19 de agosto de 2018

Portugal: Estado Novo marcou arquitectura que mantém viva a estética do poder



Desde a Ponte 25 de Abril, batizada "Ponte Salazar" quando foi inaugurada, e mudou de nome com a revolução, em 1974, até ao Estádio Nacional do Jamor são muitas as obras arquitectónicas do regime que continuam "vivas"


O Estado Novo deixou marcas do regime e da estética do poder na arquitetura do país, em pontes, universidades, estádios e monumentos que guardam a memória da época da ditadura, alguns deles ainda hoje muito visitados.

Desde a Ponte 25 de Abril, batizada "Ponte Salazar" quando foi inaugurada, e mudou de nome com a revolução, em 1974, até ao Estádio Nacional do Jamor, que continua a receber todos os anos a final da Taça de Portugal, são muitas as obras arquitetónicas

Obra marcante do Estado Novo, a Ponte 25 de Abril foi projetada pelo Gabinete de Engenharia de Nova Iorque Steinman, Boynton, Gronquist & London com a intervenção do Gabinete da Ponte sobre o Tejo e o Laboratório Nacional de Engenharia Civil.


Mesmo após a construção da segunda passagem sobre o Tejo, a Ponte Vasco da Gama, inaugurada em 1998, que recebe uma média diária de 50 mil veículos por dia, a Ponte 25 de Abril continua a liderar o tráfego automóvel, com cerca de 130 mil veículos por dia.

Os regimes totalitários usaram desde sempre a arquitetura para manifestar o seu poder e mostrar a superioridade do Estado através da construção de edifícios públicos grandiosos, com uma estética da monumentalidade.

Características deste tipo de arquitetura eram as proporções monumentais, o estilo híper-realista, a simulação de movimento, as linhas retas e homogéneas, o enaltecimento do esforço físico, do trabalho braçal e do corpo.

Em todos os países totalitários, como em Portugal nessa época, predominava uma estética do culto do herói e da modelagem do coletivo, com a valorização do desporto como forma de incutir nos jovens a disciplina e fortalecer a identidade nacional.

Exemplo disso é o Estádio Nacional do Jamor, projetado por Miguel Jacobetty Rosa, que continua hoje a ser usado para espetáculos culturais e desportivos, sobretudo a tradicional final da Taça de Portugal, que ali atrai anualmente milhares de adeptos.

Inaugurado a 10 de Junho de 1944 pelo próprio Oliveira Salazar, com capacidade para 37.500 pessoas, o Estádio Nacional ou Estádio de Honra, foi criado para promover a prática do desporto e também como espaço para demonstrações públicas inspiradas nos princípios políticos vigentes.

As linhas do projeto foram fortemente influenciadas pelo Estádio Olímpico de Berlim, na Alemanha, criado para os jogos de 1936.

Ainda em Lisboa, mantêm-se o Padrão dos Descobrimentos, e o Museu de Arte Popular, os únicos edifícios que restaram da Exposição do Mundo Português, realizada em 1940 para celebrar o duplo centenário da Fundação de Portugal (1140) e a Restauração da nacionalidade (1640).

O Padrão dos Descobrimentos, que celebra a epopeia marítima dos portugueses, tem recebido cerca de 200 mil visitantes nos últimos anos.

Outros edifícios, na capital, que mostram a estética do Estado Novo são, no ensino, as instalações do Instituto Superior Técnico, na área das obras de caráter social, o Bairro de Alvalade e, na área da cultura, o Cinema Capitólio, que abriu ao público em 1931, no Parque Mayer, antigo recinto de diversões.

Projetado pelo arquiteto Luis Cristino da Silva (1896-1976), o cineteatro foi considerado um manifesto sem precedentes do espírito do modernismo em Portugal, mas encontra-se atualmente desativado.

Em Coimbra existem também algumas edificações emblemáticas do Estado Novo, como a parte nova da cidade universitária de Coimbra, e o parque temático Portugal dos Pequenitos, no mesmo distrito, criado para mostrar aspetos do património português no país e no mundo.

Criada entre 1941 e 1975, a Cidade Universitária de Coimbra é considerada uma das mais significativas intervenções urbanísticas do regime salazarista.

Afirmou-se como uma obra de regime, constituindo, a par dos tribunais, uma das mais expressões relevantes da arquitetura de poder do Estado Novo.


Fonte: sapo.pt, 18 Abril 2014