16 de novembro de 2011

Colonialismo (Francisco Moita Flores)

Colonialismo

O escândalo que rebentou com o saco negro das dívidas da Madeira não passa de um ruído que os madeirenses atirarão para trás das costas, entregando a Alberto João Jardim nova maioria absoluta nas próximas eleições.

Passos Coelho escapou-se habilmente remetendo a censura para o acto eleitoral. Sabe que não vai haver censura alguma. A haver essa censura seria dos eleitores do continente, que pagam a factura hoje, como pagaram ontem. Quem conhece, ou já viveu dinâmicas eleitorais, sabe que o povo chamado às urnas não quer saber de notícias nem de opiniões.

Vota por afecto, vota por conveniência e, na Madeira, não existe figura mais conveniente do que João Jardim. Transformou o arquipélago, deu-lhe modernidade e qualidade de vida, fez crescer a riqueza, trabalho, mobilidade. Ao pé de Trás-os-Montes ou do Alentejo, é um paraíso. Foram precisos milhões para essa transformação, e para tanto Jardim percebeu desde cedo que a chantagem, o insulto, a ameaça independentista, o enxovalho (quem não se recorda dos ataques ao senhor Silva, as humilhações a Marques Mendes, a arrogância contra Passos Coelho) aos inimigos do continente – desde os ‘cubanos’, aos colonialistas, aos comunistas, à maçonaria, inimigos inventados, ainda por cima folclóricos – dão tempo de antena e visibilidade ao homem. E foi esmifrando o que podia e não podia.

Os líderes do PSD temiam-no, os primeiros-ministros, por mais discursos rígidos que fizessem, soçobravam, a chicana de Jardim pô-los todos em sentido. E de cócoras. Por esta atitude agressiva, insultuosa, os comentadores desvalorizavam o chorrilho de palavras e com este andar guerrilheiro, e trautileiro, construiu um dos cantos mais bonitos do país. É verdade que a sua dívida é mais do dobro da dívida das autarquias todas juntas e os autarcas são o saco de boxe de governos sucessivos.

A verdade é que se vivesse na Madeira votava em Jardim. Ele é a história e o progresso daquela região. É o único dirigente que, num Estado sem rumo, sabe sacar para aqueles que governa aquilo que entende. É o verdadeiro colonialista a sugar a colónia continental. E para que haja justiça mínima, só encontro uma solução: dar-lhe maioria absoluta e tornarmo--nos independentes. Há muito que não passamos de uma colónia da Madeira.

Francisco Moita Flores
Correio da Manhã, 11 de Setembro de 2011