Nasci e vivi a minha infância no Centro de Moçambique, assim como todos os meus irmãos e outros familiares, a família mudou-se para a Beira e depois para Lourenço Marques.
Os meus três irmãos mais velhos, andaram ambos na Guerra Colonial em Moçambique, em zonas 100% operacionais como Tete, Niassa e Cabo Delgado, uns a seguir aos outros, sem intervalos.
Os mancebos residentes em Moçambique e que eram recrutados, assentavam praça no Quartel de Boane onde ficavam 3 meses na recruta. Boane fica situada a 50 quilómetros a Sul da capital de Lourenço Marques, hoje Maputo.
Ao fim de três meses de recruta, eram então enviados para os vários Quartéis espalhados pelo Território, para tirarem a especialização de combate e defesa com os "instrutores" e só depois é que estavam atos para irem para a guerra, tanto poderiam ficar a combater em Moçambique, como irem para Angola, Guiné ou Timor, onde ficavam mais de três anos a defender o território e o povo português (de várias raças e crenças) até cumprirem o serviço militar obrigatório.
Em seguida passavam à disponibilidade e ainda ficavam na "reserva até aos 35 anos de idade", se houvesse falta de homens, seriam novamente convocados para servirem a “Pátria”.
Depois da Independência de Moçambique a 25 de Junho de 1975, Vila Pery como se sabe passou a chamar-se Chimoio, onde há uma "fronteira oficial" com o Zimbabwe (antiga Rodésia do Sul, ex-colónia britânica), de passagem e de entrada de pessoas, bens e mercadorias.
Os militares enviados para Vila Pery (onde ficava o Quartel de Artilharia), especializavam-se em radiotelegrafistas, condutores de panhards, apontadores-atiradores, etc. (salvo erro e omissão).
O Quartel de Artilharia no Chimoio, ainda existe dentro das condições possíveis, mas já não é o Quartel que era há quarenta anos.
Chimoio está muito diferente devido à debandada geral do povo português a seguir ao 25 de Abril e depois também devido à guerra civil que alastrou no país durante 16 anos, ficando anos a fio sem vivalma e à mercê da invasão dos estrangeiros, dos seus vizinhos, que nela se foram instalando porque não havia qualquer controlo.
Depois disso nada foi feito ou reconstruído, há esgotos a céu aberto, ruas ou caminhos de terra batida, e está transformada em mercados informais de rua, este cenário existe em todo o país.
Na cidade da Beira a situação é igual, o mercado informal instalou-se por todo o lado, a degradação do património do tempo colonial (igrejas, escolas, liceus, edifícios, vivendas, chalés) é impressionante, é um horror de contemplar, mas os nomes das artérias (toponímia) tirando meia dúzia que foram alteradas, mantém-se como no passado.
A Infantaria, a Cavalaria, a Marinha e a Força Aérea, para além dos quartéis gerais funcionarem em Lourenço Marques, depois de tantos anos que se passaram não me recordo onde ficavam estrategicamente instalados por todo o território de Moçambique.
Depois de ter começado a Guerra Colonial (talvez em meados dos anos sessenta), foi construído no Dondo, uma vila que fica no interior a 12 quilómetros de distância da cidade da Beira, um Quartel com dois Aeródromos para ensino, aprendizagem e treino de paraquedismo militar.
A seguir ao 25 de Abril, o Dondo foi bombardeado, o quartel, as pistas, as fábricas, as indústrias e as próprias habitações dos civis foi tudo destruído, a população que sobreviveu teve que fugir para a cidade da Beira.
A Independência de Moçambique, como é do conhecimento de todos, foi entregue à Frelimo (numa salva de prata), sem consulta prévia popular, sem estabelecer um prazo para o fazer, até para haver um consenso político e popular.
Em 1976 como a Renamo não concordou, começou uma guerra civil entre estes dois partidos (Frelimo e Renamo), e andaram dezasseis anos a guerrear-se por questões políticas, matando o seu próprio povo, destruindo todo o seu próprio país, chacinando milhares de gerações.
Por causa da guerra civil entre a Frelimo e a Renamo o Parque Nacional da Gorongosa atualmente está uma penúria, devido à debandada geral do povo que vivia no Centro de Moçambique, que foi obrigado a fugir aos milhares, procurando refúgio nas aldeias, vilas e nas cidades costeiras, para salvarem as suas vidas, para escaparem a tamanha matança.
E esse povo nunca mais regressou às suas origens, aos seus povoados, às suas aldeias ou vilas onde nasceu e onde viveram com todos os seus antepassados, porque esses povoados foram bombardeados durante 16 anos e deixaram de existir, desapareceram, já não existem, esfumaram-se do mapa.
Por causa desta guerra quase todos os animais selvagens foram mortos e muitos deles foram totalmente extintos.
As florestas e matas foram destruídas pelos incêndios, pelos bombardeamentos e devastadas à catanada.
Finalmente, em Outubro de 1992, foi assinado em Roma o "Acordo Geral de Paz" que pôs termo a esta matança.
Mas este Acordo de Paz nunca foi respeitado até aos dias de hoje.
Alguns anos depois, com a colaboração do Parque Nacional do Krugger da África do Sul, foram reintroduzidas no Parque Nacional da Gorongosa muitas espécies de animais selvagens (elefantes, hipopótamos, zebras, javalis, antílopes, búfalos, bois-cavalos, girafas, leões, impalas), procedendo-se também à sua reflorestação (vegetação, arbustos, acácias, árvores de frutas, e de madeiras exóticas).
O Parque Nacional da Gorongosa num esforço gigantesco parecia que ia renascer das suas próprias cinzas.
Uma tarefa inglória porque atualmente Moçambique é o palco mundial de extermínio da vida selvagem, das matas e das florestas.
O Parque Nacional da Gorongosa era naquele tempo o mais famoso e o mais povoado de toda a África tinha quatro reservas de caça, hoje, não tem nada a ver com o passado colonial português.
As independências vergonhosas das colónias portuguesas, dadas às pressas em 1975, pelos covardes e traidores, pelos vendilhões da Pátria, pela corja de bandidos e criminosos do 25 da abrilada de 1974, só deram mau resultado para todos.
Porque o povo português de todas as raças e crenças, foi abandonado à sua sorte, pelos traidores, pelos corruptos e pelos miseráveis de Lisboa, que tomaram de assalto “Portugal e o poder político” e nunca mais o largou até aos dias de hoje.
Moçambique já não é o mesmo território para quem lá nasceu ou viveu antes da vergonhosa independência.
Fonte: Arquivo Pessoal