muitas as obras arquitetónicas

Obra marcante do Estado Novo, a Ponte 25 de Abril foi projetada pelo Gabinete de Engenharia de Nova Iorque Steinman, Boynton, Gronquist & London com a intervenção do Gabinete da Ponte sobre o Tejo e o Laboratório Nacional de Engenharia Civil.

O sonho de Salazar para Portugal continua actual, conclui investigador Moisés de Lemos Martins



Um professor da Universidade do Minho estudou os discursos de Salazar e conclui que o seu imaginário permanece, de certa forma, no imaginário contemporâneo.

Trinta anos depois de estudar os discursos de Salazar, que traduzem o desejo de uma nação de figura maternal a sonhar por um império, as conclusões do investigador Moisés de Lemos Martins mostram um imaginário que permanece actual.

Por se manter actual, a editora Afrontamento publicou a 2.ª edição do livro “O Olho de Deus no Discurso Salazarista”, que reproduz a tese de doutoramento defendida por Moisés de Lemos Martins na Universidade de Ciências Humanas de Estrasburgo, em 1984.

O que o agora professor catedrático da Universidade do Minho fez foi estudar os discursos de Salazar, para tentar compreender a questão: por que razão o regime salazarista durou tanto tempo?

"O Portugal rural de Salazar transforma-se nas colónias num Portugal urbano" (Diana Teixeira)



Como construir nos trópicos em ditadura? Há uma espécie de projecto megalómano em África, de que a arquitectura e o urbanismo são entidades catalisadoras, quando as independências já tinham começado nas outras potências colonizadoras. “Como é que um país pobre, atrasado desenvolve, em paralelo, um esforço de instalação num território fora do seu perímetro?”, é uma das perguntas que Ana Vaz Milheiro explorou no seu novo livro.

Nos Trópicos sem Le Corbusier, novo livro de Ana Vaz Milheiro, é retratada a arquitectura colonial pública, que junta técnicas essenciais às condições meteorológicas e elementos que remetem para a metrópole, conferindo aos edifícios uma certa portugalidade nos territórios ultramarinos.

Moçambique: Lourenço Marques Cidade Portuguesa do Índico


12 de maio de 2018

Moçambique: Paleontólogo português descobre maior floresta fossilizada de África



O português Ricardo Araújo e dois paleontólogos moçambicanos anunciaram a descoberta da mais extensa floresta fossilizada do continente africano


O paleontólogo português Ricardo Araújo e dois colegas moçambicanos anunciaram hoje a descoberta, província de Tete, em Moçambique, da mais extensa floresta fossilizada do continente africano e do período Pérmico, com cerca de 250 milhões de anos.

“Esta descoberta contribui para o conhecimento de como eram as florestas num período imediatamente antes à extinção de mais de 95% da vida na terra, em que os ecossistemas ficaram totalmente destruídos”, disse à Lusa Ricardo Araújo, paleontólogo do Instituto Superior Técnico e do Museu da Lourinhã.

A descoberta é considerada surpreendente para a comunidade científica, uma vez que foram encontrados “troncos fossilizados de grandes dimensões e densamente povoados ao longo de mais de 75 quilómetros”, adiantou, dando o exemplo de “troncos de mais de 12 metros de altura, o que quer dizer que as árvores teriam o triplo da altura, e com dois metros de diâmetro”.

Moçambique: Mia Couto ataca a Frelimo em Pleno Encontro dos Camaradas



Mia Couto diz que partido no poder aborda alguns temas de forma superficial por isso os problemas nunca são resolvidos

Mia Couto esteve igual a si mesmo. Falou de peito aberto perante os “camaradas”. Diz que o partido no poder aborda alguns temas de forma superficial, por isso, os problemas nunca são resolvidos. Aponta como exemplo a distribuição da terra, que se diz ser propriedade do Estado e que não deve estar à venda, mas que a realidade mostra o contrário. Para o escritor, a terra é, sim, vendida no país e o partido no poder não deve tapar a vista diante deste facto. “Aqui é preciso não só corrigir, como também repensar a relação que o partido Frelimo tem com o fenómeno da urbanidade, da modernidade. Há dificuldades de lidar com essa complexidade. E essa dificuldade está bem patente, porque a Frelimo já perdeu três das quatro maiores cidades do país”, lembrou Couto, alertando que o partido no poder não deve tratar as pessoas apenas como eleitores, mas como cidadãos.

Mia Couto: "Paz em Moçambique deveria ser mais debatida"




O escritor moçambicano Mia Couto defende um debate mais alargado sobre a paz, não só entre os políticos mas também na sociedade civil. Em entrevista à DW África, fala ainda sobre os escândalos de corrupção no país.

Os moçambicanos vivem ainda uma paz com prazo de validade. O Governo moçambicano e o maior partido da oposição, a Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), acordaram em cessar as hostilidades até 4 de maio. Esta é a terceira trégua consecutiva, algo que alimenta as esperanças dos moçambicanos numa paz definitiva.

Durante a Feira do Livro de Leipzig, que terminou a 26 de março na Alemanha, a DW África falou com o escritor Mia Couto sobre a situação política, o combate à corrupção e a falta de transparência em Moçambique.

Mia Couto: Moçambicanos estão a pagar preço "desumano" por conflito



O que é preciso fazer para pôr fim ao conflito entre a RENAMO e o Governo da FRELIMO? O escritor moçambicano Mia Couto considera que as duas partes têm de fazer cedências para chegar a um entendimento, em nome do povo.

"O ambiente em Moçambique padece de uma certa doença esquizofrénica", afirma o autor em entrevista à DW África. "A RENAMO está representada no Parlamento, tem colocado questões às vezes muito pertinentes em relação à construção de soluções ou alternativas para a gestão do país. Agora, não se pode aceitar em nenhum lado do mundo que um partido discuta coisas no Parlamento e depois fora dele usa armas para combater o Governo", defende.

Tal como todos os moçambicanos, Mia Couto não deseja viver os horrores de uma nova guerra civil em Moçambique. Por isso, recomenda que o Governo e a Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) façam cedências para chegar a um acordo, de modo a pôr fim às hostilidades.

Opinião – Os pecados de Mia Couto



Anda por aí a solta uma verborreia canina contra o Mia Couto. Foi parida na geringonça da Renamo. O Mia anda a cometer pecados e devia se expiar extenuamente. Ele não aproveitou a semana santa para essa empreitada porque decidiu fazer uma ponte… entre a escrita e a sua paixão pela biologia.

O Mia é um traidor. Primeiro porque nasceu branco. Não devia. Depois, por ter um irmão chamado Fernando Amado Couto que, como se sabe, tem uma aliança empresarial com o general Chipande, que hoje está no centro do poder em Moçambique. Esse laço de sangue é uma fatalidade. O Mia devia se desunir do Amado Couto.

O grande pecado foi ele ter criticado essa propensão da Renamo para a chantagem política. Que é recorrente desde as eleições de 1999, quando, na sequência delas, a Frelimo começou a acarinhar financeiramente o líder da Renamo para amainar as suas tentações disruptivas. Tal como o Mia, são muitos os moçambicanos que discordam da natureza eternamente bélica da luta politica da Renamo. Por isso, o escritor que mais exporta a cultura moçambicana está a ser vexado, vilipendiado num chorrilho de insultos por ter usado a sua liberdade de expressão.

Moçambique vive "uma colonização mental"- Mia Couto



Maputo, 10 jun (Lusa) - O escritor moçambicano Mia Couto defende que, quarenta anos depois da independência, Moçambique vive uma "colonização mental", considerando urgentes e necessárias ideias que respeitam a realidade e a diversidade cultural do país.

"Nós ainda somos muito colonizados mentalmente e olhamos para a Europa como ponto de referência. Estamos sempre a pensar no nosso comportamento em função do outro", disse em entrevista à Lusa Mia Couto, por ocasião das comemorações dos 40 anos da independência do país.

De acordo com escritor moçambicano, são frequentes em Moçambique discursos de emancipação económica e política, mas, na verdade, os moçambicanos ainda precisam libertar-se dentro do seu próprio pensamento.

"Fala-se muito na emancipação, na libertação económica e política, mas o que é realmente urgente e necessário é criarmos um pensamento que seja fundado na realidade moçambicana, que é diversa", declarou Mia Couto.

Mia Couto, o canto magnético de Moçambique (por Sébastien Lapaque)



Testemunha engajada da independência de Moçambique, em 1975, e da guerra civil que se seguiu a ela, o grande escritor Mia Couto apropria-se do português para reinventá-lo. Como se o trabalho com a língua lhe permitisse oferecer aos seus concidadãos uma renovação do mundoSébastien Lapaque

Branco e moçambicano, Mia Couto, nascido em 5 de julho de 1955 em Beira, na margem do Oceano Índico, é biólogo de profissão e “escritor nas horas vagas”. Quando se evoca um escritor africano, imaginamos geralmente que este compõe suas obras em inglês, como o nigeriano Wole Soyinka e a sul-africana Nadine Gordimer, em francês, como o marfinense Ahmadou Kourouma, ou ainda em árabe, como o egípcio Alaa Al-Aswany…

29 de abril de 2018

Moçambique: Mia Couto, um passeio emocional por Maputo




O escritor moçambicano, biólogo de formação, guia-nos num percurso por Maputo ao sabor da natureza, da história e das suas recordações dos tempos da luta na Frelimo e do "carapau e do repolho".

Veem estas acácias rubras?", diz Mia Couto ao volante do seu jipe, apontando para as árvores de flores vermelhas que povoam as ruas por toda a cidade. "São a árvore típica de Maputo, mas vieram de Madagáscar. O nome técnico é delonix regia, ou flamboyant. Mas se começo a falar destas coisas que adoro nunca mais me calo... " Corrigimos. Fale por favor, é mesmo essa a ideia. Esta conversa-percurso com Mia por Maputo quer-se emocional, sem guião, feita ao sabor das árvores e das recordações.


Moçambique: Mia Couto e a paz



Um dos escritores em língua portuguesa mais traduzidos para o mundo fala dos 20 anos de paz em Moçambique, e de como as guerras mexeram com seu país e sua literatura

Há 20 anos, a guerra civil travada entre o grupo governista Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo) e as forças rebeldes da Resistência Nacional ­Moçambicana (Renamo) chegava ao fim. Há 20 anos, o escritor moçambicano Mia ­Couto lançava seu primeiro romance. Terra Sonâmbula tem o conflito como pano de fundo para a história de um velho e um menino que encontram em um baú perdido cadernos com escritos sobre a desesperança. No livro, o autor mistura numa narrativa saborosa o idioma escrito e a tradição oral africana.

Moçambique enfrentou dez anos de guerra. Primeiro, para se emancipar de Portugal. Com a fundação da República Popular de Moçambique, em 1975, o governo foi entregue à Frelimo, partido único, de orientação socialista. Após a independência, mergulhou em novo conflito, na disputa interna pelo poder, até a assinatura do Acordo Geral de Paz entre os dois grupos, em 1992. Hoje, Frelimo e Renamo são partidos e disputam pacificamente o poder. Antes, a partir de 1986, com a morte do ditador e herói libertador do ­país, Samora Machel, o governo liderado Joaquim Chissano promoveu aberturas no regime e na economia. 

Moçambique: A Frelimo que eu abracei não é a mesma de hoje (Mia Couto)



PLATAFORMA MACAU - Como observa a situação política em Moçambique, tendo em conta a recente crise político-militar e as eleições de Outubro último?

MIA COUTO - Eu acho que nós estamos numa situação que é preciso arrumar a casa dentro das próprias forças partidárias. É preciso que tanto a Frelimo, a Renamo e Movimento Democrático de Moçambique (MDM) se acertem internamente para melhor percebermos que propostas trazem aos moçambicanos. Porque no fundo, a grande armadilha, é que estamos a discutir nomes e cores políticas, mas não estamos a discutir uma filosofia, uma proposta concreta para vermos o que é diferente nas ideias de cada um destes partidos.

Isso ficou claro no último congresso da Frelimo. Percebeu-se que existem propostas diferentes, mas estas linhas não são só pessoas são ideias. Em vez de discutirmos ideias, propostas do futuro, estamos a discutir nomes e isso não garante um futuro que nos habilita a sermos felizes. Agora, eu compreendo, isso são fases históricas. Por muito que eu pense que devia ser de outra maneira, a história é assim mesmo.

28 de abril de 2018

15 de Março de 1961 (Helena Matos)



A 15 de Março de 1961, cinco a seis mil portugueses foram assassinados em Angola. Esses mortos nunca estiveram no lugar certo. Antes do 25 de Abril de 1974 eles foram inconvenientes porque, numa primeira fase, atestavam a imprevidência do regime que não acautelara a segurança daquelas pessoas como era sua obrigação, e posteriormente porque a vontade de mostrar que a guerra estava reduzida à Guiné e a algumas zonas de Moçambique levava a que estes mortos fossem esquecidos.

Após o 25 de Abril estes portugueses continuaram a ser omitidos, pois os seus corpos repetidamente violados, empalados e queimados atestavam na brutalidade de que tinham sido vítimas que aquilo a que se chamava movimentos de libertação não tinham nada de libertadores nem de civilização. Antes pelo contrário. E sobretudo porque esses cadáveres de brancos, pretos e mulatos não se coadunavam com o decálogo revolucionário que transformava os fazendeiros brancos em opressores contra os quais se tinham levantado os seus trabalhadores negros.

Chamaram-lhes retornados (Helena Matos)



Foi no último dia de Março, há 40 anos. Nascia o IARN. Os retornados já estavam aí, mas ainda não se chamavam retornados. Muitos vindos de Moçambique, onde contra eles se fizeram as leis mais abjectas

Em 1975 uma palavra entra na actualidade portuguesa: retornados. Há precisamente 40 anos, os colonos, os brancos, os africanistas, os europeus, os ultramarinos, os residentes ou os metropolitanos do Verão de 1974 que entretanto tinham passado a desalojados, regressados, repatriados, fugitivos, deslocados e refugiados, tornam-se por fim retornados.

Mas antes de lhes reconhecerem a existência, os responsáveis políticos e militares discutiram em Lisboa a possibilidade de os proibir de deixar as antigas colónias e acusaram-nos de colonialismo e de reaccionarismo por quererem fugir.

Crónica de Natal (4): 1975, o ano de todos os retornados (Paulo de Almeida Sande)



20 anos depois, na sua casa da Rodrigo da Fonseca, o velho africano de Sumbe pede: “não me falem de Angola, não quero saber”; e contudo, durante anos, frequentou a tertúlia dos angolanos ao Rossio.

A conversa passa-se na varanda de uma vivenda algures na província do Quanza-Sul, numa cidade hoje chamada Sumbe (então Novo Redondo). Diz o militar recém-chegado da metrópole ao cunhado: “tira daqui o teu dinheiro, vende a casa, isto vai rebentar”. Responde o outro: “esta é a terra onde nasci meu caro, os meus filhos são do planalto, os netos crescerão angolanos e os meus ossos cá apodrecerão – só morto saio da minha terra”.

No ano de 1975 ocorreu uma das maiores e mais rápidas transumâncias humanas de que há memória: mais de meio milhão de pessoas deixaram casas e haveres e voltaram a uma terra de que boa parte delas não partira. O êxodo foi também um dos que se fez a maior distância, dos fundos de África à Ocidental praia lusitana.

25 de março de 2018

Salazar e Alfredo Pimenta – Correspondência, 1931-1950 (Agosto 2008)



É um dos acontecimentos editoriais do ano, esta correspondência entre um monárquico paradoxal a quem o Cardeal-Patriarca chamava “escritor perigoso” e o inquilino de S. Bento.

Abrange uma das mais extensas correspondências privadas que se conhece de Salazar, pois abarca fundamentalmente o período de 1936 a 1950. Alfredo Pimenta foi um dos mais temíveis polemistas do seu tempo. Personalidade contraditória, conceituado medievalista, católico tradicionalista, uma das maiores vítimas da censura criada pelo político que ele tanto admirava, apaixonado pela política nazi, verrinoso e sempre a indispor-se com toda a gente, assumiu-se publicamente como um dos apoiantes incondicionais de Salazar e confessa-o nesta extensíssima correspondência que é de leitura obrigatória para melhor para melhor compreender o consulado do professor de Direito Económico que veio “salvar” as finanças no tempo da ditadura militar (Salazar e Alfredo Pimenta, Correspondência 1931-1950, Prefácio Manuel Braga da Cruz, Verbo 2008).

Os Dias do Fim de Ricardo Saavedra (2014)


Contra-subversão em África de John P. Cann (2005)



Reeditado pela Prefácio Editora em 2005 após uma primeira edição em 1998, ao longo das 226 páginas, «Este livro é a história das Campanhas na perspectiva dos militares portugueses. Aborda o conflito através de uma análise militar temática do esforço de contra-subversão desde as revoltas em Angola, a 4 de Fevereiro e 15 de Março de 1961, até ao golpe militar de 25 de Abril de 1974, em Lisboa. Descreve o modo como Portugal definiu e analisou o problema, como desenvolveu as suas próprias política e doutrina militares, e como as aplicou ao ambiente colonial africano. Tem ainda como objectivo demonstrar como a estratégia nacional portuguesa de economizar e preservar os seus fracos recursos se traduziu em acções nos níveis de campanha e táctico e como esta estratégia foi eficaz ao permitir que Portugal dirigisse uma constante e longa campanha em três colónias distantes. Ao seguir estratégias de campanha simultaneamente abrangentes e restritas, Portugal tentou quebrar a organização dos movimentos nacionalistas através da acção de agentes e opor-se à acção armada por meio de força militar e de pressão diplomática apropriadas. Simultaneamente, procurou proteger as populações do contacto com os revoltosos e conseguir a sua lealdade, elevando os seus padrões de vida e atendendo às suas queixas. Estes elementos, a sua combinação específica e o modo como foram executados, reflectem aquilo que se pode classificar como “o modo português de fazer a guerra”.» (pp. 11/12)

Combater em Moçambique. Guerra e Descolonização. 1964-1975 de Manuel Amaro Bernardo (2003)



Editado em 2003, "Combater em Moçambique. Guerra e Descolonização. 1964-1975", de 435 páginas é mais um trabalho interessante da autoria de Manuel Amaro Bernardo que vale a pena ler. Inclui depoimentos de combatentes como o do Coronel Pára-quedista Sigfredo Costa Campos.

«Eduardo Chivambo Mondlane nasceu em Manjacaze (Gaza), em 1920. Frequentou a Missão Suíça em Lourenço Marques, onde fez os estudos liceais. Depois ter tentado, sem êxito, fazer o curso na Universidade de Witwatersand, na África do Sul, devido ao apartheid, regressou a Moçambique. Foi então apoiado com uma bolsa do Estado, oferecida pelo Director dos Serviços de Instrução Pública, tendo seguido para Lisboa onde fez o curso de Letras. Mais tarde, “porque queria continuar num curso especializado, tive que ir para os Estados Unidos, onde fiz outros graus”.

Foi o próprio Mondlane quem, ao agradecer o banquete oferecido em sua honra, em 1961, no Hotel Xai-Xai, de João Belo, pelas autoridades do distrito, descreveu a sua experiência educativa em Moçambique e Lisboa.

Portugal: Palácio de Cristal (Porto)

Portugal: O Seculo Ilustrado Nº 1897 de 18 de Maio de 1974