15 de dezembro de 2014

Moçambique: Campeonato Provincial do Maputo de Futebol de Cinco (1976)


O choque cultural do "retorno": A vida em Moçambique e a vida em Portugal



O choque cultural do "retorno": A vida em Moçambique e a vida em Portugal, uma narrativa na 1ª pessoa (Sérgio Guimarães)
Introdução
Este trabalho centra-se na história verídica do seu autor, narrada na primeira pessoa, e onde se irão encontrar alguns relatos que encontram equivalência em algumas das situações expressas no texto que à frente transcrevo, e que é nota introdutória do livro de Rita Garcia. A narrativa vai incidir sobre a cultura e modos de vida em Lourenço Marques (Moçambique) nos anos pré 25 de Abril de 1974, e posteriormente vai situar-se numa pequena vila do norte de Portugal, de nome Caldas de Vizela, local de onde era oriundo o pai do autor e onde residia grande parte da família deste, sendo também o local para onde o autor foi residir após a saída de Lourenço Marques. A principal intenção deste trabalho é dar a conhecer a cultura da classe média residente em Lourenço Marques nos inícios da década de 70 e que na sua quase totalidade era constituída por pessoas de raça branca, dando algumas notas sobre a construção nacional da identidade neste país. Tenho também como segunda intenção e ambição de desmistificar um pouco o conceito que existe na sociedade portuguesa, e que considero pouco correcto, de que os “retornados” eram “colonialistas exploradores dos povos africanos”, correndo o risco de estar errado, considero ser um conceito formado pela construção duma entidade social nacional pós 25 de Abril em que havia a necessidade extrema de condenar tudo o que estava relacionado com o antigo regime, sendo os “retornados” catalogados como colaboradores desse mesmo regime. Não tenho qualquer intenção de transmitir aqui um discurso ou mensagem politica ou partidária, apenas pretendo transmitir um pouco da cultura onde nasci e dar a conhecer uma realidade que foi de alguma maneira desconhecida pela maioria dos portugueses residentes em Portugal.
Após o 25 de Abril de 1974, a maioria dos Portugueses residentes nas ex-colónias, consideradas até à data como províncias de Portugal, foram forçados a abandonar os territórios onde viviam e tiveram que ir viver para outros países, sendo que a maioria veio para Portugal, alguns como retornados e outros como o autor, os que haviam nascido nas ex-colónias, vieram conhecer pela primeira vez a “Metrópole”, como era apelidada. A título de introdução ao trabalho, transcrevo a nota introdutória do livro de Rita Garcia “Os que vieram de Africa”, onde é referenciado o drama pelo qual passaram muitos dos residentes nas ex-colónias que vieram viver para Portugal.

Ricardo Araújo Pereira escreve ao primeiro-ministro

Caro Sr. primeiro-ministro,
O conjunto de medidas que me enviou para apreciação parece-me extraordinário. Confiscar as pensões dos idosos é muito inteligente. Em 2015, ano das próximas eleições legislativas, muitos velhotes já não estarão cá para votar. Tem-se observado que uma coisa que os idosos fazem muito é falecer. É uma espécie de passatempo, competindo em popularidade com o dominó. E, se lhes cortarmos na pensão, essa tendência agrava-se bastante. Ora, gente defunta não penaliza o governo nas urnas. Essa tem sido uma vantagem da democracia bastante descurada por vários governos, mas não pelo seu. Por outro lado, mesmo que cheguem vivos às eleições, há uma probabilidade forte de os velhotes não se lembrarem de quem lhes cortou o dinheiro da reforma.
O grande problema das sociedades modernas são os velhos. Trabalham pouco e gastam demais. Entregam-se a um consumismo desenfreado, sobretudo no que toca a drogas. São compradas na farmácia, mas não deixam de ser drogas. A culpa é da medicina, que lhes prolonga a vida muito para além da data da reforma. Chegam a passar dois e três anos repimpados a desfrutar das suas pensões. A esperança de vida destrói a nossa esperança numa boa vida, uma vez que o dinheiro gasto em pensões poderia estar a se aplicado onde realmente interessa, como os swaps, as PPP e o BPN.
Se me permite, gostaria de acrescentar algumas ideias para ajudar a minimizar o efeito negativo dos velhos na sociedade portuguesa:
1. Aumento da idade da reforma para os 85 anos. Os contestatários do costume dirão que se trata de uma barbaridade, e que acrescentar 20 anos à idade da reforma é muito. Perguntem aos próprios velhos. Estão sempre a queixar-se de que a vida passa a correr e que vinte anos não são nada. É verdade: 20 anos não são nada. Respeitemos a opinião dos idosos, pois é neles que está a sabedoria.
2. Exportação de velhos. O velho português é típico e pitoresco. Bem promovido, pode ter grande aceitação lá fora, quer para fazer pequenos trabalhos, quer apenas para enfeitar um alpendre, ou um jardim.
3. Convencer a artista Joana Vasconcelos a assinar 2.500 velhos e pô-los em exposição no MoMA, em Nova Iorque.
Creio que são propostas valiosas para o melhoramento da sociedade portuguesa, mantendo o espírito humanista que tem norteado as suas políticas.

Cordialmente,
Nicolau Maquiavel

O presépio


24 de outubro de 2014

Um penico cheio!...


5 de outubro de 2014

José Forjaz: “A nossa sociedade não tem consciência ambiental”


José Forjaz é céptico em relação à consciência ambientalista dos moçambicanos. Para si, na prática, ela não existe. Também reprova a ideia prevalecente – até no seio das (nossas) administrações políticas – segundo a qual a modernidade de uma cidade tem a ver com a edificação de prédios muito altos. O reputado arquitecto tem ideias claras sobre uma urbe moderna: “É aquela em que se garante a manutenção da dignidade humana”. Entre um misto de atropelos ambientais, que nesta urbe se cometem, em relação aos espaços verdes, Forjaz lamenta o que chama “especulação do solo urbano cujo objectivo primário, único e último é render muito dinheiro em pouco tempo”. A par disso – e os efeitos do chamado aquecimento global já se manifestam – esta personalidade moçambicana vê a criação contínua e desenfreada de uma dívida onerosa para as gerações futuras. Com a intenção de explorar os seus conhecimentos sobre os tópicos aqui arrolados, há dias, visitámos-lhe na sua casa, onde mais ouvimos do que falámos. Em resultado disso, mas sobretudo da grande relevância do escutado, foi-nos difícil recortar a conversa. Portanto, estimado leitor, apresentámos-lhe o texto na íntegra, na esperança de que – amante do saber que é – o absorverá por completo. Boa leitura…
 
@Verdade: Tendo em conta a situação das praia da Costa do Sol e da Katembe, em Maputo, pode-se falar de algum crime ambiental?
 
José Forjaz: O crime ambiental é um conceito lato e, portanto, difícil de definir. É evidente que há uma sucessão de infracções ambientais praticadas, que continuam a ocorrer na cidade, muitas vezes, até, contra planos aprovados pelo Governo. Por exemplo, já nos anos 1960, quando aquela região pertencia à Administração de Marracuene, permitiu-se a destruição do mangal com a construção do bairro do Triunfo. Na altura, a Administração de Lourenço Marques tinha-se recusado a autorizar a realização de construções nesse espaço. Entretanto, por desvios administrativos, as pessoas foram edificar o Triunfo no terreno que pertencia às autoridades de Marracuene.
 
Este foi o primeiro erro, porque se violou o princípio da proteção das terras baixas e dos mangais. Tratou-se de uma falha que se foi agravando de tal maneira que se gerou uma posição tacitamente aceite por todas as pessoas, e sobretudo pelas autoridades responsáveis, como natural. O Plano de Estrutura do Maputo definiu algumas restrições em relação à exploração desse território, mas, da forma como o caso está a ser tratado, compreende-se que está a ser autorizada a destruição progressiva e intensiva do mangal.
 
Portanto, este é um dos vários crimes ambientais que se podem apontar. Muitas vezes, estes crimes não são praticados por instintos criminosos, mas por causa de uma ignorância básica em relação às condições do equilíbrio ecológico de uma região e de uma cidade. É evidente que uma cidade que tivesse uma população mais esclarecida (e para isso era necessário que todo o povo moçambicano tivesse outro nível cultural que ainda não atingimos) haveria uma reacção popular mais forte. E, talvez, poder-se-ia lutar contra este tipo de desvios urbanísticos que se estão a praticar.
 
Em relação a outros crimes ambientais, é difícil ser-se objectivo. De todos os modos, algumas indicações podem ser dadas. Eu preferia até não ir muito por essa direcção, a fim de olhar para situações muito simples como, por exemplo, a destruição progressiva das zonas verdes de Maputo que continua a acontecer de várias maneiras. Podemos começar por aquele jardim na Avenida 24 de Julho que está a ser diminuído com a implantação de um edifício. Está-se, na verdade, a retirar mais uma área verde, indispensável, à urbe. Vemos várias intenções na destruição do Parque dos Continuadores com a autorização da construção de mais um edifício em que irá funcionar uma instituição bancária.
 
Enfim, tudo isto ocorre devido à ignorância das nossas autoridades administrativas e políticas que julgam que todos estes pequenos favores que fazem aos seus correligionários políticos não têm impactos ambientais. A verdade é que têm impactos ambientais muito graves. As gerações futuras vão pagar um preço muito alto pelo que está a acontecer na actualidade. Há outros crimes, talvez não de natureza ambiental, mas que prefiguram a dimensão mais dura na medida em que afectam a vida humana, a componente importante do ambiente, em estado permanente de abandono, sempre justificado mas nunca justificável.
 
Refiro-me à urgência de um tratamento sério das necessidades da população marginal em relação ao centro do Maputo. É um crime ambiental – quanto a mim, grave – porque as pessoas continuam sem infra-estruturas, apesar de se tentar começar tarde e a más horas, a desenvolver algumas acções de reabilitação e reordenamento dos bairros espontâneos ou informais. O facto é que não se está a fazer praticamente nada. A cidade continua a crescer impossivelmente sem condições aceitáveis de transporte e as que estão a ser imaginadas são megalómanas e, provavelmente, impossíveis de se manter dado os preços que se vão praticar.
 
Outro crime ambiental de que, infelizmente, não se fala bastante – cuja prevenção é determinante para a saúde das populações – é o que está a acontecer às águas da baía: o progressivo inquinamento, pelo não tratamento dos esgotos e a não restrição à má qualidade dos afluentes industriais descarregados na baía, cria uma situação sanitariamente perigosa, sobretudo, quando as praias são muito usadas, como acontece no Verão. A inquinação gera um perigo iminente e profundo para centenas de milhares de pessoas.
 
Não se está a falar disso, não se previnem os banhistas, pese embora, já nos anos antes da proclamação da independência nacional, metade da frente marítima de Maputo fosse proibida aos utentes, porque se sabia do agravamento do inquinamento que – neste momento, em meu entender – abrange toda a praia da Costa do Sol. Nenhum programa de prevenção, para as populações, está a ser desenvolvido pelas nossas autoridades sanitárias. Trata-se de um problema que tem a ver com os altos níveis de ignorância por parte das nossas autoridades administrativas. Não quero acreditar que estão a agir de má-fé. Existe uma impotência política para prevenir as pessoas. Em resultado disso, há escolhas erradas sobre aquilo que é prioritário fazer na cidade.
 
@Verdade: Há um conceito, até das nossas autoridades administrativas, segundo o qual os grandes edifícios que se erguem em Maputo revelam a tendência de modernização da cidade. Até que ponto essa modernização é, ambientalmente, sustentável?
 
José Forjaz: Essa ideia de que ser moderno é ter edifícios altos é primária e falsa. As cidades mais modernas do mundo continuam com edifícios, em geral, com menos de quatro andares. Na verdade, o que está a acontecer não é nenhuma modernização urbana. É uma especulação desenfreada do solo urbano, para benefício de entidades privadas e administrativas, cujo objectivo primário, único e último, é render muito dinheiro em pouco tempo. Pretende-se fazer o menos possível para ganhar o mais possível em pouco tempo. Isso só pode ser controlado se houver autoridades competentes e actuantes nesse sentido.
 
Para mim, a modernização urbana seria a possibilidade de se dar mais esgotos, passeios bem tratados, energia eléctrica às pessoas, incluindo todas as condições infra-estruturais suficientes para se manter a dignidade humana. A modernidade seria não permitir, por exemplo, que edifícios com 14, 18 ou 20 andares não tenham elevadores a funcionar. Enquanto a lei preconiza que qualquer edifício de mais de três andares deve ter um elevador a funcionar, a maioria dos elevadores dos edifícios altos da cidade está num estado de manutenção lamentável e perigoso.
 
Se a situação não estiver de acordo com a lei, deve haver uma intervenção por parte das autoridades. O problema é que os próprios ministérios funcionam em edifícios com 14 a 20 andares, há mais de 20 anos sem elevadores e ninguém fiscaliza isso. A situação é preocupante e revela o nosso atraso em relação à modernidade. De qualquer modo, tudo é uma questão de opção. Ou se opta por uma liberalização completa e uma protecção absoluta ao especulador, ou se opta por uma progressiva moralização da actividade de exploração fundiária da cidade e, por fim, deve optar-se também por menos banquetes e mais limpezas dos esgotos e das sarjetas da urbe.
 
É entre estas as possibilidades que se deve escolher o que fazer em Maputo. De facto, eu já ouvi as autoridades administrativas a afirmarem que uma cidade moderna é a que tem prédios altos. Há pouco tempo fizemos o projecto de um edifício importante na cidade e as autoridades administrativas ficaram tristes com o facto de esse prédio ter menos de 20 andares, contrariamente ao que esperavam. Confunde-se a modernização urbana com a existência de prédios muito altos. É uma estupidez profunda pensar-se que uma cidade moderna é a que tem edifícios enormes.
 
Infelizmente, a maioria dos nossos citadinos pensa que são válidos e louváveis os exemplos de supostas cidades modernas tão insustentáveis como Dubai. Se forem estes os exemplos que temos como válidos, então, estamos mal, porque Dubai é uma selvageria absoluta. E embora, agora esteja coberta com as balelas da existência de edifícios ecologicamente sustentáveis – outra aldrabice patente – aquela urbe é contra a modernidade. Como é que um deserto, que é um espaço naturalmente condicionado e artificialmente habitado pode ser ecologicamente sustentável? Penso que 99,9 porcento dos nossos concidadãos não têm a noção clara do que é um território ecologicamente sustentável. Neste número incluo as autoridades administrativas, em geral.
 
@Verdade: Até que ponto Maputo está em condições de receber novos edifícios, tendo em conta que alguns são erguidos em locais onde outros foram removidos?
 
José Forjaz: Isso não tem uma resposta absoluta e completa, porque há edifícios que atingiram a sua idade de vetustez e têm de ser demolidos. Há outros que poderiam ser construídos dentro da escala anterior. O que acontece é que o prédio que está ultrapassado na sua idade não é rentável para ninguém. Por isso, a sua substituição é natural – acontece em qualquer lugar. Infelizmente, no mundo, por razões de vária ordem – sociológica, económica e técnica – os edifícios, actualmente, duram pouco. A vida útil de um edifício estima-se entre 30 e 50 anos.
 
Ou seja, há prédios que nem duram a vida de uma pessoa, contrariamente ao que acontecia antigamente em que os edifícios eram feitos de pedra e de tijolo, o que lhes conferia uma grande longevidade. Por exemplo, na Europa, em África e na Ásia há edifícios com entre 300 e dois mil anos que cumprem, perfeitamente, o propósito da sua criação. O Panteão, em Roma, foi construído no ano 100 da nossa era e ainda existe. É uma igreja que funciona impecavelmente. O betão que se fabrica actualmente, contrariamente ao que as pessoas pensam, é um material que dura muito menos tempo do que a pedra e o tijolo. Portanto, os edifícios têm que ser repostos. Nos sítios já demarcados para o efeito, não vejo nenhum problema em que se construam prédios. Pelo contrário, quanto mais denso ficar o centro da urbe melhor.
 
O importante é resolvermos os problemas que se levantam com a densificação. Os edifícios mais antigos podem e, em muitos casos, devem ser substituídos. O problema é como esse processo é feito. Mas também o que está a acontecer é que nós estamos a permitir que se construam prédios substanciais em termos de quantidade de pessoas que se vão alojar neles e não estamos a desenvolver as infra-estruturas para acompanhar essa transformação. Esse é um problema que vai rebentar daqui a pouco tempo, quando repararmos que já não temos água, esgotos, e muito menos energia eléctrica.
 
@Verdade: Quais é que são os prováveis impactos dessa situação?
 
José Forjaz: As coisas vão funcionar cada vez pior do que estão. Como acontece em Luanda, cada edifício precisará de ter uma central eléctrica própria; teremos de ir buscar água com carros de tanques para alimentá-los; os esgotos passarão a funcionar numa pequena rede que, em resultado disso, deverá ser ampliada; e, portanto, há coisas que vão ter que se paralisar, sem pensar nas complicações de saúde mental das pessoas. A ansiedade será grande.
 
@Verdade: A baía de Maputo, sobretudo a avenida Marginal, tornou-se um ponto que atrai o surgimento de novas infra-estruturas como, por exemplo, os supermercados. O problema é que esta urbanização implicou a consequente remoção de espécies vegetais muitas das quais não estão a ser repostas ou que não sobreviveriam em geografias diferentes daquela. Quer comentar?
 
José Forjaz: Referiu-se a uma coisa que, antes de ser criminosa, é ridícula. Como é que se permite construir um supermercado na frente marítima? Há alguma coisa que melhora o funcionamento de um estabelecimento comercial por estar localizado numa frente marítima? Que valor se acrescenta à cidade a vender-se farinha em frente ao mar? Há uma estupidez maior do que colocar um centro comercial na frente marítima? As coisas começam por aí. Vivemos uma situação tão permissiva em que facilmente se permite um crime desta natureza, de tal sorte que as pessoas pensam que está tudo bem.
 
Sobre a questão da retirada das espécies já nos referimos quando falámos do mangal que é insubstituível, porque as condições da sua existência implicam a entrada e a saída das águas do mar. As espécies vegetais que podem ser repostas nas zonas do mar são um problema menor, mas seria muito melhor se fossem nativas. De qualquer modo, tudo isso é difícil discutir em poucas palavras porque são conceitos que além de científicos são estéticos e de outra ordem. Repare que a maior parte das nossas espécies de fruta é importada de outros ecossistemas: a papaia, a manga e o caju, por exemplo, não são espécies nativas de Moçambique.
 
Portanto, põe-se em discussão se realmente essa pureza de que não se pode trazer nada para cá, porque, se se procedesse assim, não teríamos, por exemplo, o milho, o arroz e uma série de produtos indispensáveis à nossa dieta. Eu não estou a defender que se tragam espécies de outros países para plantar na nossa frente marítima. O que estou a dizer é que é preciso ter cuidado com certas visões limitativas em relação a este fenómeno.
 
@Verdade: Há um fenómeno interessante concernente a esta relação homem-terra-mar em que, vezes sem conta, avaliando o movimento das águas, ficamos com a impressão de que o mar se aproximou mais da terra, e, em sentido contrário, percebe-se que a terra, através das construções edificadas na costa é que se aproximou do mar. O que é que está a acontecer ao certo aqui?
 
José Forjaz: Não posso dar uma resposta simples e directa a esta pergunta, por várias razões. Primeiro, porque não sou um especialista da dinâmica marinha. Segundo, porque os casos são diferentes uns dos outros. O que está a acontecer na baía de Maputo, como no lado da Katembe, é resultado de fenómenos de dinâmica marinha que ainda não são perfeitamente conhecidos. Não se tem a noção exacta do que está a acontecer.
 
São fenómenos imprevisíveis, mesmo para os mais altos níveis de conhecimento científico, porque são globais. Não são inerentes exclusivamente à costa moçambicana. Há muitos locais no mundo onde a praia está a ser ‘comida’ e outros onde ela está a ser aumentada. Quando pequeno, eu gostava de ir tomar banho na praia da Figueira da Foz, em Portugal, que era uma prainha de 50 metros. Agora possui 500. Mas há outra praia, no sul de Lisboa, que está a desaparecer. Portanto, estamos diante de fenómenos muito complexos que não podem ser atribuídos a uma má gestão urbana das zonas ribeirinhas.
 
Entretanto, vezes há em que intervenções humanas agravam a situação, enquanto outras melhoram-na durante algum tempo, porque contra o mar não há forças humanas possíveis de salvaguardar um status quo permanente. No meio de tudo isto, há um problema pontual para o qual nós temos de criar defesas psicológicas: O facto de a nossa população estar a ser recentemente urbanizada tem a ver com o desconhecimento de como se vive na cidade. A sua geração começa a saber, mas a minha e a dos seus avós é uma geração que, de uma forma geral, vivia nas zonas rurais, onde mantinha correcta e naturalmente um equilíbrio com o meio ambiente.
 
Na aldeia não há lixo, primeiro, porque as pessoas não produzem tanto e sabem ver-se livre dele. Ainda hoje, qualquer aldeia rural moçambicana é um modelo de organização. Mas quando as pessoas vêm para a cidade – e deixa de haver o controlo social em relação à coesão e a integração das forças locais – sempre se incumbe a responsabilidade ao outro e à administração. Por exemplo, nos estádios onde estiveram a ver o seu país a jogar, os espectadores japoneses que foram ao Brasil, no âmbito da Copa do Mundo de 2014, antes de saírem tinham um saquinho, com a bandeira do Japão, onde meteram todo o lixo que produziram.
 
Os alemães fizeram o mesmo. Em resultado disso, o local onde estavam sentados, quando saíram, estava impecável. Em contra-senso, os brasileiros, porque tinham perdido, foram partir a cidade. Aqui há um aspecto fundamental que tem a ver com a cultura urbana e humana que os brasileiros ainda não atingiram. Nós os moçambicanos também ainda não a atingimos, porque se formos à praia deitamos garrafas em qualquer lugar, como tem estado a acontecer, e no dia seguinte a praia é impraticável.
 
Ora, você acha que alguém dos 100 porcento de pessoas que vão à praia se preocupa em fazer alguma limpeza? Há uma questão de cultura urbana que ainda não foi atingida. Ela vai ser alcançada, devagarinho, mas nós temos de ser claros acerca disso. Não devemos esconder e, em jeito de paternalismo, dizer que somos pobres. Aos japoneses ninguém ofereceu os sacos de lixo. Portanto, é uma questão de atitude. Eu vejo, na cidade, quando estou a conduzir, pessoas a deitar latas de cerveja pelas janelas do carro, sem qualquer espécie de pensamento de que esse comportamento, além de ilegal, é contra a saúde pública.
 
@Verdade: Não estaremos diante de um caso que precisa de uma espécie de educação cívica mais actuante?
 
José Forjaz: A educação começa em casa e na escola. O problema é que quando é o professor quem faz isto, como muitas vezes acontece, o aluno não aprende. A outra dificuldade tem a ver com o facto de se não explicar, às pessoas, as razões de se ter de mudar de atitude. Não é simplesmente pela necessidade de se ter um espaço mais limpinho. É que ficar limpo corresponde aos mais altos níveis de saúde e reduz os investimentos públicos nesse aspecto.
 
@Verdade: O que se pode fazer?
 
José Forjaz: Pode-se educar as pessoas. Agora, não se educa muito pois aquilo que se transmite às gerações é quanto mais rico se for e mais de pressa, mais valor se tem ou mais respeitada é a pessoa. E, realmente, a única coisa que temos estado a transmitir, com uma insistência perigosa, é: ‘enriquece, meu filho’. E é claro que o choque surge porque, no lugar de enriquecer, a maioria das pessoas está a empobrecer cada vez mais.
 
Escrito por Inocêncio Albino
 
Fonte: @verdade, 18 de Setembro de 2014

Divagando um pouco


Nasci e vivi a minha infância no Centro de Moçambique, assim como todos os meus irmãos e outros familiares, a família mudou-se para a Beira e depois para Lourenço Marques.

Os meus três irmãos mais velhos, andaram ambos na Guerra Colonial em Moçambique, em zonas 100% operacionais como Tete, Niassa e Cabo Delgado, uns a seguir aos outros, sem intervalos.

Os mancebos residentes em Moçambique e que eram recrutados, assentavam praça no Quartel de Boane onde ficavam 3 meses na recruta. Boane fica situada a 50 quilómetros a Sul da capital de Lourenço Marques, hoje Maputo.

Ao fim de três meses de recruta, eram então enviados para os vários Quartéis espalhados pelo Território, para tirarem a especialização de combate e defesa com os "instrutores" e só depois é que estavam atos para irem para a guerra, tanto poderiam ficar a combater em Moçambique, como irem para Angola, Guiné ou Timor, onde ficavam mais de três anos a defender o território e o povo português (de várias raças e crenças) até cumprirem o serviço militar obrigatório.

Em seguida passavam à disponibilidade e ainda ficavam na "reserva até aos 35 anos de idade", se houvesse falta de homens, seriam novamente convocados para servirem a “Pátria”.

Depois da Independência de Moçambique a 25 de Junho de 1975, Vila Pery como se sabe passou a chamar-se Chimoio, onde há uma "fronteira oficial" com o Zimbabwe (antiga Rodésia do Sul, ex-colónia britânica), de passagem e de entrada de pessoas, bens e mercadorias.

Os militares enviados para Vila Pery (onde ficava o Quartel de Artilharia), especializavam-se em radiotelegrafistas, condutores de panhards, apontadores-atiradores, etc. (salvo erro e omissão).

O Quartel de Artilharia no Chimoio, ainda existe dentro das condições possíveis, mas já não é o Quartel que era há quarenta anos.

Chimoio está muito diferente devido à debandada geral do povo português a seguir ao 25 de Abril e depois também devido à guerra civil que alastrou no país durante 16 anos, ficando anos a fio sem vivalma e à mercê da invasão dos estrangeiros, dos seus vizinhos, que nela se foram instalando porque não havia qualquer controlo.

Depois disso nada foi feito ou reconstruído, há esgotos a céu aberto, ruas ou caminhos de terra batida, e está transformada em mercados informais de rua, este cenário existe em todo o país.

Na cidade da Beira a situação é igual, o mercado informal instalou-se por todo o lado, a degradação do património do tempo colonial (igrejas, escolas, liceus, edifícios, vivendas, chalés) é impressionante, é um horror de contemplar, mas os nomes das artérias (toponímia) tirando meia dúzia que foram alteradas, mantém-se como no passado.

A Infantaria, a Cavalaria, a Marinha e a Força Aérea, para além dos quartéis gerais funcionarem em Lourenço Marques, depois de tantos anos que se passaram não me recordo onde ficavam estrategicamente instalados por todo o território de Moçambique.

Depois de ter começado a Guerra Colonial (talvez em meados dos anos sessenta), foi construído no Dondo, uma vila que fica no interior a 12 quilómetros de distância da cidade da Beira, um Quartel com dois Aeródromos para ensino, aprendizagem e treino de paraquedismo militar.

A seguir ao 25 de Abril, o Dondo foi bombardeado, o quartel, as pistas, as fábricas, as indústrias e as próprias habitações dos civis foi tudo destruído, a população que sobreviveu teve que fugir para a cidade da Beira.

A Independência de Moçambique, como é do conhecimento de todos, foi entregue à Frelimo (numa salva de prata), sem consulta prévia popular, sem estabelecer um prazo para o fazer, até para haver um consenso político e popular.

Em 1976 como a Renamo não concordou, começou uma guerra civil entre estes dois partidos (Frelimo e Renamo), e andaram dezasseis anos a guerrear-se por questões políticas, matando o seu próprio povo, destruindo todo o seu próprio país, chacinando milhares de gerações.

Por causa da guerra civil entre a Frelimo e a Renamo o Parque Nacional da Gorongosa atualmente está uma penúria, devido à debandada geral do povo que vivia no Centro de Moçambique, que foi obrigado a fugir aos milhares, procurando refúgio nas aldeias, vilas e nas cidades costeiras, para salvarem as suas vidas, para escaparem a tamanha matança.

E esse povo nunca mais regressou às suas origens, aos seus povoados, às suas aldeias ou vilas onde nasceu e onde viveram com todos os seus antepassados, porque esses povoados foram bombardeados durante 16 anos e deixaram de existir, desapareceram, já não existem, esfumaram-se do mapa.

Por causa desta guerra quase todos os animais selvagens foram mortos e muitos deles foram totalmente extintos.

As florestas e matas foram destruídas pelos incêndios, pelos bombardeamentos e devastadas à catanada.

Finalmente, em Outubro de 1992, foi assinado em Roma o "Acordo Geral de Paz" que pôs termo a esta matança.

Mas este Acordo de Paz nunca foi respeitado até aos dias de hoje.

Alguns anos depois, com a colaboração do Parque Nacional do Krugger da África do Sul, foram reintroduzidas no Parque Nacional da Gorongosa muitas espécies de animais selvagens (elefantes, hipopótamos, zebras, javalis, antílopes, búfalos, bois-cavalos, girafas, leões, impalas), procedendo-se também à sua reflorestação (vegetação, arbustos, acácias, árvores de frutas, e de madeiras exóticas).

O Parque Nacional da Gorongosa num esforço gigantesco parecia que ia renascer das suas próprias cinzas.

Uma tarefa inglória porque atualmente Moçambique é o palco mundial de extermínio da vida selvagem, das matas e das florestas.

O Parque Nacional da Gorongosa era naquele tempo o mais famoso e o mais povoado de toda a África tinha quatro reservas de caça, hoje, não tem nada a ver com o passado colonial português.

As independências vergonhosas das colónias portuguesas, dadas às pressas em 1975, pelos covardes e traidores, pelos vendilhões da Pátria, pela corja de bandidos e criminosos do 25 da abrilada de 1974, só deram mau resultado para todos.

Porque o povo português de todas as raças e crenças, foi abandonado à sua sorte, pelos traidores, pelos corruptos e pelos miseráveis de Lisboa, que tomaram de assalto “Portugal e o poder político” e nunca mais o largou até aos dias de hoje.

Moçambique já não é o mesmo território para quem lá nasceu ou viveu antes da vergonhosa independência.

Fonte: Arquivo Pessoal

12 de agosto de 2014

Moçambique 40 anos depois



Em modo de resumo, hoje há o Moçambique do turista, o Moçambique dos políticos, dos senhores do dinheiro, dos esclavagistas e também há o Moçambique dos moçambicanos.

Por exemplo, o Cemitério de S. Francisco Xavier na cidade de Maputo foi votado completamente ao abandono.

Os portugueses que vão a Moçambique estão proibidos pelo Governo de Moçambique de se aproximarem dele (por questões políticas), por causa dos talhões dos “soldados portugueses mortos em Moçambique em combate na Grande Guerra e na Guerra Colonial e que ali foram sepultados”.
 
Só existem os muros (o tal quarteirão) e o portão de ferro da entrada, empenado e enferrujado mas ainda é o mesmo, mais ou menos frente à Messe dos Oficiais na antiga Av. Manuel de Arriaga.
 
A seguir ao 25 de Abril este cemitério foi totalmente pilhado e profanado e nem vestígios há de nada.

Dentro daqueles muros só existe uma “mata alta e densa de vegetação - capim”.
 
Qualquer dia os senhores do dinheiro, mandam construir neste quarteirão (que é ou era sagrado) outras Torres Vermelhas como as da Polana.
 
Na Baixa de Maputo, as ruas da sua zona histórica, estão todas esburacadas, autênticas crateras, já não têm alcatrão, não há passeios, não há marcações rodoviárias, os semáforos que ainda há na cidade são os de antigamente, nada foi conservado, melhorado ou modernizado, os edifícios mais emblemáticos vão caindo uns atrás dos outros um pouco por todo o lado e ali ficam os seus destroços ao abandono, ou levados por alguém para fazer dinheiro.
 
As lojas de comércio como havia antigamente, por toda a cidade, para venda de bens de consumo não existem, as que eram dos portugueses como se sabe foram todas destruídas e pilhadas no pós-25 de Abril.

O comércio que existe é o informal que está espalhado no chão pelas ruas da cidade.
 
O mercado do Xipamanine já chegou ao Alto Maé, já está encostado à Cervejaria Berlengas.
 
Há alguns restaurantes, pastelarias, cervejarias, mas tudo muito caro, o custo de vida em Moçambique é exorbitante.
 
Quanto a farmácias, eu só vi uma em toda a cidade e com “segurança armada” (disseram-me que os donos são portugueses).
 
O hospital está velhinho, não há outro, aliás os “senhores do dinheiro” quando adoecem vão curar as suas doenças ao estrangeiro.
 
Mas existe acesso à internet e às redes de telemóveis em todo o país, mais valia investir na saúde, na higiene e sanidade, na educação, na habitação e no bem-estar dos cidadãos, penso eu.
 
O que existe muito em Moçambique sobretudo em Maputo e na Beira, são muitas casas de câmbio que estão nas mãos dos monhés e com “segurança armada”.
 
Os monhés e os indianos aprenderam ou já sabiam, a lição que os portugueses não sabiam e que nem tiveram tempo de aprender no pós-25 de Abril.
 
Os monhés e os indianos que saíram de Moçambique depois do 25 de Abril (há os que ficaram, não se deixaram intimidar, nada os demoveu), quando regressaram organizaram-se e recuperaram tudo o que tinham no tempo colonial, e foram enriquecendo ao longo dos anos, não fossem eles hábeis, uns abutres e astutos para os negócios, eles são os donos de tudo, a economia moçambicana está nas mãos deles, vivem todos muito bem, são todos muito unidos e só há convívio entre famílias.
 
Tratam dos seus negócios, e aprenderam a acautelar-se ao longo dos anos, zelando pelas suas fortunas colossais e as suas contas bancárias faraónicas, que estão muito longe de Moçambique, não vá o diabo tece-las.
 
Achei curioso como a Farmácia Mendes, que ficava na Baixa, no términus da Av. Manuel de Arriaga com a Rua Consiglieri Pedroso, mesmo ao lado da DETA e esta ao lado do Banco Nacional Ultramarino, ainda tem a armação enferrujada do toldo por cima da entrada da porta, com um resto do pano que era vermelho e com as palavras Farmácia Mendes, ficou ali enrolado e esquecido junto à fachada do prédio, muito esbatido com o passar dos anos e das intempéries, mas deu para ver que era naquele local que ficava esta Farmácia.

Muitos edifícios foram votados ao abandonado, estão entaipados ou sem portas e sem janelas, servindo assim de guarida aos bandidos ou aos sem-abrigo.
 
Em 1976 o 1º Governo de Moçambique expropriou ilegalmente todos os bens dos portugueses (de todas as raças e de todas as crenças), que viviam ou não em Moçambique naquele tempo.
 
Legitimamente ainda continuam a ser propriedade dos portugueses, porque os portugueses tinham que receber uma indemnização por parte de Moçambique ou de Portugal e nunca receberam nada, foram todos roubados – FOI UM ROUBO FARAÓNICO E HISTÓRICO.
 
As flats, as moradias ou vivendas, todas as janelas, escotilhas e portas estão totalmente gradeadas e com muitos cadeados, as pessoas têm medo por causa dos assaltos e dos criminosos.
 
Também é nas flats que se cozinha em fogareiros a carvão, se houver um incêndio e que não seja combatido a tempo, será uma tragédia pois não há por onde fugir.
 
Todos os prédios que tinham elevadores já não têm, no lugar deles as pessoas despejam todo o tipo de lixo e os acessos aos seus andares, às suas flats, faz-se pelas escadarias da parte da frente do prédio, pelos degraus que são imensos e que já estão em muito mau estado (nas traseiras dos edifícios já não há escadas de salvação) não há iluminação, não há eletricidade), quando não se vê nada ou que já está a anoitecer, vai uma pessoa à frente com uma lanterna na mão para iluminar o caminho, as escadarias, os seus degraus, estão sempre com um cheiro nauseabundo porque é onde as pessoas fazem as suas “necessidades".
 
A água canalizada não chega a todos, e quando corre é só uma vez por dia, há que encher todas as panelas, tachos e outros recipientes, que leva ao desperdício de um bem precioso, sem água e oxigénio não há vida na Terra.
 
Os edifícios na cidade onde habitam as pessoas, onde vivem todos enjaulados, estão todos negros e sujos, tanto por fora como por dentro e estão inundados de baratas, melgas, moscas e ratazanas.
 
Os senhores do dinheiro mandaram construir moradias onde não deviam, nas barreiras, no caracol, em cima das dunas, por isso é que a Marginal, a sua orla costeira, está a desaparecer devido à erosão, pois foi ficando desprotegida por causa da construção de habitações.
 
A estrada da Baixa-Costa do Sol - A MARGINAL - está esburacada, faltando-lhe o alcatrão, está reduzida a um caminho de terra coberta por camadas grandes de areia, é só areia por todo o lado, faltam-lhe as dunas, toda a sua vegetação nativa, todos os seus mangais, a orla costeira está a desaparecer devido à erosão, porque ficou indefesa devido à construção de casas naquela zona, um atentado completo e vergonhoso ao sistema ecológico e ambiental da orla costeira da capital moçambicana que está destruída e em erosão veloz.
 
As acácias e as buganvílias escasseiam
Não há gás canalizado
Só de botija para quem pode pagar
É só artérias de terra batida e esburacadas
Nem todos têm água
Nem todos têm eletricidade
Nem todos têm saneamento
Nem todos têm acesso à educação
Não há saúde nem medicamentos
Há esgotos a céu aberto por todo o lado
Não há higiene e sanidade
 
É evidente que todas as infraestruturas subterrâneas feitas pelos portugueses (nomeadamente saneamento, água canalizada, eletricidade, comunicações, esgotos) sem a devida e imprescindível manutenção diária ou periódica, ficaram inoperacionais há quarenta anos.
 
O mesmo aconteceu com os “elevadores de todos os prédios”, deixaram de funcionar por falta de assistência, então há que arrancar-lhes as portas e aproveitar aqueles buracos, andar a andar, para despejar o lixo onde acaba por apodrecer, dando origem a cheiros nauseabundos, resta saber se alguém já caiu dentro de algum buraco.

Depois do 25 de Abril só se preocuparam em chacinar os portugueses para que fugissem e deixassem os seus bens à disposição de todos, não pensaram nas consequências, que sem alicerces, sem manutenção, sem organização e sem trabalho árduo, qualquer sistema vai pelo cano abaixo.
 
Na cidade não há caixotes para recolha do lixo (se houver são muito poucos, eu ainda não vi nenhum), as pessoas deitam o lixo para a via pública, a cidade está imunda, e depois são só doenças.
 
As pessoas cozinham e vendem comida nas ruas rodeadas de lixo por todo o lado, um atentado à saúde pública.
 
Toda a cidade está imunda, há lixo espalhado por todo o lado, as pessoas fazem as suas "necessidades" em qualquer lugar.

O antigo Jardim Vasco da Gama, que tinha imensas coleções botânicas, para ninguém chorar ou duvidar de mim, é melhor nem dizer como está.

Mal começa a anoitecer as pessoas recolhem às suas casas e trancam-se bem trancadas.
 
A cidade de Maputo é muito mal iluminada, tem pouca iluminação, ninguém se atreve a sair de noite das suas casas para dar um passeio, ir até à marginal ou Costa do Sol para tomar ar.
 
As famílias vão para as suas casas à tardinha, e ninguém sai de casa sem ser de dia, ninguém sai porque é uma regra, visto não haver segurança em lado nenhum.
 
Muitos dos maputenses nem a Malhanga conhecem, para irem a pé têm medo de lá ir, para irem de carro os acessos já não existem ou estão obstruídos.
 
O Bairro da Malhangalene está irreconhecível, parece que foi bombardeado por uma Guerra Mundial qualquer, só a Rua do Porto, que começa no “Cordeiro” e termina no Largo do Alentejo, está mais ou menos remendada com alcatrão, o resto das artérias do Bairro são de terra batida, a avenida de Lisboa já não existe - no Bairro da Malhangalene as ruas são autênticas crateras, esburacadas, com águas estagnadas, com esgotos a céu aberto, um perigo para a saúde pública.

Por isso é que a malária (o paludismo), depois das "independências", o mosquito da malária ressuscitou no Continente Africano, provocando já milhões de mortos.
 
Dizem que o colonialismo português, é que explorou, escravizou, maltratou os moçambicanos, e que era racista, vão a Moçambique e vejam com os vossos próprios olhos o que se passa lá hoje entre eles.

Os moçambicanos da classe baixa (os pobres), que trabalham como empregados domésticos, ou nalgumas lojas como animais de carga, são todos escravizados, todos explorados e mal tratados pelos seus próprios compatriotas da classe média, pelos senhores do dinheiro, pelos políticos e pelos monhés, são todos tratados abaixo de cão, nunca na minha vida vi tão grande racismo, tanto ódio e desprezo entre eles todos.

Os portugueses que vão a Moçambique mal conseguem fotografar ou filmar seja o que for, porque aparece logo a polícia que lhes confisca tudo.
 
A cidade de Maputo não tem nada a ver com o esplendor da antiga cidade de Lourenço Marques, onde as pessoas confraternizavam umas com as outras, vivia-se em paz e segurança quer de dia quer de noite.
 
Fonte: Arquivo Pessoal

Portugal e os Ali Babá portugueses


Em Portugal, passados que são quarenta anos depois da abrilada, os abutres, os traidores, os mafiosos, os corruptos, os covardes, os vendilhões da Pátria, os infames, os que ainda não morreram, mesmo velhos que estejam, ainda continuam todos no poder, circulando de tacho em tacho, levando a Pátria Portuguesa à bancarrota e o povo português à miséria total.

Hoje, a maior parte dos portugueses está na miséria e a passar fome porque ficaram sem o emprego, ficaram sem o seu sustento, ficaram sem habitação que estavam a pagar ao banco, os seus filhos foram privados da alimentação básica (leite e frutas) e em caso de doença não podem comprar medicamentos para se tratarem porque não têm dinheiro para nada, muitos casais, marido e mulher, vivem na rua de dia e de noite, tornaram-se sem-abrigo.

É nas cantinas das escolas apoiadas pelas Câmaras Municipais (contra a vontade dos politiqueiros que querem encerrar as escolas públicas e desmantelar todos os serviços públicos), que os seus filhos em idade escolar se alimentam ao pequeno-almoço, almoço e lanche.

Muitos professores das escolas já alertaram várias vezes nas televisões, que há alunos que passam muita fome e que não podem ter sucesso na aprendizagem.

Os adultos vão às organizações de solidariedade social, pedir alimentos e outros bens de primeira necessidade para sobreviverem, quando são entrevistados pelos canais de televisão, são filmados de costas e com as vozes distorcidas, para não serem reconhecidos, porque se sentem envergonhados.

Vergonhas deviam ter os politiqueiros e os corruptos que puseram Portugal e o povo na miséria, deviam morrer todos para se acabar com esta seita de bandidos.

Os portugueses vivem oprimidos, amargurados, envergonhados, tristes e deprimidos.

O povo português não é livre, não há democracia em Portugal nem nunca houve, há uma ditadura que ainda é pior do que a que existia no passado, cuidado com esta corja de politiqueiros que são ignorantes, arrogantes, vaidosos, raivosos e vingativos.

Nunca se sabe o que esta rapaziada ainda pode atentar mais contra a Pátria e o Povo, são mentes perversas que não descansam enquanto não desmantelarem todos os Organismos do Estado Português.

Há muita censura no que se fala, no que se escreve, no que se manifesta, é preciso ter muito cuidado com todas as pessoas, porque há sistemas de videovigilância por todo o lado, as telecomunicações estão sob escuta e depois ainda há os bufos que fazem tudo para subir na vida.

Antigamente os funcionários públicos eram respeitados, hoje vivem todos amordaçados, estão proibidos de se manifestarem, quem não está contente que se mude, são despedidos dos seus empregos como já tem acontecido a muitos desde 2011.

As Classificações de Serviço periódicas, primeiro eram atribuídas anualmente, agora são de dois em dois anos, são dadas pelos chefes hierárquicos de cada organismo aos seus funcionários, e como são atribuídas por cotas, não são justas, transparentes ou isentas, são dadas conforme as caras e as luvas que receberam.

Para que servem as Classificações de Serviço?

- Servem para promoverem aqueles a quem devem favores, para que subam na carreira o mais depressa possível e sem mérito próprio.

- Servem para amordaçar os que ficam prejudicados injustamente e se reclamarem são despedidos, isto é, são obrigados a “assinar o tal pedido de demissão” que lhes põem à frente dos olhos, ou então abrem-lhes processos disciplinares que vai dar ao mesmo.

A corja de bandidos que está no poder, quando dizem que este fulano, sicrano ou beltrano pediu a demissão ou a exoneração de qualquer cargo na função pública, não é verdade, eles obrigam os funcionários a assinarem a “demissão ou exoneração”, traduzindo pura e simplesmente são despedidos, perdem todos os anos que trabalharam e todos os descontos que fizeram, os politiqueiros mentem descaradamente, são uns mentirosos compulsivos.

Ora, na função pública não se toma posse de um cargo ou categoria, para depois se pedir a demissão ou exoneração, a não ser que seja para se subir de cargo ou de categoria, “assina-se então em primeiro lugar o pedido da nova categoria ou cargo” e depois é que se “assina a demissão ou exoneração da categoria antiga”, ambas no momento da ação e já publicadas previamente no Diário da República.

São as tais “tomadas de posse” que antigamente se revestiam de solenidade em todos os organismos públicos, hoje já ninguém presta “juramento” está fora de uso, e o que se vê no Parlamento nas tomadas de posse, é tudo uma palhaçada, uma hipocrisia, uma falsidade.

Não há empregos nem subsídios para ninguém, os jovens, os da meia-idade, os velhos, os reformados, os aposentados, os doentes, são todos considerados como um fardo para estes miseráveis e desprezíveis politiqueiros.

Os subsídios só são dados a troco de luvas (a máfia está instalada por todo o lado) aos malandros, aos parasitas que nunca trabalharam na vida, aos vagabundos que vieram das Américas, da Europa de Leste e das Ásias (têm direito ao SRI, alimentação, habitação social, água e eletricidade grátis, etc.) e mesmo assim ainda andam nas ruas de Lisboa e de outras cidades a pedir dinheiro às pessoas, incomodando tudo e todos, roubando, assaltando tudo o que podem e até já mataram portugueses para os roubar.

Muitos estrangeiros que com a lavagem dos seus dinheiros, branqueamento de capitais, tráfego humano e escravatura, etc., em conluio com os corruptos e as máfias que abundam no país, já tomaram conta da capital, são eles os “novos donos” de Lisboa sobretudo da Baixa Histórica.

Qualquer dia os portugueses terão que lhes apresentar um “passaporte” para entrarem em Lisboa, irem até ao Rossio, à Praça da Figueira, ao Castelo, ao Martim Moniz, à Rua Augusta, à Rua da Prata, à Rua do Ouro, à Praça do Comércio, ao Chiado, ao Bairro Alto, à Mouraria, ao Saldanha, ao Chile, às Amoreiras, etc.

Não é Lisboa que é a Cidade da Tolerância?

Está gravado nas paredes e no chão no Largo de S. Domingos, na Zona Histórica da Baixa de Lisboa.

Não tenho nada contra, mas a meu ver, em primeiro lugar tinham que melhorar e não piorar a vida dos portugueses, já que diziam que antes da abrilada passavam muita fome, que não tinham acesso à educação, à saúde e ao trabalho remunerado, que havia muita censura e que viviam todos na miséria.

Não foi para isso que os traidores e os covardes fizeram a palhaçada do golpe militar da abrilada?

Não, foi para se beneficiarem a si próprios, muitos deles de simples soldados que só tinham a quarta classe antiga, meia dúzia de anos depois já eram todos sargentos, tenentes, capitães, coronéis, generais, brigadeiros, foi esta a intenção do golpe militar perpetrado por traidores, promoverem-se a eles próprios, o povo é que não percebeu.

Quando aconteceu a abrilada, o povo analfabeto e ignorante que vivia na Metrópole rejubilou de alegria: já temos liberdade, já não precisamos de trabalhar mais na vida, que trabalhem os patrões, nós já não precisamos do trabalho, as propriedades deles são todas nossas, vamos aterrorizar e expulsar os seus donos, porque é tudo nosso, é tudo nosso, agora já pudemos fazer tudo o que queremos, já não precisamos de trabalhar mais, viva a liberdade, viva a liberdade, viva a liberdade.

Sem comentários porque já todos sabemos o que aconteceu depois desse dia sinistro, trágico, terrível e malfadado acontecimento.

Ao longo destes anos, esta corja de politiqueiros já desmantelou a Educação, a Saúde, o Emprego, o Serviço Social, a Economia, querem acabar com o que resta dos Serviços Públicos em defesa dos Serviços Privados.

Porque a corrupção, uma autêntica máfia, um polvo de tentáculos gigantescos, são roubos sistemáticos, instalou-se de geração em geração, alastrou-se e perpetuou-se.

São milhares os ladrões de Ali Babá portugueses (ao contrário do que reza a história que este roubava os ricos para dar aos pobres), estes Ali Babá roubam aos pobres dos trabalhadores e aos reformados, para se enriquecerem a si próprios e aos outros corruptos que fazem parte desta seita de bandidos, são todos uns crápulas, uns corruptos que vivem sedentos de dinheiro.

Desde vereadores e presidentes de Câmara (Município) em conluio com os patos bravos que destruíram o território, a negócios mais sofisticados nos ministérios, com concessões, privatizações, parcerias, contratos milionários com fornecedores a troco de luvas generosas. Uma autêntica indústria de interesses que prosperou à custa do empobrecimento do País.

A Pátria ou o Povo Português não lhes interessa para nada, só a corja de bandidos, os novos-ricos, os mafiosos, os corruptos, os crápulas e os lambe-botas é que vivem bem em Portugal e estão todos acima da Lei.

Para os Ali Babá portugueses, o Povo não é tido para nada, é considerado como analfabeto, ignorante e preguiçoso, não tem qualquer significado na Nação Portuguesa, são um número indesejável que eles queriam que não existissem, para eles serem donos de tudo, os únicos a viverem em Portugal.

Desde a abrilada, quem beneficiou e quem continua a beneficiar, são os traidores e os covardes dos militares do 25 de Abril, os outros militares que se seguiram a eles e todos os que continuam no ativo, são todos um bando de covardes que se deixam (e deixaram) subornar por promoções, nomeações, louvores, condecorações, só lhes interessa as patentes, os ordenados chorudos e as reformas milionárias, por isso é que eles se mantiveram calados desde a abrilada até hoje, nunca ninguém os ouviu manifestar-se a favor do povo, é ver todos os dias as publicações no Diário da República Eletrónico.

Desde o golpe militar de 25 de Abril de 1974, a maior traição das páginas negras da História de Portugal, que o povo foi sempre enganado e tido como lorpa.

Os banqueiros, a corja de politiqueiros, os ladrões Ali Babá portugueses, para mim são os maiores corruptos do Mundo.

Fonte; Arquivo Pessoal

27 de julho de 2014

A importância da Guiné Equatorial (Artur Queiroz)


A entrada da Guiné Equatorial na CPLP provocou em Portugal um terramoto de disparates, desvarios de alta intensidade, atitudes de grande cinismo e, como habitualmente, quantidades exageradas de ignorância.

Como se esta mistura explosiva não bastasse, os desvairados opositores à adesão ainda acrescentaram o habitual racismo encapotado e comportaram-se como soldados  invencíveis da democracia.
Pelo meio, os mais ressabiados ainda aproveitaram para atacar Angola, por ter sido o país patrocinador da adesão da Guiné Equatorial à CPLP. Li coisas espantosas e que ainda me custa acreditar que foram escritas. Ouvi barbaridades delirantes que me põem a duvidar da minha audição. Vi torcionários da democracia em Portugal a clamarem indignadamente contra a falta dela no novo país da comunidade dos países que falam português. Confesso que já esperava tanto dislate, porque sei quanto podem e valem em Portugal  figuras que no passado silenciaram as fogueiras da Jamba a troco de diamantes de sangue, marfim e drogas.

Mas também sou forçado a admitir que João Soares, Ana Gomes, António José Seguro ou aquela chusma de comentadores que nas rádios, televisões e jornais ganham chorudas maquias para dizer o que vem à cabeça dos donos, ultrapassaram todas as marcas e todos os limites.
A gritaria teve dois sentidos. A Guiné Equatorial tem a pena de morte e naquele país não se fala a língua portuguesa. Mas o Presidente Obiang assinou um decreto que suspende a pena de morte até ser aprovada a lei que vai abolir essa prática.
Nesse aspecto a Guiné Equatorial já foi mais longe do que os EUA e a Inglaterra. Ainda agora um condenado à morte num Estado norte-americano ficou quase duas horas a estrebuchar porque a injecção letal não fez o “serviço" em dez minutos. Estou à espera do alarido em Lisboa para exigir de Washington que acabe com a barbárie. Se o Presidente Barack Obama não obedecer, os comentadores políticos em Portugal e o núcleo duro que apoia António José Seguro vão expulsar os EUA da OTAN. E mandam encerrar a embaixada em Lisboa.
Vamos à língua portuguesa. Li um artigo interessante de um grande intelectual português de esquerda onde ele escreve que a adesão  da Guiné Equatorial à CPLP  é o requiem da organização. Mas que exagero! Nesse texto ele escreve Malaysia Ais Lines em vez de escrever Linhas Aéreas da Malásia. Uma distracção imperdoável para quem aparentemente defende com unhas e dentes o português.
Em Portugal os idosos são espoliados das suas reformas e morrem à míngua de alimentos e medicamentos. As crianças morrem à fome. Mais de um milhão de portuguesas e portugueses em idade activa estão no desemprego. A grande maioria nem sequer tem protecção social. Mas que ninguém se atreva a rezar  a missa pela morte daquele país, que é parte importante da CPLP. Os outros Estados membros  nunca consentirão esse insulto. Todos juntos havemos de fazer regressar à Pátria de Camões, Padre António Vieira, Cavaleiro de Oliveira, Aquilino, Pessoa, Agustina, Sophia ou Ramos Rosa, o espírito do 25 de Abril que fundou o Estado Social e a democracia portuguesa, depois de séculos de colonialismo e décadas de ditadura.
 
A CPLP nasceu também para promover a língua portuguesa. Quantos mais países aderirem à comunidade, mais forte ela fica. Eu defendo que é mais importante a adesão de Estados que nem sequer falam a Língua Portuguesa. Porque esses vão assumir o compromisso de promover e difundir o português. Não é o caso da Guiné Equatorial. Parte substancial do seu território já pertenceu à Coroa Portuguesa. E na ilha de Ano Bom, vizinha de São Tomé, a população fala crioulo que tem por base o português arcaico. Quanto mais não seja para valorizar e preservar essa jóia, foi importante a adesão daquele país à CPLP.
Estou curioso para saber o que vão dizer e escrever os enraivecidos portugueses de hoje, quando o Japão, a União Indiana, a República Popular da China, Marrocos ou a Geórgia aderirem à CPLP. Espero que nessa altura já lhes tenha passado a fúria racista e a apetência perigosa para o apartheid. Por muito que me custe e lhes custe a eles, o que se passa em Lisboa é mesmo uma onda descontrolada de racismo, perfumada com as flatulências do apartheid.
Os portugueses não têm culpa nenhuma que os seus intelectuais façam figura de ignorantes e políticos do “arco do governo" ainda pensem que “Angola é nossa" e em África ainda há colónias a saque.
Fonte: Jornal de Angola, 26 de Julho de 2014

Cortador de profissão...


24 de julho de 2014

A grandeza da língua


A cimeira da CPLP que decorreu em Díli ficou marcada pela adesão da Guiné Equatorial à organização, que é agora um Estado membro de pleno direito.

O facto em si nada tem de marcante. Organizações que se formaram agregando países que falam a mesma língua receberam no seu seio Estados que não têm qualquer afinidade linguística. Moçambique faz parte da  Commonwealth e a Guiné-Bissau integra o bloco da Francofonia. Estes dois exemplos podem repetir-se às centenas.

O que marca a adesão da Guiné Equatorial à CPLP é o alarido feito por membros das elites preconceituosas portuguesas. Em Lisboa surgiram numerosas vozes contra a adesão. Muitas são daquelas que nunca chegarão aos céus. Mas entre os contestatários estão políticos e líderes de opinião que se dizem democratas. O que revela uma contradição insanável eivada de ignorância e uma tendência inquietante para criar um “apartheid” nas relações internacionais. De um lado os democratas puros, os fiéis. E do outro os impuros e infiéis.

Ninguém percebe donde vem a pureza e a fidelidade dos representantes das elites preconceituosas à democracia. Nem se compreende a soberba com que tratam a Guiné Equatorial e o Presidente Obiang. Em Lisboa é esgrimido um argumento muito débil: o país tem a pena de morte. Muitos estados dos EUA executam todos os dias condenados à pena capital e nem por isso os porta-vozes dessas elites querem expulsar o seu aliado da OTAN. Pelo contrário, quando Washington anunciou que ia sair da Ilha Terceira por já não ter interesse na Base das Lajes, todos se puseram de joelhos, implorando que a base aérea continue.


Outros parceiros políticos e económicos de Portugal têm a pena de morte e isso não impede que os portugueses façam grandes negócios e brindem em Lisboa com o sublime Vinho do Porto. Os argumentos, mais do que débeis, são primários. E mais do que isso: escondem hipocrisia e também muita pressuposição baseada em velhos conceitos coloniais.  A CPLP, já aqui o escrevemos, pode ter uma influência grande na política da Guiné Equatorial. O decreto presidencial que suspende a pena de morte até à produção de legislação que determine a sua abolição é um exemplo concreto dessa influência. Se a partir de agora o Governo daquele país se aproximar dos modelos constitucionais que vigoram nos outros Estados membros, então está justificada a adesão.


A questão da Língua Portuguesa também é levantada pelas elites portuguesas ignorantes e corruptas. A Guiné Equatorial adoptou o português como língua oficial, a par do castelhano e do francês. Portanto, esse argumento deixou de valer a partir desse momento. Mas nunca valeu mais do que a caspa que povoa as ideias dos contestatários portugueses à adesão daquele país à CPLP.  Explicamos pormenorizadamente.


Parte do território da Guiné Equatorial já foi colónia portuguesa. Só no século XVII passou para a soberania espanhola. A ilha de Fernando Pó recebeu o nome do navegador português que lá aportou. A Ilha de Ano Bom (Ano Novo) está nas mesmas condições. Mas na pequena ilha está um tesouro da lusofonia: fala-se crioulo (fá d’ambô) que tem por base o português arcaico e que chegou quase incólume aos nossos dias.


As ilhas da Guiné Equatorial, está provado, foram povoadas por escravos angolanos. Nós queremos ir lá render homenagem aos nossos antepassados. Agora que Fernando Pó e Ano Bom fazem parte da CPLP,  mais facilmente podemos cumprir esse dever. Mas sem a companhia das elites estrábicas, que nem sequer foram capazes de defender a dulcíssima Língua Portuguesa do Acordo Ortográfico.


Os angolanos querem saber mais sobre a Língua Portuguesa e na ilha de Ano Bom, território da CPLP, temos muito que investigar a cultura. Os portugueses deviam ter o mesmo interesse, mas pelos vistos só estão interessados em dar lições de democracia, quando dentro das suas portas há crianças a morrer de fome.


Os Media em Portugal praticam diariamente atentados contra a Língua Portuguesa. Nos jornais já se escrevem mais palavras em inglês do que em português. Nas rádios e televisões a situação é ainda pior. Escrever e falar o português contaminado de anglicismos e galicismos é uma traição a todos os que falam a língua que uniu os países da CPLP.


A Guiné Equatorial já está a preparar o ensino da Língua Portuguesa. Dentro de pouco tempo, os novos parceiros da CPLP vão falar melhor do que as elites portuguesas preconceituosas. O mesmo vai acontecer quando outros países que tiveram contacto com o português no advento dos “descobrimentos”, entrarem para a organização.


Os portugueses têm um grande orgulho na expansão marítima da qual resultou o seu império. Mas agora há países e povos que guardam a memória desse passado comum e querem pertencer à CPLP. Alguns  renegam esse passado e opõem-se ao alargamento da organização.
São demasiado pequenos para a grandeza da Língua Portuguesa.
Fonte: Jornal de Angola, 24 de Julho de 2014

25 de junho de 2014

O 25 de Abril de 1974 e as Independências Exemplares do Império Colonial Português



Quanto «às independências ditas exemplares pelos vendilhões da Pátria Portuguesa, pelos traidores e cobardes do 25 de Abril de 1974», o povo português que vivia na ex-colónia de Moçambique (de todas as raças e crenças), logo a seguir ao 25 de Abril, foi obrigado a entregar as armas que tinham em casa (os que as tinham), mediante a ameaça que JOAQUIM CHISSANO fez através da rádio, que se não as entregassem, imediatamente mandaria chacinar os portugueses pelos marginais.

Mesmo assim, depois de as armas serem entregues, os portugueses foram todos enganados e sem aviso prévio, sem nada o prever, ordenaram a sua perseguição, a sua crucificação, a sua chacina, a sua matança.

O povo português ficou desarmado, indefeso e à disposição das hordas de assassinos, de grupos de maltrapilhos e analfabetos que assolaram a capital, as vilas, as aldeias e as cidades dos arredores, aliás todo o território moçambicano foi invadido por estes criminosos, dizendo que estavam a cumprir ORDENS recebidas dos seus "SUPERIORES" (os de Moçambique e os de Lisboa).

Armados de catanas, metralhadoras, baionetas e outros materiais contundentes, perseguiram o povo nas casas, nos empregos, nas escolas, nos templos religiosos, nos hospitais, nas machambas, nas ruas, em todo o lado onde estivesse, para o chacinar.

Estupraram milhares de mulheres, crianças e idosas, perante a impotência dos homens da família, porque eram manietados, acorrentados, ameaçados com catanas e baionetas, eram obrigados a assistir a estas crueldades horrendas, para depois no fim serem todos chacinados e esquartejados, morrendo assim milhares num conflito hediondo de que o povo português foi a principal vítima.

Nos cemitérios vandalizaram jazigos, campas, caixões e os mortos foram profanados.

Os “superiores de Moçambique e os traidores, os cobardes de Abril, os vendilhões da Pátria – os de Lisboa”, ordenaram estas chacinas, para que o povo ficasse aterrorizado e fugisse imediatamente de Moçambique, para lhes serem confiscados todos os seus bens - os portugueses ficaram sem nada, ficaram despojados de todos os seus haveres.

“Os superiores de Moçambique” não queriam que os portugueses ficassem em Moçambique depois da Independência (obtendo a nacionalidade moçambicana e continuando a viver a sua vida no Moçambique Independente), e também “os traidores, os cobardes de Abril, os vendilhões da Pátria” – os de Lisboa, não queriam os portugueses, os retornados da África, em Portugal.

Não foi o cobarde, o traidor de Portugal, o vendilhão da Pátria – MÁRIO SOARES - que disse para atirarem os portugueses, os retornados de África, dos aviões ao mar para que fossem comidos pelos tubarões?!

Quando os SOLDADOS PORTUGUESES que ainda se encontravam em Lourenço Marques, a seguir ao 25 DE ABRIL, mesmo que presenciassem violações, roubos e mortes e os portugueses lhes implorava socorro, eles faziam chacota, palitavam os dentes, mascavam chicletes, fumavam e cuspiam para o chão, cruzavam e descruzavam os braços ou as pernas, viravam costas, ficavam indiferentes, em posição de descanso, quer vissem desmembrar crianças (como aconteceu na Ponte Pinto Teixeira), violar mulheres à frente de todos ou rebentar as portas das cantinas, das casas ou das flats para matar os donos e roubar-lhes tudo, diziam: “SÃO ORDENS DE LISBOA”.

E a procissão de veículos, carros, camiões e jeeps regados com gasolina a que deitavam fogo depois de trancar as portas com os seus ocupantes lá dentro, filas intermináveis de veículos a arder, tudo em labaredas gigantescas, fumos imensos negros e densos, cheirando a carne queimada por toda o lado, parecia que Lourenço Marques, as suas vilas, as aldeias e as cidades nos seus arredores, iam desaparecer do mapa, num inferno dantesco, um autêntico apocalipse.

As pessoas que eram apanhadas, enfiavam-lhes pneus dos carros pelas cabeças abaixo, que lhes mobilizava os braços, ficavam logo em asfixia, penduravam-nas nas árvores, regavam-nas com gasolina e deitavam-lhes fogo, uns autênticos archotes humanos.

Foi um espetáculo horroroso e diabólico que preencheu os 250 quilómetros que medeiam entre Lourenço Marques e a cidade de João Belo.

Em Lourenço Marques e nos seus bairros limítrofes (Mahotas, Infulene, Aeroporto, Malhangalene, Mafalala, Benfica, Xipamanine, etc.), muitas casas foram incendiadas com as pessoas lá dentro, outras conseguiram fugir e andaram refugiadas no centro da cidade, onde foram acolhidas em casa de familiares, em casa de pessoas conhecidas e outras foram acolhidas até por pessoas desconhecidas.

Porque estas hordas de assassinos, já estavam a fazer um cerco à cidade de Lourenço Marques para obrigar o povo, que estava cada vez mais encurralado, a fugir para a Baixa da cidade, em direção à sua Baía – não havia outra escapatória, morreriam chacinados, ou morreriam todos afogados - seria uma carnificina absoluta e inexorável.

Claro que perante estas chacinas levadas a cabo com uma selvajaria diabólica e não havendo sinais para que terminassem, deu-se a debandada geral dum povo que foi abandonado desde o início e de propósito pelos traidores e cobardes de Lisboa, crucificado, fragilizado, aterrorizado, horrorizado, traumatizado, que conseguiu sobreviver a tamanha matança, deixando para trás todos os seus bens imóveis, móveis, veículos e pertences pessoais - tudo o que ainda não tinha sido saqueado, tudo o que ainda não tinha sido pilhado - saindo às pressas de Moçambique com uma mão à frente e outra atrás, uma mão cheia de nada e outra de coisa nenhuma.

O dinheiro que muitos portugueses tinham guardado nos bancos, as economias que muitos andaram a poupar ao longo dos anos com muito trabalho e sacrifício, com a intenção de terem uma velhice digna já que não havia reformas, sem aviso prévio ficaram sem as suas economias, ficaram sem nada, ficaram sem um tostão, porque as contas bancárias pessoais e das Empresas foram todas congeladas após o 25 de Abril, a mando dos “superiores de Moçambique e dos traidores, dos cobardes de Abril, dos vendilhões da Pátria – os de Lisboa”.

Os portugueses só conseguiam sair de Moçambique no Aeroporto de Lourenço Marques ou nas Fronteiras saindo em direcção à África do Sul e outros países africanos, mediante a apresentação de um documento emitido pela Frelimo, onde era comprovado que tinham sido entregue as chaves das habitações alugadas ou próprias, caso contrário não podiam sair de lá.

Os massacres mais hediondos perpetrados contra o povo português (de todas as raças e de todas as crenças) e que estão na memória de quem “sobreviveu a eles” são o 7 de Setembro, o 21 de Outubro e o 17 de Dezembro de 1974.

Na altura destes massacres tinha surgido na cidade de Lourenço Marques “um grupo refratário, insignificante e asqueroso de portugueses de todas as raças e de todas as crenças”, que não aceitavam jamais que Moçambique fosse Independente, contribuindo eles também com este ignóbil, intolerável e inaceitável protesto, ao massacre dos seus compatriotas.

Passados que são 40 anos, “este grupo refratário”, cujos nomes constam de uma lista (eu sei o nome de algumas pessoas), que está na posse do Governo de Moçambique desde essa data - continuam a estar proibidos de pisar “Terra Moçambicana”.

Ainda estão vivos alguns dos RESPONSÁVEIS (moçambicanos e portugueses) pelos hediondos massacres perpetrados ao povo português, que lançaram milhares de corpos de portugueses nas águas da Baía, dos rios Limpopo, Incomáti, Umbeluzi, Matola, ou os transformaram em cinzas fumegantes na terra que se acreditava que pudesse ser de todos os que lá estavam e que queriam continuar a viver nela – portugueses de todas as raças e de todas as crenças.

Esta chacina foi compactuada com os de “Moçambique e com os traidores e os cobardes do 25 de Abril (os vendilhões da Pátria)” – que deram as independências às pressas.

Com exceção dos Deficientes das Forças Armadas, depois do 25 de Abril de 1974, todos os antigos combatentes da guerra colonial, foram "votados ao abandono” por Portugal, ao longo destes 40 anos de "democracia".

Durante a guerra colonial e também no pós-25 de Abril, alguns dos ex-combatentes perpetraram por conta própria "Crimes de Alta Traição à Pátria Portuguesa e ao seu Povo" e que estão “gravados” nas páginas negras da História de Moçambique e da História de Portugal.

Um dos meus irmãos que cumpriu o serviço militar em Tete, numa das muitas emboscadas de que foi alvo, a sua companhia sofreu uma emboscada terrível em 1970, onde camaradas seus perderam a vida, outros ficaram gravemente feridos, foram evacuados para o Hospital Militar em Lourenço Marques (muitos deles ficaram com braços e pernas amputados e muitos até sem os olhos) - ficaram inválidos, mutilados, cegos e com traumas de guerra para toda a vida.

Depois de ter recuperado e estar novamente apto, esteve três meses em serviço no Quartel Geral sito no Bairro do Alto Maé na cidade de Lourenço Marques.

A Baía de Lourenço Marques com uma largura de 36 quilómetros e 52 quilómetros de comprimento, forma o Estuário do Espírito Santo com 30 quilómetros quadrados.

Na Baía embocam, além de outros, os rios Maputo, Incomáti, Umbeluzi, Matola e Tembe.

A Xefina (constituída por 3 ilhas, Xefina Grande, Xefina Média e Xefina Pequena), fica dentro do Estuário do Espírito Santo, a uma distância de 5 quilómetros de Lourenço Marques, quase frente à Praia da Costa do Sol.

Na Xefina existia na altura um Forte e uma Prisão Militar.

O seu serviço durante estes três meses consistiu no seguinte:

Ia todos os dias com os seus camaradas à Xefina num barco da Marinha para levarem víveres, medicamentos, correspondência e outros, aos militares que ali se encontravam presos a cumprirem pena sentenciada pelo “Tribunal de Guerra” por terem cometido crimes contra o “Estado Português”.

Em seguida o meu irmão retornou a Tete para cumprir o tempo de serviço militar que ainda lhe faltava para passar à disponibilidade.

Falando em militares condenados pelo “Tribunal de Guerra” e presos na Xefina, quem não se lembra de nos meados dos anos sessenta, um militar ter morto a tiro, três camaradas seus dentro do Quartel Geral na cidade de Lourenço Marques?

Pois eu lembro-me, nunca o vou esquecer enquanto viver, porque um deles pertencia à nossa família e era filho único, sem irmãos, a casa onde morava ele e os seus pais ficava perto do Quartel onde foi morto, na Avenida 24 de Julho – Alto Maé.

Ficou sepultado no Jazigo de Família no Cemitério de S. José de Lhanguene.

Esta imensa vergonha que, com a Inquisição, constituem as mais negras páginas de uma História gloriosa – como foi a de Portugal – talvez para mostrar que mesmo um povo de heróis pode gerar traidores e fratricidas.

- Porque é que Portugal deu um prazo gigantesco, estranho e excessivo de 10 anos para entregar a cidade de Macau à China, e não fez o mesmo com as Províncias Ultramarinas, com todo o seu Império Colonial Português?!

Moçambique está de parabéns pelo dia de hoje.

Que o povo moçambicano tenha muita paz, seja muito feliz e viva com muita prosperidade.

Fonte: Arquivo Pessoal