O Presidente da República, Cavaco Silva, mostrou-se hoje «impressionado» com a ignorância de muitos jovens sobre o 25 de Abril e o seu significado e denunciou uma «notória insatisfação» dos portugueses com o funcionamento da democracia.
No seu discurso na sessão comemorativa do 25 de Abril, no Parlamento, Cavaco Silva divulgou extractos de um estudo que mandou realizar sobre o alheamento da juventude face à política, e atribuiu parte da responsabilidade aos partidos políticos.
O Presidente considerou «não ser justo» para aqueles que se bateram pela liberdade, tantas vezes arriscando a própria vida, que a geração responsável por manter viva a memória de Abril persista em esquecer que a revolução foi um projecto de futuro.
«Os mais novos, sobretudo, quando interrogados sobre o que sucedeu em 25 de Abril de 1974 produzem afirmações que surpreendem pela ignorância de quem foram os principais protagonistas, pelo total alheamento relativamente ao que era viver num regime autoritário», declarou o Chefe de Estado perante o hemiciclo.
Cavaco Silva recordou que, quando o 25 de Abril ocorreu, uma parcela substancial da população não tinha ainda nascido e lamentou que quem viveu a revolução tenha a tendência para não se lembrar disso, julgando que essa data, fixada no tempo, possui uma perenidade eterna.
«Um regime político não pode esquecer as suas origens», disse, acrescentando «não ser saudável que a nossa democracia despreze o seu código genético e as promessas que nele estiveram inscritas».
Para Cavaco Silva, «num certo sentido, o 25 de Abril continua por realizar».
O Presidente destacou que «ainda há um longo caminho a percorrer» naquilo que o 25 de Abril continha em termos de ambição de uma sociedade mais justa, no que exigia de maior empenhamento cívico dos cidadãos, e naquilo que implicava de uma nova atitude da classe política.
Após recordar que já em 2006 procurou suscitar a reflexão sobre o sentido a dar a esta efeméride, e que ele próprio reflectiu sobre que sentido faz hoje evocar o 25 de Abril, o Presidente disse que, como sempre defendeu que os agentes políticos devem prestar contas do que fazem, apresentou-se no parlamento para dizer aos Portugueses que «continua convencido» de que a juventude é o horizonte de qualquer comemoração do 25 de Abril verdadeiramente digna desse nome.
Cavaco Silva disse ainda que o 25 de Abril «não é monopólio de uma geração nem de uma força política» e sublinhou ter encontrado, de Norte a Sul do país, sinais promissores, embora reconheça que não se tem conseguido mobilizar os jovens para um envolvimento mais activo e participante na vida política.
O Chefe de Estado fez eco da «notória a insatisfação dos Portugueses com o funcionamento da democracia, assim como a existência de atitudes favoráveis a reformas profundas na sociedade portuguesa».
Cavaco Silva disse aos deputados e convidados da sessão solene do 25 de Abril ser seu propósito promover em breve um encontro com representantes de organizações de juventude, tendo por objectivo colher a sua opinião sobre o distanciamento dos jovens em relação à política e sobre as medidas que possam contribuir para minorar ou inverter esta situação.
«Em vez de nos interrogarmos tanto sobre o que o futuro nos trará, seria melhor que nos concentrássemos sobre o que poderemos trazer ao presente», afirmou.
Para Cavaco Silva, «o futuro começa agora» e será o que dele fizermos hoje, nas nossas vidas profissionais e pessoais, nos nossos comportamentos cívicos, nas nossas atitudes perante os outros.
«Ao invés de imaginar o dia de amanhã, em lugar de procurarmos sinais nas estrelas de um futuro incerto, construamos hoje mesmo o que queremos para um Portugal melhor», afirmou, declarando que é esse o espírito com que exerce as funções em que foi investido.
«Sou Presidente da República porque não me resignei», afirmou, sublinhando que não se resigna, acima de tudo, porque acredita em Portugal e nos seus cidadãos.
Cavaco Silva concluiu o discurso comemorativo do 25 de Abril renovando o seu apelo aos portugueses, sobretudo aos jovens, para não se resignarem, porque só assim «serão dignos» da memória do 25 de Abril.
Fonte: Público, 25/04/2008