AIUÉ Dominga num qué chorár. Os minino já tá no vapor. E bana co mão e bana co lenço: mmammann, mmamman, mmamman... Dominga num qué chorár. E si vai chorár num vai ver mais esse vapor, nim os minino que tá nesse vapor, nim... Num pode, não; Dominga num pode. Dominga num qué chorár. Sô Gome tá inda na escada. E conta as imbamba. E ráia neses negro que tá a le estragar a maios mior, esse mala que Dominga rumou cos coisa desses minino. Mas os minino já tá memo no vapor. Dominga tá ver eles. E bana co mão e bana co lenço. E Dominga les ouve qui fara: mmamman, mmamman, mmamman. Dominga les ouve nesses confusão toda. Cos home que tá raiá nesses negro que ruma os saco. E esse máquina que tá sempre a pitár. Esse branco que manda-le sair todo o tempo e passa co máquina grande e despois já num vai, só quer é vortár. Dominga les ouve no coração: mmamman, mmamman, mmamman... Ma Dominga tem o coração pêsado no disgosto. E os óio tá co a vontade, ma Dominga num deixa-les chorár. E se Dominga les deixa, atão já sabe cos óio num vê mais esse vapor. E Dominga num qué, Dominga num qué chorár. Dominga percebeu. Nesse dia qui sô Gome vendeu o roça. Num farou nada. Despois, sô Gome qui diz: - Dominga, me deixa levá os minino no Puto. Qui, vai dar é mulato safado nesses muceque. Eu põe no colégio dos branco. Vai ter educação... Dominga num qué: é os minino dera, os minino que mamou nesses peito. Dominga num qué. Num pode. Num qué le deixár! - Atão?!... Dominha num qué chorár. E os minino já tá no vapor: mmamman, mmamman, mmamman... E bana co mão e bana co lenço. E Dominga num tá querêr. E despois num percebe. E esse branco le grita e fasta-le do máquina. E esse máquina vai; e despois já num qué só qué é vortar, caté parece ´s os óio de Dominga que tá só co vontade ma num pode mais chorár. E Dominga num tá repará nesses confusão todo. Sabe só que sô Gome tá a les pagar nesses negro o siriviço. E cos minino já tá no vapor e... Dominga num qué chorár. Esses minino é os minino dera, mamou nesses peito. Atão?! E despois... Quando Gome le disse, Dominga num qué deixár. Dominga... Como é?... Atão vucê num viste qui num pode?! Rispondeu-le nessa hora: - Zeca, diga nesses minino que fara no sua mamã, que escreva no sua mamã, que... Os minino num vais vortár. Dominga é que sabe. Os minino num vais votrár. Já tá é nesse vapor. E bana co mão e bana co lenço. E Dominga les ouve que fara no sua mamã. Mas é só Dominga que les percebe e panha esses voz nos confusão. E Dominga é que sabe no coração qué o voz dos minino dera. Le chamou de Zeca treis veiz. Primeiro, inda é minima. Foi no loja. Sô Gome trabaia no loja. E Dominga le diz: «me dá o fuba, ân, e o azeite de palma, ân e...» Sô Gome tá só é a le ver. «Atão?!, me despacha! Sô Gome... ná... Sô Gome le põe as mão nesses peito. Dominga le diz: Sô Gome!..., num mexe!; que vucê tá fazer?, ân? Juízo! Vucê qué me desgraçár?» Despois... eh!... Despois os coisa aconteceu. Atão... Que tem? Atão Dominga le diz: - Zeca, vucê me desgraçou! Ma Gome le queria nessa negra Dominga. E deu-lhe os pano. E os cordão de missanga. E risorveu esses coisa cos famíria, caté pagou alembamento. Dominga migou co branco. E foi no casa do branco. Dominga num é mais negra de sanzala. Num é já como esses negro servage, esses negro de sanzala: migou co branco. E os negro, nessa hora, já tá a le chingár. Caté le chama de desgraçada. Bandonou o sua raça. O Deus vai le castigár. - Atão?!... - Mêmo. E nessa hora eles percebe ou num percebe, tá ver, e diz que Deus é branco. - Atão, si Deus é branco... os negros num é fio de Deus?! Atão?!... E vucê tá a me ráiár porque eu faz os meus fios... fio de Deus?! - Tu vai fazer é mulato. - Mulato?! - E tu num sabe que mulato num tem sangue? Porque tu num diz no sô Gome que vê nos livro? Tá lá. Mulato num tem sangue. Num tá. Dominga sabe. Aqueres minino tem sangue. É os minino dera. E tá no vapor. E vai no Puto. E num vai vortár. Dominga se lembra. Les disse nos véio: «desgraçado é vucês, ân, vucês é qué desgraçado». Ma Dominga tá ficar co medo. É medo dos feitiço. E vai no quimbanda. Dominga migou co branco. Tá na casa do sô Gome. E Dominga toma conta. E já vai ter os minino. E despois vai ficar véia. E fica véia, fica... Já tá mêmo véia. Sô Gome le manda dormir no esteira. E sô Gome, tá ver, ele faz o que quére. Dominga percebe. Ma Dominga tem esses minino qué os minino dera. Dominga migou co branco. Num é mais negra de sanzala, não. Ela sabe co sô Gome... Que tem?!... Tem muito, eh! Ma Dominga é que tá no casa e toma conta e tem os minino pa le dar fericidade. Os outros negro vem só quando... quando cabou o fuba, quando qué le pedir o... o... coisa, quando qué le vender o ovo... Dominga percebe... Mas ela tem os minino, esses minino bom qué os minino dera. E Dominga les juda. E num zanga. Assim é que é. Atão sô Gome deixou o loja. Faz o roça nesses lavra qué dos famíria dera. E les diz que... bem! Que tá tudo bandonado. E co café é o café do passarinho. E aqueles já tá é perder os direito. Atão, sô Gome disinvorveu. E... eh!... E o roça já tá é mais grande. E sô Gome já tá o home co dinheiro. E quére os lavra dos outros. E les compra. E só mêmo esses véio é que bana co cabeça e fara que... bem! Que num tá certo! E fara co Gananzambi vai le castigár. Ma Gome num le importa. E Dominga tem é os pano bonito, os panos mais mior. E os purseira. E o cordão. Chamou-le Zeca outra veiz, quando minino morreu. Sô Gome bateu! - Negra safada! Atão vucê leva o minino no quimbanda e eu mando no dòtor? Dominga num percebe. Dominga num pode. E tá chorá mêmo: - Zeca, os minino morreu! Sô Gome também tá chorár. E num le bate mais na mamã dos minino. Os minino morreu! Despois le chamou Zeca essa veiz. E le diz: - Zeca, diga nos minino que escreva na sua mamã... E os minino vai'mbora. Sô Gome é bom. Mêmo bom. E queria le dar esse casa no cidade, esse casa nova. E pôr os dinheiro no Banco e... Dominga num ceita: Dominga é negra, ela sabe, negra de pano. E Dominga... Dominga le diz: - Me dê o casa de pau a pique no Bairrà Pêrário. E co quitanda, ân?! E ranja o licença, ân?! E... Me deixe!... Eu vive nesse negócio. Não pricida os dinheiro, não precisa os casa no cidade. Eu é negra, ân?!, tu sabe. Ma diz nesses minino que escreve no sua mamã, que fara no sua mamã. Ouviu? Dominga, ela sabe, minino num vai vortár. Num vai mêmo. Nim escreve no sua mamã. Os minino... Tá ver, esses minino já tá no vapor. E bana co mão e bana co lenço. E... mmamman, mmamman, mmamman... Dominga num qué chorár. E se vai chorá, num vair ver mais esse vapor. E Dominga qué ver esse vapor. Num pode, ela sabe, esses minino num vai vortár. Dominga... Os minino vai ficar nesses corégio dos minino branco. Num vai dar mulato safado nesses muceque. E despois os outros minino vai le perguntár: - Quem é o sua mamã? - Mia mamã?, - minino tem cabelo de carapinha - Mia mamã? É fia do soba lá na mia terra. Vucê leu no história aquela rainha que sentou no escrava e despois que diz: num levo cadera? É mia avó. Minino pricisa ter mãe portante; minino pricisa é ter orgúio, ân?! E Dominga, ela sabe... Dominga... Esses minino num vais vortár. E si vais vortár, é iguar. Já vem é home co dinheiro. Sô Gome les dá esse quitári do roça e fica portante. E Dominga sabe: esses minino num vai querer bem nessa mamã que é negra de pano e tem o quitanda no Bairrò Pêrário. Os minino num vai vortár na sua mamã. Num vai vir mêmo. Num vai escrever mais. Primeiro manda retrato. E manda mucanda. E despois, nem nada. Dominga sabe: os minino num vair vortár. Ma Dominga deixa-les ir. Os óio é que tá querê chorár, ma Dominga num quére. Os minino tá no vapor. E si Dominga vai chorár os óio num vê mais esse vapor. E Dominga les vê, caté les ouve e panha esse voz dos fio dera nos confusão desses home que traz os saco e traz os imbamba e desse branco desgraçado que tá sempre a le fastar e passa co máquina e vorta co máquina... Caté quando esse desgraçado pára esse máquina e tapa-le os minino. Dominga tá ver... Antonica... Tão bonia!... Tonica que tá tão bonita com esses lacinho vermeio nos cabelo... E... E Bastião que vai é mijar esses carça qué de fazenda... Num tem a sua mamã pa le tomar conta... E Zèquita... Tão grande!... Botoou os botão todo do casaco caté em cima... Zèquita também... E Tonica que canta tão... Canta mêmo!... E Dominga tá pensá que Tonica vai cantár é nos rádio. E quando esses povo tá ouvir esses música que mexe co gente, esses cantiga qué bom pa dançár, esses... ân?!... Tonica é que tá cantár, Tonica, a fia da Dominga, desse corpo, e... Dominga num qué chorár, num pode mais chorár e si vai chorár, Dominga, ela sabe... Não, num pode chorár, quesse branco já fastou-le outra veiz e Dominga qué ver é esses vapor e... Bastião, tão lindo! Tem tanto esperto nos cabeça, o Bastião!... E si Bastião vai estudar muito? E si vai ser é dótor? E esses povo vai le chamar dótor Bastião... Dótor Bastião, qué fio dessa negra Dominga... Tu sabe, aquera que tem o quitanda li no... Dótor Bastião... Dótor... E Zeca!... Tem tanto jeito na bola o Zeca! Coitado do zeca... Tá ver quando ele tá no muceque. Tá ver ele a correr no trás desse bola. E si Zeca tem tanto jeito na bola? E si Zeca vai jogár bola? E quando esses home tá no pé dos terefonia, nos rádio, e tá mêmo a ouvir... e começa vançar... E fará mais depressa caté... E já tá gritár: Ze-ca!, Ze-ca!, ZE-CA! GOOOLOO!!! É Zeca! Mêmo o Zeca! Esse Zeca que saiu desse corpo! Dessa negra que taí nesses confusão do porto! Dessa Dominga que tem... Tu lembra essa negra véia co quitanda, ân?!... Dessa mamã que tá mêmo... Não, num tá. Num pode. Num qué Chorár. Qué ver é o vapor. E os minino E si vais chorár esses óio num pode mais les ver. Atão Dominga fica a les óiar. E o vapor pitou. E tá mexer. E fastou. E Dominga num tá ouvir os minino que diz mmamman, mmamman, mmamman. Vê só é esses minino que bana co mão, que bana co lenço. E Dominga atão num pode mais sigurár esses óio. E se senta. E joéia. E garra os cabeça de carapinha com esses mão que num tem mais os minino pa fazer os festa. E chora. Chora. E fara co disgosto: aiué!... aiué!... aiue!... E esses branco que tá passár num le percebe: - Essa negra tá piruca! Num tá piruca, não! Dominga num bebeu. Dominga sabe só que num vair ver mais os minino. E quesses minino num vais vortár. E si vais vortár num vai mais si lembrá desses mamã negra de pano. E vê nesses óio, que já tá todo a chorár, vê só os minino que bana co mão e bana co lenço e..., mmamman, mmamman, mmamman, mmamman, mma... Cochat Osório