28 de abril de 2013

Líder da UNITA diz em Washington que “Eduardo dos Santos é o principal factor de instabilidade em Angola”


Washington - “O Presidente Eduardo dos Santos tornou-se no principal factor de instabilidade em Angola”. Foi nestes termos que o líder da UNITA, Isaías Samakuva, caracterizou a situação no país, quando se dirigia aos seus interlocutores, no segundo dia de visita a Washington D.C.

De acordo com o presidente da UNITA, “Angola tornou-se numa República sem republicanismo e num Estado democrático sem democracia real, onde o Presidente faz o que bem entende e manipula as eleições como bem entende”, tendo acrescentado que “Ao colocar-se acima da lei e utilizar o Estado para promover a corrupção, o Presidente José Eduardo dos Santos torna o seu regime político ainda mais instável e espalha a instabilidade no seio do próprio regime”.

O líder da oposição angolana classificou o crescimento económico de Angola de “enganoso, sem empregos, que não gera estabilidade social porque não reflecte o bem-estar das populações”.

Samakuva esclareceu ainda que os angolanos querem e precisam de um crescimento que traga empregos duradouros para os cidadãos e faça investimentos massivos agricultura, na indústria transformadora – de modo a diversificar realmente a economia - mas também na educação, na saúde e habitação, vias de proporcionar a qualidade de vida, tão propalada pelo Executivo de José Eduardo dos Santos, mas nunca dada às populações de Angola.

O mesmo apontou a corrupção que comparou a “um cancro que corrói a corda do sistema”, tendo exprimido a sua profunda preocupação pelo facto de não haver, por parte do regime, qualquer vontade de a combater. “A instabilidade em Angola atingiu proporções alarmantes e tornou-se num perigo tão iminente como um barril de pólvora”, asseverou o líder da UNITA.

Isaías Samakuva, que falava na terça-feira, 23, em duas ocasiões diferentes, perante uma plateia cheia, primeiro no Atlantic Council e, em seguida, na National Endowment for Democracy, indicou que, apesar dessas debilidades, ele tem confiança no futuro de Angola, porque – e eu cito – “a mudança está a chegar” – fim de citação. Esta foi a mensagem de esperança que transmitiu aos americanos, sublinhando que os angolanos, quer fora e mesmo dentro do próprio MPLA, já não querem o regime do Presidente José Eduardo dos Santos.

O líder da UNITA informou os conferencistas que a UNITA conduz, com todas as forças sociais angolanas, um diálogo nacional construtivo e decisivo visando a mudança em Angola. Revelou ainda que as forças democráticas no seio do MPLA também estão engajadas nesse diálogo, tendo pedido ao povo americano que apoie os esforços do povo angolano para a mudança, fazendo questão de tornar claro que “mudança não é sinónimo de instabilidade”.

Não ocasião, Isaías Samakuva fez questão de sublinhar que a oportunidade de emprego tem de ser igual a todos os angolanos, tendo reiterado que um governo da UNITA contará com quadros angolanos, independentemente da cor partidária, do local onde se encontrem, etc, numa clara alusão ao lema “um governo de angolanos, por angolanos e para os angolanos”.

O líder da UNITA foi o único orador numa concorrida conferência sobre Angola onde participaram membros do governo americano, conselheiros, especialistas em relações internacionais, diplomatas, académicos e outros convidados. Samakuva discursou sobre o tema “Estabilidade, Segurança e Governação em Angola”, tendo feito notar que “enquanto a Administração americana mantém com o governo de Angola relações de Estado para Estado, as várias forças que constituem o povo americano devem consolidar as relações directas com as várias forças que constituem o povo angolano para a defesa dos interesses comuns dos dois povos”.

“Ser republicano ou democrata, da UNITA, do MPLA ou de outra força política, consultor do governo ou homem de negócios, não importa, porque a dimensão atlântica de Angola, a dimensão social da UNITA e o papel actual do MPLA de Partido do Governo, tornam-nos parceiros iguais neste diálogo para a construção de um futuro melhor” – disse Isaías Samakuva, que rematou: “Juntos venceremos as forças da instabilidade, da má governação e da opressão” – estive a citar.

Tal como referi, a conferência foi promovida pelo Atlantic Council (Conselho do Atlântico), uma instituição não partidária fundada em 1961, com estreitas ligações com a NATO e todos os países banhados pelo Atlântico, dedicada a promover a segurança e a cooperação nas relações transatlânticas.

São membros proeminentes desse Conselho todos os líderes da política externa americana, incluindo Dean Acheson, Dean Rusk, Colin Powell, Herman Cohen, Hillary Clinton, entre outras individualidades. Recordo que, no ano passado, o Conselho foi presidido por Chuck Hagel, actual Ministro da Defesa dos Estados Unidos.

O discurso do Presidente da UNITA, foi também amplamente acompanhado e aplaudido na National Endowment for Democracy, que juntou mais de 10 Organizações Não-Governamentais americanas. O seu Director Executivo Dave Peterson, chamou-a de “Família NED – NED que significa, portanto, “National Endowment Democracy”, ou seja, o Fundo Nacional para a Democracia, que inclui ONG’s como a Amnistia Internacional, a Search for Commun Ground, entre outras.

Na quarta-feira, o líder da UNITA cumpriu o seu último dia de trabalhos em Washington e nos Estados Unidos, com uma passagem pela Voz da América, um encontro no Instituto Republicano Internacional (IRI), outro no NDI – Instituto Nacional Democrático, antes do ponto forte deste dia e desta visita que é o encontro aprazado para as 15h30 de Washington (20h30 em Angola), com membros da Casa Branca e do Departamento de Estado.

Esta quinta-feira, Isaías Samakuva vai manter um encontro com a comunidade angolana, antes de deixar os Estados Unidos e partir para a Europa, com paragens na Inglaterra, Bélgica, Alemanha, França, Espanha e Portugal.

Club-K, 24 de Abril de 2013