Estação de Biologia Marítima da Inhaca: Sessenta anos construindo excelência na investigação
Mais de 500 espécies de plantas, 300 de aves, acima de 70 de crustácios, dugongos, golfinhos, tartarugas marinhas, baleias, mangais e ervas marinhas são apenas uma amostra da enorme riqueza em biodiversidade, que empresta à Ilha da Inhaca características únicas em toda a costa oriental de África.
Esta particularidade levou ao estabelecimento, em 1948, da Estação de Biologia Marítima da Inhaca, hoje unidade ligada à Faculdade de Ciências da Universidade Eduardo Mondlane (UEM), que se ocupa da pesquisa nas áreas de biologia e botânica marinhas, oceanografia e gestão das reservas marinhas e florestais daquela parcela da cidade de Maputo.
A Estação de Biologia Marítima da Inhaca foi o primeiro centro de investigação marinha estabelecido em toda a África Oriental, tendo o seu trabalho inspirado o estabelecimento de outras estações ao nível da região, como é o caso do ORE (Oceanografic Research Institute), da África do Sul, além de outras organizações similares na Tanzania, Quénia e Namíbia.
Como todas ilhas, a Inhaca tem a sua história. Nasceu e foi mudando ao longo dos anos. O nascimento da ilha está ligado a mudanças do nível das águas do mar, pois conta-se que houve tempos em que o mar cobriu todo o sul de Moçambique até chegar às montanhas dos Libombos.
Segundo dados em nosso poder, noutros momentos o mar recuou até dezenas de metros abaixo do nível actual, altura em que era possível ir a pé do continente para a ilha. No início, segundo se conta, a Inhaca era parte da península de Machangulo, tendo assim permanecido por cerca de 30 mil anos. Há sensivelmente 17 mil anos o mar começou um lento processo de ruptura que acabou dividindo a península em duas partes. Esse corte foi sendo aprofundando e o desenho da ilha foi se aproximando àquilo que é a actual Ilha da Inhaca.
Recentemente o Presidente da República, Armando Guebuza, efectuou uma visita àquela unidade de investidação da UEM, no quadro da presidência aberta à cidade de Maputo. A nossa Reportagem aproveitou o ensejo para conversar com Tomás Muacanhia, chefe da Estação de Biologia Marítima da Inhaca, que se manifestou preocupado pela pressão que está a ser exercida sobre os recursos da Inhaca.
Segundo Muacanhia, ao longo dos anos a estação realizou vários trabalhos de pesquisa, um dos quais teve a duração de três anos, e teve como objecto o estudo da hidrografia da Ilha da Inhaca, cujo objectivo era avaliar a disponibilidade de água subterrânea para o consumo humano.
“A principal conclusão a que se chegou é de que a Ilha da Inhaca tem pouca disponibilidade de água para o consumo humano, o mesmo que dizer que nas actuais condições naturais seria desaconselhável desenvolver uma indústria massiva na ilha. Para a população local ainda há água disponível, mas se Moçambique quiser fazer da Inhaca um centro turístico em grande escala podemos ter problemas, a menos que se opte por fazer canalização de água do rio Maputo, porque a desalinização da água marinha não é aconselhável a curto prazo...”, explica Muacanhia.
Sobre a origem de toda a riqueza em biodiversidade da Inhaca, a nossa fonte explicou que ela resulta do facto de vários rios escoarem lixo e demais resíduos que se acumulam nas ilhas da Inhaca e dos Portugueses. Devido à movimentação, o referido lixo é reciclado e se transforma em matéria orgânica digerível pelos peixes, carangueijos, etc.
“É por isso que Maputo é rico em peixe. Se construirmos barragens e fecharmos o movimento da água dos rios muita biodiversidade pode desaparecer da cidade de Maputo...”, disse.
Segundo o nosso interlocutor, o Estado moçambicano, particularmente a UEM, tem a obrigação de fazer algo mais para perservar a riqueza existente na ilha, uma vez que se trata da única zona da África Oriental com tanto potencial de biodiversidade.
Uma das inquietações da actualidade, segundo Tomás Muacanhia, é a crescente degradação ambiental que caracteriza a zona, consequência de uma gestão não apropriada dos recursos existentes, nomeadamente a pesca ilegal, a construção de infra-estruturas na orla marítima, o corte de mangais, a pastoreio de cabritos nas dunas primárias e outras acções que contribuem para a erosão e para a sedimentação dos corais e destruição do ambiente.
“Devido a algumas destas práticas há várias espécies em risco, entre elas as tartarugas marinhas, os dugongos, os cavalos marinhos e algumas plantas marinhas que só ocorrem na Inhaca ou no sul de Moçambique”, disse a nossa fonte.
Raimundo Sambo é responsável da equipa de quinze guardas florestais afectos à estação que, segundo explica, tem como missão de base proteger as várias espécies de plantas e fauna marinha contra a exploração desenfreada por parte dos cidadãos.
“Existem as reservas da Ilha dos Portugueses, Ponta Torres e Cabo Nhaca (Nhaquene). Há várias espécies de plantas e nas reservas marinhas existem corais, peixes e tartarugas. Têm havido casos de incursões tanto nas florestas como no mar. Há gente que vai pescar ou que vai fazer machambas ou cortar árvores para fazer lenha e produzir carvão”, explica Raimundo Sambo.
Segundo Sambo, o problema é particularmente mais grave na reserva florestal, porque há muitos populares que vão tirar estacas para construção, que vão abrir machambas e/ou procurar lenha, o que pode provocar o avanço da erosão.
“Temos feito reuniões para educação ambiental, nas quais explicamos às pessoas sobre as consequências que podem advir do uso desordenado dos recursos. Ao nível do mar os problemas surgem mais no Verão, quando a população de turistas cresce, mas temos problemas de meios materiais como barcos e outros para podermos levar a fiscalização para mais perto dos turistas...”, lamenta Raimundo Sambo.
Por João Manjate
Maputo, Terça-Feira, 6 de Maio de 2008:: Notícias