27 de maio de 2017

Porque é que em Moçambique na cidade podemos vender a terra e a casa mas no campo não, João Carrilho



A Lei de Terras em vigor no nosso país é referenciada como sendo boa pela generalidades da sociedade porém alguns académicos consideram-na ultrapassada para a realidade actual. João Carrilho afirmou que o dispositivo legal deve ser repensado e lembrou que a norma constitucional de que a“terra não deve ser vendida, ou por qualquer outra forma alienada” é inspirada numa lei de 1917 proclamada pelo primeiro Congresso Soviete. Uma posição partilhada por António Francisco que recordou-se do provérbio africano “quando os brancos vieram para a nossa terra, nós tínhamos a terra e eles a bíblia, agora nós temos a bíblia e eles têm a terra”, o professor de Economia perguntou “depois dos brancos partirem quem ficou com a terra?”

A reflexão dos académicos aconteceu na passada quarta-feira(24) durante um concorrida conferência organizada pelo Observatório do Meio Rural(OMR) e que tinha por objectivo discutir a diversificação da economia moçambicana “sob o ponto de vista estrutural, com enfoque para a agricultura”.

Relembrar 7 de Setembro de 1974 por Carlos Branco



Recebi do meu amigo e camarada de há trinta anos, Carlos Branco, este testemunho vivencial do 7 de Setembro de 1974 em Moçambique.

«Quando chegou a Vila Pery a notícia de que havia ocorrido uma revolução/golpe de estado em Portugal, de um modo geral e ingenuamente os portugueses ali residentes acolheram-na com esperança. Depois de mais de uma década de guerra que sabíamos estar a ser deliberadamente perdida pensámos que o novo governo iria alterar estratégias no sentido de inverter o processo. Durante mais de 13 anos de guerra, assistimos a um facto: de vitória em vitória sobre os "turras" a área abrangida pela guerra, ao início confinada ao norte de Cabo Delgado e Niassa, tinha chegado depois a Tete, onde apenas o perímetro de Cabora Bassa era zona segura, e em 1974 o corredor da Beira, onde eu residia, era já zona de guerra, com ataques a quintas, camionetas de passageiros, comboios, automotoras e automóveis particulares. Havia uma explicação e era muito simples: em zona de guerra, a chamada "zona 100%", os oficiais do quadro recebiam o dobro do vencimento, à laia de subsídio de risco. Logo, quanto maior fosse a área afectada pelo conflito maior número de militares beneficiaria financeiramente. Podem tirar as vossas conclusões. Podem também perceber a esperança que o 25 de Abril levou aos portugueses em Moçambique. E curiosamente, estava Spínola no epicentro do terramoto político, eu próprio vi no aeroporto da Beira, que era anexo à Base Aérea 10 da FAP, um Boeing de carga a descarregar várias peças de artilharia e 2 F-86 Sabre (caças a jacto) desmontados que iriam reforçar o dispositivo militar regional.

O 7 de Setembro de 1974 visto por Rui de Castilho




«Em Lourenço Marques era a velada de armas. Os dias que se iam seguir, seriam o ruir de todas as últimas esperanças, a inimaginável matança, a selvajaria completa, brutal inesperada. Brancos de pele pintada de negro iriam pelo Caniço explorar os mais baixos instintos da populaça; hordas de negros drogados, bêbados, excitados, iriam massacrar mulheres e crianças, capitaneados por uma Frelimo exultante; dos militares, emparedados na perplexidade, entre os seus compatriotas de raça e de cultura a caírem mortos ao lado e as ordens de Lisboa de subjugar, esmagar, os “revoltosos”, não houve resposta.

Ou só houve a simbólica, dos poucos que destruíram as próprias armas, carregadas de balas simuladas, impotentes ante o genocídio.

Os moçambicanos pagariam demasiado caro, ao preço do horror, uma certa leviandade a tratar com aqueles que os defenderam durante mais de dez anos.

À esquerda, o sol mergulhou finalmente, no oceano, deixando uma fugaz mancha rubra, ainda e sempre num reforçar de augúrios, como um lago de sangue, que logo desapareceu.
Findava o dia sete de Setembro de 1974.

Pela primeira vez em quatrocentos e setenta e seis anos a Noite cobria o Império.»

In Rui de Castilho, O Capitão do Fim, Prefácio Lda, 2002, p. 474

O 7 de Setembro de 1974 visto por Rui Barandas



O drama dos brancos em Moçambique, começou com o acordo de Lusaka, ao qual Mário Soares presidiu e no qual foi assinado a entrega de Moçambique aos terroristas (assim eram conhecidos e tratados), algo que deixou toda uma população de milhares de brancos em estado de choque,causando um clima de pânico e de alarmismo jamais vividos naquele terrítório. Como podia ser? Então o 25 de Abril, com tantas promessas de Liberdade culminou nisto? Entregar Moçambique desta maneira sem garantias para os brancos, sem um referendo, sem nada? Repentinamente e espontaneamente milhares e milhares de brancos, tomaram conta das cidades incluindo a capital, Lourenço Marques.

Ricardo Saavedra ou o 7 de Setembro de 1974 por mão-própria



«Como observa, e com inteira pertinência, o nosso autor de hoje: se o General Spínola não existisse, talvez razão não houvesse — não havia, seguramente, razão alguma — para que este livro se tivesse escrito. Simplesmente, acontece que Spínola existiu mesmo, e — ai de nós! — com ele e a par dele existiu, também e sobretudo, esse abundante viveiro de renegados, que o mesmo Spínola foi deixando criar à sua volta, por pura imbecilidade. Adiante.

Da África do Sul nos chega este livro, já hoje em 5.ª edição. E bem pode dizer-se que o mesmo é natural de Joanesburgo, uma vez que foi lá que Saavedra — ou o exilado que quiseram que ele seja — o escreveu e publicou. A primeira tiragem do trabalho data de há mais de um ano e esgotou-se logo em dois dias, ficando a constituir o maior best-seller de expressão portuguesa até hoje editado no continente africano.

Da reportagem se trata, e empolgante. E nem o facto de ser conduzida em bases e em termos preponderantemente emocionais — com a descarga dos nervos a sentir-se sempre à flor da pele da narrativa —, nem isso chega para molestar a objectividade desta, que é da ordem dos cem-por-cento. Assim, toda e qualquer semelhança de figuras ou factos focados no livro com personagens e ocorrências verídicas está longe de ser mera coincidência.

Moçambique - 7 de Setembro de 1974 por António Maria Zorro



«Foi a meio da tarde de domingo, 8 de Setembro de 1974, que os portugueses do que então era ainda Portugal Metropolitano se aperceberam da gravidade do que estava a passar-se em Lourenço Marques, onde, na véspera, um grupo de jovens tomara o Rádio Clube de Moçambique, transformando-o em “Voz de Moçambique Livre”: com adesão espontânea de milhares de pessoas sem distinção de milhares de pessoas sem distinção de raça ou de credo político ou religioso, com a participação de representantes de todos os partidos políticos ali criados após o “25 de Abril”, com a colaboração, até, de antigos chefes da guerrilha antiportuguesa, essa “Voz de Moçambique livre” erguia-se contra a miserável subserviência do governo de Lisboa face aos agentes do imperialismo marxista e, em especial, contra a entrega de Moçambique à Frelimo, acabada de firmar em Lusaka.