O historiador português José Pacheco Pereira considera que a intervenção do PCP em Portugal e junto dos movimentos independentistas nas ex-colónias portuguesas em África foi "trágica" para a história recente desses países.
Pacheco Pereira considera que "a herança, quer do colonialismo, quer do PCP, enquanto partido comunista nas colónias portuguesas, é de facto trágica".
Numa palestra subordinada ao tema "As relações dos movimentos de libertação com a oposição portuguesa", Pacheco Pereira defendeu ainda que um debate desapaixonado sobre a história recente pressupõe a emergência de uma "nova geração" e a abertura dos arquivos do PCP e de partidos como a FRELIMO (Moçambique) e MPLA (Angola).
"Se o PCP não tivesse o papel que teve em Portugal o caso de Angola, por exemplo, teria sido muito diferente porque o acordo inicial em Angola é assinado com três movimentos e a independência é feita por um, com tropas cubanas", disse Pacheco Preiera, acrescentando: "Em Moçambique, a FRELIMO comportou-se como um partido único realizando toda uma série de violências que criaram o caldo de cultura para o conflito civil que houve mais tarde com a RENAMO e praticamente destruiu Moçambique".
Para Pacheco Pereira, "a herança, quer do colonialismo, quer do PCP enquanto partido comunista nas colónias portuguesas é de facto trágica".
"Como aconteceu em muitos sítios, em África destruiu infra-estruturas, fez com quem em muitos desses países as pessoas ficassem mais pobres do que eram no tempo do colonialismo", disse o historiador.
Para Pacheco Pereira, autor de uma biografia em vários volumes do falecido dirigente comunista Álvaro Cunhal, a acção do PCP no pós-independência, designadamente enquanto instrumento da extinta União Soviética, influenciou ainda as guerras civis que posteriormente assolaram e arruinaram as ex-colónias africanas de Portugal.
"Uma das heranças que o PCP e a União Soviética deixaram, em muitos aspectos trágica, foram partidos e regimes comunistas. Basta olhar para a bandeira de Angola, para a bandeira de Moçambique para ver a simbologia comunista, uma versão da foice e do martelo", sublinhou.
Pacheco Pereira considerou não ser ainda possível "tirar uma conclusão" sobre a acção do PCP em Portugal no período que se seguiu ao 25 de Abril - se a simples tomada do poder para instauração de um regime do tipo comunista, se a criação de agitação que acelerasse, em condições favoráveis para Moscovo, a entrega das possessões ultramarinas, se ambas.
"Não se pode ainda tirar uma conclusão, mas penso que alguns quadros do PCP objectivamente quiseram tomar o poder em Portugal. Não estou a dizer que fosse essa a orientação da União Soviética", observou Pacheco Pereira, referindo que o PCP teve "enorme importância na génese dos movimentos de libertação", embora essa importância não tenha sido "a mesma para Angola, Guiné ou Moçambique".
Por outro lado, acrescentou, em 1953, os estudantes africanos ligados ao PCP, que mais tarde protagonizaram as lutas pela independência dos respectivos países, fizeram um "movimento de ruptura" recusando ser "apenas uma parte de um movimento português".
Fonte: Lusa
Autor: África Today/CB
Data: 02/10/2008
Fonte: Lusa
Autor: África Today/CB
Data: 02/10/2008