25 de abril de 2013

Um Abril sem festa (A Palavra do Director)



O 25 de Abril é a festa da democracia em Portugal, mas também é a nossa festa. Por direito próprio, podemos usar hoje na lapela um imenso cravo vermelho, o símbolo da revolução do Movimento das Forças Armadas.

Cada angolano que tombou na luta armada de libertação nacional pôs uma pedra na construção da democracia em Portugal. Cada “Capitão de Abril” que ousou levantar as armas contra o fascismo pôs uma pedra nos alicerces da nossa Pátria finalmente libertada.

Os angolanos não vão esquecer nunca que o Movimento das Forças Armadas se juntou ao MPLA, à FNLA e à UNITA na luta pela liberdade, pela Independência Nacional e pela democracia. Agostinho Neto, Hoji ya Henda, Kwenha, Kapangu, Spencer, Valódia, Jika, Iko, Holden Roberto, Afamado Pedro, Vakulukuta, Sangumbe, a mártir família Tchingunji, Wilson dos Santos e tantos outros são verdadeiros heróis da libertação do Povo Português. Otelo Saraiva de Carvalho, Salgueiro Maia, Melo Antunes, Rosa Coutinho e tantos outros “Capitães de Abril” são também nossos heróis, porque lutaram ao nosso lado nas trincheiras da liberdade.

Os Movimentos de Libertação das antigas colónias portuguesas derrubaram o colonialismo. O Movimento das Forças Armadas derrubou o governo fascista de Lisboa. Foi esta aliança fraterna que resgatou a dignidade e a liberdade dos nossos povos. Por muitos ventos contrários que soprem de Lisboa, por muitas punhaladas que as elites ignorantes e corruptas portuguesas desfiram nos nossos Povos, jamais conseguirão pôr-nos de costas voltadas.

Os laços de afecto que nos unem têm de ser cultivados com amizade, respeito, solidariedade. Os angolanos sempre estenderam as mãos aos portugueses, sempre vimos no Povo Português um irmão muito querido. Mas as elites ignorantes e corruptas de Lisboa não querem. Preferem dar as mãos a gente de baixa categoria, que vive da mentira, da difamação e do embuste. Com isso é a cooperação bilateral que sai prejudicada e não é de estranhar que seja em Madrid, e não em Lisboa, que hoje se realiza um grande fórum de investidores europeus interessados em Angola. Muitos homens de negócios da Europa começam a ver que a falta de visão de Lisboa está a atrasar e prejudicar os seus investimentos em Angola.

Pelo facto da relação com Angola ser determinada por essas elites ignorantes, em Portugal só os bandoleiros têm respeito e são bem recebidos.

Qualquer marginal é um cavalheiro para as elites corruptas portuguesas, desde que diga mal dos titulares dos órgãos de soberania angolanos.

Um qualquer escroque tem passadeira vermelha nos órgãos de comunicação social portugueses, neste momento bem mais asquerosos do que os propagandistas do regime fascista que, faz hoje 39 anos, foi derrubado pelos heróicos Capitães de Abril, nossos queridos irmãos e companheiros na luta pela liberdade.

As elites ignorantes e corruptas portuguesas até conseguiram afastar Manuel Alegre e Mário Soares das comemorações do 25 de Abril. Vasco Lourenço é para eles mais um Capitão de Abril a abater. Otelo Saraiva de Carvalho já nem sequer tem lugar entre os beneficiários da revolução que ele comandou destemidamente.

Hoje, na Assembleia da República Portuguesa, vão estar ausentes muitos combatentes da liberdade portugueses. Mas vão estar também de fora os comandantes ainda vivos do MPLA, do PAIGC e da FRELIMO. Vá lá saber-se porque razão, as elites portuguesas corruptas e ignorantes desdenham dos que levantaram a bandeira da liberdade tão alto, que ainda flutua entre a Ibéria e África, como uma pomba de Paz e Liberdade.

Pobres portugueses que já não se revêem nos heróis da liberdade. Que não exigem dos corruptos e ignorantes que dominam a cena social e política, que devolvam ao povo a festa do 25 de Abril e as conquistas da revolução. Hoje é um grande dia para os angolanos. Faz 39 anos que o Movimento das Forças Armadas nos deu as mãos e juntos levantamos as armas contra o fascismo. A Independência Nacional também passou pelo dia em que os Capitães de Abril saíram à rua para ajudarem a libertar os nossos povos.

Nesta festa de cravos e rosas de porcelana, que devia ser de imensa alegria, as elites corruptas e ignorantes em Portugal insistem em dar livre prática ao ódio e ressentimento contra Angola.

Os órgãos de comunicação social dão espaço a toda a espécie de mentiras e calúnias. Tudo lhes serve para embaciar a imagem da nossa querida Pátria e para sujar o nome e a honra dos nossos dirigentes, democraticamente eleitos.

Neste 25 de Abril, os portugueses não têm qualquer razão para festejar. Há crianças com fome, mais de um milhão de desempregados, falências em catadupa, pobreza e sobretudo muita tristeza. Nós em Angola, por solidariedade, também não podemos festejar. Mas do fundo do nosso coração continuamos a dizer: Viva o 25 de Abril e quem o apoiar!

Jornal de Angola, 25 de Abril, 2013