6 de abril de 2010

Vila de Nangade preparada para a festa dos 35 anos da independência


35 anos da proclamação da independência: Nangade preparado para o início da festa

O Distrito de Nangade, na província de Cabo Delgado, acolhe amanhã o início das celebrações dos 35 anos da proclamação da independência nacional. O facto será testemunhado pelo Chefe do Estado, Armando Emílio Guebuza, membros do Governo, representantes de confissões religiosas e de partidos políticos, entre outros convidados.

Dados a que o “Notícias” teve acesso indicam que as cerimónias começarão com o acender da Chama da Unidade Nacional, tocha que será transportada em marcha popular por todas as províncias, culminando com a sua chegada à cidade de Maputo, no dia 25 de Junho.

A vila de Nangade está a ser engalanada para acolher este importante evento político - cultural.

Os 35 anos da proclamação da independência acontecem sob o signo “35 Anos Unidos na Luta Contra a Pobreza. Três Gerações, Um só Povo, Uma só Nação”.
Este “slogan” visa mobilizar todos os moçambicanos para celebrarem a data tendo presente o seu passado de luta contra a dominação estrangeira, a proclamação da independência e os desafios do momento que passam pelo combate à pobreza.

O administrador distrital, Melchior Focas, disse à nossa Reportagem que tudo está nos pontos estabelecidos pela organização, para receber os visitantes que, aliás, já começaram a chegar. Estarão em Nangade, igualmente, representados todos os distritos de Cabo Delgado, trazendo os seus grupos culturais.

Para colmatar o dilema de alojamento, Nangade rebuscou a experiência da luta armada de libertação nacional, de colaboração activa, sendo que a população da vila-sede e bairros circunvizinhos foi mobilizada a ceder as suas casas.

Um total de 70 elementos, na sua maioria professores do distrito, constitue o corpo do protocolo, que já ontem havia entrado em funções, com a chegada dos primeiros hóspedes e também estavam concluídos o monumento onde será lançada a tocha da Chama da Unidade e a praça dos heróis moçambicanos. Ainda podiam ser vistas tendas a ser erguidas em diferentes pontos da vila. Quatro tanques de água com a capacidade para entre 5 a 10 mil litros foram colocados em pontos estratégicos e uma série de latrinas construídas.

Nomes sonantes da indústria hoteleira da cidade de Pemba e de Nampula montaram os seus restaurantes em tendas para dar resposta à demanda que se espera. Um movimento desusado de camiões-cavalo, levando mantimentos e algumas peças de mobiliário, completa o quadro que transformou Nangade numa autêntica cidade.

Dos diferentes pontos da província de Cabo Delgado, principalmente nas sedes distritais, transportes semicolectivos de passageiros estão em prontidão para as próximas horas se fazerem à estrada, em direcção a Nangade, onde, entretanto, não há comunicação nem por telefone fixo, muito menos pelos móveis.

Enclaustrado junto ao rio Rovuma, diante da sua famosa lagoa, Nangade vai ver amanhã o resultado duma organização que não deixou atrás ninguém dos 62.476 habitantes daquele distrito, que passou a esta categoria somente em 1980, com a nova divisão administrativa, pois antes pertencia ao conselho de circunscrição de Palma.

Situado, tal como Mueda e Muidumbe, nas antigas zonas libertadas da Frente de Libertação de Moçambique, o distrito de Nangade tem a particularidade de ser o hospedeiro de um centro de mutilados de guerra, para os quais nos últimos cinco anos foi construído um centro com 50 casas de alvenaria. Mesmo assim, ainda há 1330 antigos combatentes que continuam a aguardar a fixação das suas pensões. Na verdade, Nangade tem 3335 combatentes identificados, sendo que 2005 já beneficiam das respectivas pensões.

A segunda base mais importante dos guerrilheiros da Frelimo, depois da central (Base Moçambique), em Muidumbe, localiza-se em Nangade, agora guarnecida por antigos combatentes voluntários que querem preservar a sua história, que afinal acabou sendo de toda uma nação.

Foi em Nangade que Josina Machel disse publicamente que não se sentia bem, no início da doença que a levaria à morte. Aquela combatente, cuja data da morte é celebrada em todo o país como Dia da Mulher Moçambicana e que se assinala amanhã, esteve em trabalho no interior de Moçambique, muito precisamente na localidade de Itanda, região de Nyanga, hoje posto administrativo de Ntamba. Reunida com as populações, segundo contam as guerrilheiras ainda vivas, disse não se sentir bem e dia seguinte pôs-se a caminhar para um hospital na Tanzania, atravessando o rio Rovuma, pela zona de Mandimba, para nunca mais voltar.

“É um tributo à Josina, este ano as cerimónias centrais do Dia da Mulher Moçambicana terem sido planeadas para o distrito onde ela trabalhou várias vezes e donde disse que estava doente”, consideram os partidários daquela heroína.

O administrador distrital fala dum Nangade a evoluir economicamente, a partir da exploração florestal, do seu caju (a famosa castanha de Nangade) e outras actividades de índole comercial, que, apesar de serem realizadas muitas vezes a nível informal, apoiam as populações, ao mesmo tempo que tudo está a ser feito para a legalização deste sector não menos importante.

Pedro Nacuo
Maputo, Terça-Feira, 6 de Abril de 2010:: Notícias