8 de janeiro de 2011

Moçambique: A luta continua e o Povo vai de novo vencer


Editorial

Em 2011 é preciso continuar-se a acreditar

A luta continua e o Povo vai de novo vencer

Maputo (Canal de Moçambique) - Em 2011, o que gostaríamos de ver? Ver o disco a tocar a mesma “marrabenta”? Não terá chegado a hora de se passar a exigir que neste País os outros ritmos também se dancem? “Sungura” não dá? “Mbira” não dá? “Tufo” não dá? “Mapiko” não dá? Continuarmos a ver em 2011 o Povo a sofrer e a elite do poder, depravada e enclausurada em Maputo – agora até já metida em “guetos” a que chamam de “condomínios” –, convencida que é com ela que o País vai sair deste estado de coisas? Acham mesmo que é possível por muito mais tempo a Paz manter-se deste jeito?
Será mesmo que, se não for feito muito mais do que se tem vindo a fazer até aqui, o povo não vai sair à rua outra vez para lutar pelos seus direitos já que até a Oposição parece estar já muito “contente” com “meia dúzia” dos seus membros no parlamento a curtirem o erário público como os da Frelimo?
Será que com esta Oposição que se combate a ela própria, traindo, com os seus apetites sórdidos, até a própria elite honesta de Maputo e de outras partes do País que ainda acredita nela, vamos evitar que o estado de coisas, perigoso, que nos rodeia, se mantenha? Quem faz mesmo qualquer coisa válida para que o País deixe de caminhar desta forma galopante para o caos incontrolável?
Já alguém pensou que este país precisa mesmo de uma Oposição a sério e não de uma Oposição de meninos mimados à espera de “maçaroca” e deslumbrados por terem chegado ao Parlamento e estarem já na bicha das benesses?
Será que vamos continuar a ver a dita “sociedade civil” meter-se em casa, cheia de medo quando o Povo sai à rua, como se afinal fossem apenas apêndices do partido no poder e não parte da solução?
Que organizações da “sociedade civil” são estas que frequentemente tentam apresentar-se ao País como a nossa salvação, mas que quando as contradições se pronunciam só dão para percebermos que andam apenas a “mamar” da ajuda internacional que tem por alegado propósito construir uma sociedade civil interventiva, crítica e com sentido de Estado? Que raio – passe a expressão – de sociedade civil é esta?
O que irá suceder neste País se a luta contra a pobreza absoluta e contra a pobreza urbana não passar de conversa fiada e de mero discurso de mobilização de mais fundos para reforçar o domínio político de uma certa auto intitulada elite da Frelimo com todas as características de depravada, como até aqui se está a ver que é? (NB. - Distinguimos intencionalmente. Permitam-nos a chamada de atenção. Dizemos “elite” da Frelimo porque as evidências são claras: a maior parte dos membros da Frelimo continuam numa pobreza total, com medo até de perderem o pouco que têm se mandarem passear esta Frelimo). Até mesmo uma grande parte dos antigos combatentes vive na miséria. Quem quiser provas, vá a Mueda!.. Vá a Tete! Vá a Sofala! Vá a Marínguè! Vá a Gaza! Vá a Inhambane! Ou mesmo aqui aos arredores de Maputo. Veja-se até como vivem os antigos combatentes da oposição renamista no “condomínio da miséria” ao lado do Kaya Kwanga.
O que queremos de Moçambique? Queremos continuar a ouvir o presidente da República a falar de auto-estima para justificar os abusivos gastos com pompas para os dignitários do Estado quando em Nampula ardem casas porque os bombeiros não têm um único carro de pronto-socorro a funcionar, como aconteceu em vésperas deste fim do ano? Que brincadeira é esta? Será que é mais importante comprar sirenes para os “meninos e meninas do poder” andarem a exibir-se na cidade do Maputo em vez de se melhorar as condições dos bombeiros e de outras instituições públicas ao longo do País, por forma a capacitá-las a servir os donos do Estado que são afinal os cidadãos?
Será que é só a cidade de Maputo que pode ter bombeiros e mesmo aqui deficientemente apetrechados? De que auto-estima nos andam a falar? Da dos Mercedes, BMWs e Audis? Das dos Lexus 4x4? É só uma questão “auto”, ou é mesmo uma questão de estima pelo País, esta de que o Senhor Armando Guebuza não se cala de repetir e os “papagaios” não se cansam de imitar servilmente?
Por que é que o Governo Central não entrega os bombeiros aos municípios e lhes afecta as verbas? O Governo é de Moçambique ou é de Maputo?
A tão apregoada descentralização é só no papel para os embaixadores continuarem a dizer que “Mozambique is one of the sucessfull story in Africa” (Moçambique é uma das histórias de sucesso em África)? Qual sucesso? O sucesso dos depravados e dos seus cúmplices de que alguns representantes do doadores se sentem bem em fazer parte?
Vai haver em 2011 coragem para se acabar com esta palhaçada toda?
Quem tem medo de avançar?
Será que em 2011 vamos continuar a ver os altos dignitários das chancelarias internacionais com representação em Moçambique a continuarem a produzir relatórios para os seus governos que não reflectem a realidade do Povo Moçambicano?
Será que em 2011, os relatores honestos – que ainda vai havendo, felizmente, pelas chancelarias internacionais representadas em Maputo – vão deixar de ser ostracizados e vilipendiados pelos governos dos seus países quando dizem a verdade e só a verdade sobre o que se está a passar em Moçambique? Vão correr com esses honestos cidadãos do Mundo? Vão mandá-los calar? Não têm vergonha de tanta hipocrisia? E ainda assim têm o descaramento de vir sempre com as velhas teorias de que África não tem solução?
Porque será que os funcionários que se recusam a aldrabar os seus governos são mal tratados pelos destinatários dos seus relatórios? Será porque os destinatários desses relatórios querem mesmo o bem do Povo Moçambicano? Não será que os seus governos os ostracizam porque os “bons” são os que alinham na farsa e no “baile” da mesma “farra” dos corruptos moçambicanos?
Será que em 2011 os altos dignitários internacionais vão continuar a julgar que o Povo Moçambicano é “estúpido” a ponto de acreditar que os doadores estão mesmo a ajudar no combate à corrupção em Moçambique quando eles próprios dormem sobre as suas próprias convenções e convivem, impávidos e serenos, com os corruptos?
Será que com tantos “sucessos”, como se apregoa ter havido na Educação com a ajuda dos doadores, é possível continuarem a crer que os moçambicanos não sabem ler as convenções e perceberem que elas não passam do papel e existem apenas para “inglês ver”?
São todos iguais, os doadores?
Será que o que pareceu ser em 2010 vai-se perpetuar em 2011? Ou este Ano Novo vai-nos permitir vermos alguns a diferenciarem-se de forma inequívoca?
Entre os diplomatas estrangeiros residentes em Maputo quem vai mesmo passar a ter vergonha e mudar de atitude?
Quem quererá deixar de ser parte do problema para se tornar parte da solução e aliar-se ao Povo Moçambicano na sua luta pelo retorno aos bons costumes, por um Moçambique inclusivo, transparente e livre de sindicatos do crime?
Quem quererá continuar a ser parte do problema e a ser olhado silenciosamente pela esmagadora maioria dos moçambicanos como os “professores da corrupção”?
Entre o sofrimento do Povo Moçambicano, que irá mais uma vez por à prova a sua paciência em 2011, veremos como se comportarão os altos dignitários das chancelarias internacionais. Este ano promete!

(Canalmoz/Canal de Moçambique)

2011-01-07