Em Moçambique, onde nasceu e espera viver sempre, é conhecido por "Búfalo". Resultado de uma "coincidência amorosa" mantém ainda viva a chama da monarquia de que descende.
"Búfalo" vive em África e é "rei" na selva e fora dela: o seu nome verdadeiro é Alberto Sousa Araújo, reside na Beira, segunda cidade de Moçambique, e assume-se como neto bastardo do penúltimo monarca português, o rei D. Carlos I.
Alberto Filipe dos Santos Sousa Araújo - conhecido em Moçambique como "Búfalo" - nasceu "no meio do mato e sem parteira" na selva da Gorongosa, no centro do país, e descende do fruto de uma "coincidência amorosa" do antigo rei português com uma dama da corte, que lhe haveria de traçar o destino.
"O meu avô de sangue, o rei Dom Carlos, teve uma coincidência amorosa e engravidou a dona Carlota, que era dama da corte muito chegada à rainha dona Amélia. A dona Carlota e o coronel Sousa Araújo, os meus avós de nome, vieram então para Moçambique em 1899", relata.
Apesar de nunca ter conhecido pessoalmente o seu "avô", o monarca português foi uma presença constante na vida de "Búfalo", um homem corpulento, de 55 anos, barriga proeminente e barba branca. "Quando era pequeno, todos os domingos via o meu pai içar uma bandeira azul. Estava habituado a ver na escola uma bandeira vermelha e verde. Então perguntava porquê. E ele dizia: 'Aquela é a bandeira da monarquia, a outra é a da República'", recorda. "Foi aí que me interessei pela história, pela geografia, da nossa geração, de onde viemos", explica.
"Eu uso a da monarquia uma vez por semana para lembrarmos os nossos antepassados", conta "Búfalo", que diz ter herdado do seu "avô de sangue" a sua "faceta de aventura", a "raiz de caçador" e a vontade de "querer conhecer mais coisas e de descobrir".
A história singular de "Búfalo" torna-o também num repositório de identidades: descendente de rei, mas nascido no meio da selva em Moçambique, politicamente "um bocado para as esquerdas", mas monárquico e "um nacionalista puro", "um africano" com sangue real europeu.
Alberto Sousa Araújo não vê nenhuma ambivalência na sua condição e dispara: "O neto do Gungunhana está nos Açores. Eu sou moçambicano e neto do rei Dom Carlos português."
Viver em Portugal é um cenário fora de questão: "Ir para onde? Para uma grande cidade? Ver luz, cor, movimento, sem situação? Isso não", exclama.
Mas já hesitaria perante a possibilidade de ser chamado a assumir o trono português, na eventualidade de o país regressar à monarquia. "Aí já tinha que pensar duas vezes. Primeiro pedia um referendo ao povo português se me queria a mim que nunca vivi lá, do modelo que eu ia fazer a monarquia e o meu pacote político. Para depois, se tiver descendentes à altura, entregar a monarquia e voltar para o país que eu adoro", imagina. Neto de rei com alcunha de animal selvagem, "Búfalo" prefere nem pensar nesse cenário. E explica porquê: "Nasci em África e sinto-me africano (...) e estou aqui vivo da costa, feliz da vida, a fazer o que eu quero e o que eu gosto."
Pedro Figueiredo
Jornal de Notícias, 07/01/2009
"Búfalo" vive em África e é "rei" na selva e fora dela: o seu nome verdadeiro é Alberto Sousa Araújo, reside na Beira, segunda cidade de Moçambique, e assume-se como neto bastardo do penúltimo monarca português, o rei D. Carlos I.
Alberto Filipe dos Santos Sousa Araújo - conhecido em Moçambique como "Búfalo" - nasceu "no meio do mato e sem parteira" na selva da Gorongosa, no centro do país, e descende do fruto de uma "coincidência amorosa" do antigo rei português com uma dama da corte, que lhe haveria de traçar o destino.
"O meu avô de sangue, o rei Dom Carlos, teve uma coincidência amorosa e engravidou a dona Carlota, que era dama da corte muito chegada à rainha dona Amélia. A dona Carlota e o coronel Sousa Araújo, os meus avós de nome, vieram então para Moçambique em 1899", relata.
Apesar de nunca ter conhecido pessoalmente o seu "avô", o monarca português foi uma presença constante na vida de "Búfalo", um homem corpulento, de 55 anos, barriga proeminente e barba branca. "Quando era pequeno, todos os domingos via o meu pai içar uma bandeira azul. Estava habituado a ver na escola uma bandeira vermelha e verde. Então perguntava porquê. E ele dizia: 'Aquela é a bandeira da monarquia, a outra é a da República'", recorda. "Foi aí que me interessei pela história, pela geografia, da nossa geração, de onde viemos", explica.
"Eu uso a da monarquia uma vez por semana para lembrarmos os nossos antepassados", conta "Búfalo", que diz ter herdado do seu "avô de sangue" a sua "faceta de aventura", a "raiz de caçador" e a vontade de "querer conhecer mais coisas e de descobrir".
A história singular de "Búfalo" torna-o também num repositório de identidades: descendente de rei, mas nascido no meio da selva em Moçambique, politicamente "um bocado para as esquerdas", mas monárquico e "um nacionalista puro", "um africano" com sangue real europeu.
Alberto Sousa Araújo não vê nenhuma ambivalência na sua condição e dispara: "O neto do Gungunhana está nos Açores. Eu sou moçambicano e neto do rei Dom Carlos português."
Viver em Portugal é um cenário fora de questão: "Ir para onde? Para uma grande cidade? Ver luz, cor, movimento, sem situação? Isso não", exclama.
Mas já hesitaria perante a possibilidade de ser chamado a assumir o trono português, na eventualidade de o país regressar à monarquia. "Aí já tinha que pensar duas vezes. Primeiro pedia um referendo ao povo português se me queria a mim que nunca vivi lá, do modelo que eu ia fazer a monarquia e o meu pacote político. Para depois, se tiver descendentes à altura, entregar a monarquia e voltar para o país que eu adoro", imagina. Neto de rei com alcunha de animal selvagem, "Búfalo" prefere nem pensar nesse cenário. E explica porquê: "Nasci em África e sinto-me africano (...) e estou aqui vivo da costa, feliz da vida, a fazer o que eu quero e o que eu gosto."
Pedro Figueiredo
Jornal de Notícias, 07/01/2009