17 de dezembro de 2011

Cabo Verde perdeu a sua Diva


Cabo Verde perdeu a sua Diva

Cesária Évora, uma das maiores cantoras de Cabo Verde, faleceu hoje aos 70 anos de idade e depois de ter anunciado a sua retirada dos palcos em Setembro deste ano. A data das exéquias ainda não é conhecida, mas no dia será decretada tolerância de ponto em São Vicente, caso o funeral seja realizado depois das 48 horas de luto nacional decretadas pelo Governo.

As reacções à morte de Cize não param de chegar um pouco de todo o mundo.

Para o Primeiro-ministro, José Maria Neves, a Cesária Évora é uma estrela que nunca se vai apagar e ficará “eternamente na memória” dos cabo-verdianos.

A RCV, avançou a informação de que o PM afirmou que a partir das 00h00 de domingo serão decretadas 48 horas de luto nacional. E caso o funeral não for realizado dentro de 48 horas,no dia das exéquias da Diva será decretada tolerância de ponto em São Vicente. As cerimónias fúnebres da diva serão asseguradas pelo Estado.

José Maria Neves afirmou que Cize era um “nome cintilante da cabo-verdianidade” e acrescentou: “estamos a ver o que podemos ainda fazer para eternizar o nome de Cesária (para além do luto nacional)”.

O Presidente da República de Cabo Verde recebeu a notícia hoje com grande consternação. Para Jorge Carlos Fonseca, Cesária Évora foi “uma das grandes referências da cultura nacional”. "Quando pensamos em Cabo Verde seguramente pensamos em Cesária Évora," afirmou o Presidente.

O PR, que esteve com a Cize no dia do 70º aniversário da cantora, recebeu hoje com pesar a notícia, já que “nada fazia prever” o que acabou por acontecer.
Jorge Carlos Fonseca afirmou que tudo fará para estar presente nas cerimónias fúnebres em São Vicente.

Mário Lúcio Sousa, ministro da Cultura afirmou em declarações à imprensa que o Governo está a preparar as exéquias juntamente com os familiares da diva.

“Cesária deve ser homenageada de todas as formas que engrandecem o povo cabo-verdiano”, afirmou o Mário Lúcio, que já partilhou os palcos com a diva enquanto músico.

“Cesária, para além de cantora, era uma alma que cantava música para todos” lembrou com profundo pesar o ministro que afirmou ainda que Cize era “um exemplo de vida”, uma pessoa de “enorme generosidade” que soube lidar com todos os momentos da vida.

O Presidente da Assembleia Nacional, Basílio Ramos, lembrou neste momento de dor, a mulher simples que foi Cesária Évora. “Cabo Verde fica mais pobre”, afirmou Basílio Ramos e acrescentou que a diva “deixa um grande legado que ficará na história”.

Para o Presidente da AN, Cesária Évora “levou o nome de Cabo Verde a todos os cantos do mundo” e recordou que o país tem uma grande dívida com a cantora.

O maior partido da oposição, MpD, em comunicado “manifestou a sua profunda consternação pelo desaparecimento físico de Cesária Évora … uma das maiores expoentes da cabo-verdianidade”.

Segundo o mesmo documento, para o presidente do Movimento para a Democracia, Carlos Veiga, Cize “soube com a sua voz encantar-nos e encantar o mundo” levando com a sua voz a alma cabo-verdiana aos quatro cantos da terra, projectando desse modo o nome e a imagem de Cabo Verde e reforçando o nosso orgulho nacional.

Para Veiga, a diva foi uma grande senhora e cidadã, simples e sempre preocupada com os problemas do dia-a-dia da sua comunidade, do seu Cabo Verde, que cantou com mestria e alma.

"É a nossa grande perda... a nossa voz que se cala!", disse Filomena Silva, directora do jornal "A Semana" à Rádio Renascença. Filomena confirmou ao órgão de comunicação social a morte de Cesária pelas 11h50 e descreveu o ambiente de consternação e tristeza.

Para Celeste Correia “há grandes vozes, mas há vozes inultrapassáveis”, afirma a ex-deputada do parlamento português.

“Recebi a notícia com grande tristeza, a sua morte foi muito sentida, telefonámos uns aos outros e quase estávamos em estado de choque. É uma grande perda para Cabo Verde e para os cabo-verdianos," disse Celeste Correia.

Mário Matos, ex-deputado nacional, recebeu a notícia via telefone e foi "um choque". "Ela tinha estado doente antes, mas a Cesária era uma mulher muito forte", explica Mário Matos.

"Pessoas como ela são vampirizadas, todos vêm dizer que eram amigos de infância. Mas lembro-me de uma vez estar em sua casa e perguntar-lhe se me conhecia, e ela respondeu: “Bo ê um daquês mocinhe de senhor Mário Matos,”recorda o ex-deputado.

"É uma enorme perda para Cabo Verde e para o mundo. Poucos cabo-verdianos ultrapassaram os horizontes de Cabo Verde; a sua postura, para além da sua voz, a sua grande humanidade filosófica, irão perdurar. Como passara fome na juventude, tinha sempre a mesa posta em sua casa. O mundo está neste momento a sentir a sua falta," concluiu.

Para o presidente da Associação Cabo-verdiana de Lisboa, Rui Machado, "ninguém como ela (Cesária) foi embaixadora do nosso país”. O representante da associação recebeu com imensa tristeza a notícia "não só por sermos conterrâneos da mesma idade, mas pela grande admiração, pelo talento, e tudo o que Cesária fez por Cabo Verde.

Rui Machado, que era amigo de Cize, acredita que "São Vicente em peso vai estar no funeral, e nós todos, onde quer que estejamos, estaremos também em pensamento." E acrescenta: "a sua morte deixa um vazio enorme na cultura de Cabo Verde, ninguém como ela foi embaixadora do nosso país, da nossa cultura, no mundo. É como a Amália Rodrigues em Portugal.”

O artista plástico David Levy Lima recebeu a notícia "como um soco no estômago" hoje pela RDP.

"Temos todos que tecer um louvor pelo seu desempenho a nível pessoal e a repercussão na cultura de Cabo Verde, não só na música, mas nas artes; o trabalho dela levou o nome de Cabo Verde a todo o mundo, deu um grande contributo para o reconhecimento do nome de Cabo Verde. A música de Cabo Verde está bem entregue com novas vozes, mas o trabalho de Cesária abriu as portas, pôs Cabo Verde nas bocas do mundo," afirma o artista.

Sapo CV, 17 de Dezembro de 2011