Quanto «às independências ditas
exemplares pelos vendilhões da Pátria Portuguesa, pelos traidores e cobardes do
25 de Abril de 1974», o povo português que vivia na ex-colónia de
Moçambique (de todas as raças e crenças), logo a seguir ao 25 de Abril,
foi obrigado a entregar as armas que tinham em casa (os que as tinham),
mediante a ameaça que JOAQUIM CHISSANO fez através da rádio, que se não
as entregassem, imediatamente mandaria chacinar os portugueses pelos marginais.
Mesmo assim, depois de as armas serem
entregues, os portugueses foram todos enganados e sem aviso prévio, sem nada o
prever, ordenaram a sua perseguição, a sua crucificação, a sua chacina, a sua
matança.
O povo português ficou desarmado, indefeso
e à disposição das hordas de assassinos, de grupos de maltrapilhos e
analfabetos que assolaram a capital, as vilas, as aldeias e as cidades dos arredores,
aliás todo o território moçambicano foi invadido por estes criminosos, dizendo
que estavam a cumprir ORDENS SUPERIORES
recebidas da FRELIMO (Samora Machel, Joaquim Chissano, Marcelino dos Santos)
e do GOVERNO DE PORTUGAL (Melo Antunes, Mário Soares, Almeida Santos, Victor Crespo,
Otelo de Carvalho, Vasco Gonçalves).
Armados de catanas, metralhadoras,
baionetas e outros materiais contundentes, perseguiram o povo nas casas, nos
empregos, nas escolas, nos templos religiosos, nos hospitais, nas machambas,
nas ruas, em todo o lado onde estivesse, para o chacinar.
Estupraram milhares de mulheres, crianças
e idosas, perante a impotência dos homens da família, porque eram manietados,
acorrentados, ameaçados com catanas e baionetas, eram obrigados a assistir a
estas crueldades horrendas, para depois no fim serem todos chacinados e
esquartejados, morrendo assim milhares num conflito hediondo de que o povo
português foi a principal vítima.
Nos cemitérios vandalizaram jazigos,
campas, caixões e os mortos foram profanados.
Os “superiores de Moçambique e
os traidores, os cobardes de Abril, os vendilhões da Pátria – os de
Lisboa”, ordenaram estas chacinas, para que o povo ficasse aterrorizado e
fugisse imediatamente de Moçambique, para lhes serem confiscados todos os seus bens
- os portugueses ficaram sem nada, ficaram despojados de todos os seus haveres.
“Os superiores de Moçambique” não
queriam que os portugueses ficassem em Moçambique depois da Independência
(obtendo a nacionalidade moçambicana e continuando a viver a sua vida no
Moçambique Independente), e também “os traidores, os cobardes de Abril, os
vendilhões da Pátria” – os de Lisboa, não queriam que os portugueses, os
retornados, os espoliados de Moçambique, viessem para Portugal.
Não foi o cobarde, o traidor de Portugal,
o vendilhão da Pátria – MÁRIO SOARES - que disse para atirarem os portugueses,
os retornados, os espoliados de África, dos aviões ao mar para que fossem
comidos pelos tubarões?!
Quando os SOLDADOS PORTUGUESES que ainda
se encontravam em Lourenço Marques, a seguir ao 25 DE ABRIL, mesmo
que presenciassem violações, roubos e mortes e os portugueses lhes implorava
socorro, eles faziam chacota, palitavam os dentes, mascavam chicletes, fumavam
e cuspiam para o chão, cruzavam e descruzavam os braços ou as pernas, viravam
costas, ficavam indiferentes, em posição de descanso, quer vissem desmembrar
crianças (como aconteceu na Ponte Pinto Teixeira), violar mulheres à frente de
todos ou rebentar as portas das cantinas, das casas ou das flats para matar os
donos e roubar-lhes tudo, diziam: “SÃO ORDENS DE LISBOA”.
E a procissão de veículos, carros, camiões
e jeeps regados com gasolina a que deitavam fogo depois de trancar as portas
com os seus ocupantes lá dentro, filas intermináveis de veículos a arder, tudo
em labaredas gigantescas, fumos imensos negros e densos, cheirando a carne
queimada por toda o lado, parecia que Lourenço Marques, as suas vilas, as
aldeias e as cidades nos seus arredores, iam desaparecer do mapa, num inferno
dantesco, um autêntico apocalipse.
As pessoas que eram apanhadas,
enfiavam-lhes pneus dos carros pelas cabeças abaixo, que lhes mobilizava os
braços, ficavam logo em asfixia, penduravam-nas nas árvores, regavam-nas com
gasolina e deitavam-lhes fogo, uns autênticos archotes humanos.
Foi um espetáculo horroroso e diabólico
que preencheu os 250 quilómetros que medeiam entre Lourenço Marques e a cidade
de João Belo.
Em Lourenço Marques e nos seus bairros
limítrofes (Mahotas, Infulene,
Aeroporto, Malhangalene, Mafalala, Benfica, Xipamanine, etc.), muitas casas
foram incendiadas com as pessoas lá dentro, outras conseguiram fugir e andaram
refugiadas no centro da cidade, onde foram acolhidas em casa de
familiares, em casa de pessoas conhecidas e outras foram acolhidas até por
pessoas desconhecidas.
Porque estas hordas de assassinos, já
estavam a fazer um cerco à cidade de Lourenço Marques para obrigar o povo,
que estava cada vez mais encurralado, a fugir para a Baixa da cidade, em
direção à sua Baía – não havia outra escapatória, morreriam chacinados, ou
morreriam todos afogados - seria uma carnificina absoluta e inexorável.
Claro que perante estas chacinas levadas a
cabo com uma selvajaria diabólica e não havendo sinais para que terminassem, deu-se a debandada geral dum povo que
foi abandonado desde o início e de propósito pelos traidores e cobardes de Lisboa, crucificado, fragilizado,
aterrorizado, horrorizado, traumatizado, que conseguiu sobreviver a tamanha
matança, deixando para trás todos os seus bens imóveis, móveis, veículos e
pertences pessoais - tudo o que ainda não tinha sido saqueado, tudo o que ainda
não tinha sido pilhado - saindo às pressas de Moçambique com uma mão à
frente e outra atrás, uma mão cheia de nada e outra de coisa nenhuma.
O dinheiro que muitos portugueses tinham guardado
nos bancos, as economias que muitos andaram a poupar ao longo dos anos com
muito trabalho e sacrifício, com a intenção de terem uma velhice digna já que
não havia reformas, sem aviso prévio ficaram sem as suas economias, ficaram sem
nada, ficaram sem um tostão, porque todas as contas bancárias foram congeladas
após o 25 de Abril, a mando da Frelimo
e dos traidores, dos cobardes de Abril, dos vendilhões da Pátria – os
de Lisboa.
Os massacres mais hediondos perpetrados
contra o povo português (de todas as raças e de todas as crenças) e que estão
na memória de quem “sobreviveu a eles” são o 7 de Setembro, o 21 de Outubro e o
17 de Dezembro de 1974.
Na altura destes massacres tinha surgido
na cidade de Lourenço Marques “um grupo refratário, insignificante e
asqueroso de portugueses de todas as raças e de todas as crenças”, que não
aceitavam jamais que Moçambique fosse Independente, contribuindo eles
também com este ignóbil, intolerável e inaceitável protesto, ao massacre dos
seus compatriotas.
Passados que são 41 anos, “este
grupo refratário”, cujos nomes constam de uma lista (eu sei o nome de
algumas pessoas), que está na posse do Governo de Moçambique desde essa data -
continuam a estar proibidos de pisar “Terra Moçambicana”.
Ainda estão vivos alguns dos RESPONSÁVEIS (moçambicanos e
portugueses) pelos hediondos massacres perpetrados ao povo português,
que lançaram milhares de corpos de portugueses nas águas da Baía, dos rios
Limpopo, Incomáti, Umbeluzi, Matola, ou os transformaram em cinzas fumegantes
na terra que se acreditava que pudesse ser de todos os que lá estavam e que
queriam continuar a viver nela – portugueses de todas as raças e de todas as
crenças.
Esta chacina foi compactuada com a
“Frelimo e com os traidores e os cobardes do 25 de Abril (os vendilhões da
Pátria)” – que deram as independências às pressas.
Depois do 25 de Abril de 1974, todos os
antigos combatentes da guerra colonial, foram "votados ao abandono”
pelos Governos de Portugal ao longo destes 41 anos de "democracia".
Durante a guerra colonial e também no
pós-25 de Abril, alguns dos ex-combatentes perpetraram por conta própria "Crimes
de Alta Traição à Pátria Portuguesa e ao seu Povo" e que estão “gravados”
nas páginas negras da História de Moçambique e da História de Portugal.
Um dos meus irmãos que cumpriu o serviço militar em Tete, numa das
muitas emboscadas de que foi alvo, a sua companhia sofreu uma emboscada terrível em 1970, onde
camaradas seus perderam a vida, outros ficaram gravemente feridos, foram
evacuados para o Hospital Militar em Lourenço Marques (muitos deles ficaram com
braços e pernas amputados e muitos até sem os olhos) - ficaram inválidos,
mutilados, cegos e com traumas de guerra para toda a vida.
Depois de ter recuperado e estar novamente apto, esteve três meses em
serviço no Quartel Geral sito no Bairro do Alto Maé na cidade de Lourenço
Marques.
A Baía de Lourenço Marques com uma largura de 36 quilómetros e 52
quilómetros de comprimento, forma o Estuário do Espírito Santo com 30
quilómetros quadrados.
Na Baía embocam, além de outros, os rios Maputo, Incomáti, Umbeluzi, Matola
e Tembe.
A Xefina (constituída por 3 ilhas, Xefina Grande, Xefina Média e
Xefina Pequena), fica dentro do Estuário do Espírito Santo, a uma
distância de 5 quilómetros de Lourenço Marques, quase frente à Praia da Costa
do Sol.
Na Xefina existia na altura um Forte e uma Prisão Militar.
O seu serviço durante estes três meses consistiu no seguinte:
Ia todos os dias com os seus camaradas à Xefina num barco da Marinha
para levarem víveres, medicamentos, correspondência e outros, aos militares que
ali se encontravam presos a cumprirem pena sentenciada pelo “Tribunal de
Guerra” por terem cometido crimes contra o “Estado Português”.
Em seguida o meu irmão retornou a Tete para cumprir o tempo de serviço
militar que ainda lhe faltava para passar à disponibilidade.
Falando em militares condenados pelo “Tribunal de Guerra” e presos
na Xefina, quem não se lembra de nos meados dos anos sessenta, um
militar ter morto a tiro, três camaradas seus dentro do Quartel Geral na cidade
de Lourenço Marques?
Pois eu lembro-me, nunca o vou esquecer enquanto viver, porque um deles
pertencia à nossa família e era filho único, sem irmãos, a casa onde morava ele
e os seus pais ficava perto do Quartel onde foi morto, na Avenida 24 de Julho –
Alto Maé.
Ficou sepultado no Jazigo de Família no Cemitério de São José de Lhanguene.
Esta imensa
vergonha que, com a Inquisição,
constituem as mais negras páginas de uma História gloriosa – como foi a de
Portugal – talvez para mostrar que mesmo um povo de heróis pode gerar traidores
e fratricidas.
Desde o 25 de Abril de 1974, que todos os
Governos de Portugal, já disseram várias vezes, que “os espoliados de África
não têm direito a receber qualquer compensação do Estado Português”, por terem
deixado lá ficar todos os seus bens (capital, móveis, imóveis, dinheiro em
contas nos Bancos, veículos, mobiliário, etc.), que estes bens ficariam para
“eles, para os africanos”, como forma de compensação pelos 500 anos de colonialismo
português em África.
- Porque é que Portugal deu um prazo
gigantesco, estranho e excessivo de 10 anos para entregar a cidade de Macau à
China e não fez o mesmo com as Províncias Ultramarinas, com todo o seu Império
Colonial Português?!
Fonte: Arquivo Pessoal
Escrito por MOZ