31 de agosto de 2019

Moçambique: Recordar Setembro de 1974 (Nuno Alves Caetano)



O 7 de Setembro em Moçambique serviu de balão de ensaio aos comunistas – com o apoio dos socialistas – para a estratégia de tomada do poder em Portugal. Por outro lado, alertou as mentes mais lúcidas e menos extremistas quanto à necessidade de colocar um travão na escalada marxista posta em marcha. Nesse sentido, esteve na génese da Manifestação de apoio ao Presidente da República, Gen. António de Spínola, mais tarde denominada “Maioria Silenciosa” e agendada para o dia 28 de Setembro.

Do lado marxista, alcançado o êxito pretendido em Moçambique, e obtida a certeza dos apoios necessários à continuidade do esquema, nomeadamente da parte de Costa Gomes, desde logo se iniciaram as diligências necessárias para fazer abortar a manifestação de carácter apolítico mas de forte tendência nacionalista.


Seguindo os trâmites legais, requereram os organizadores da manifestação as devidas autorizações, que lhes foram concedidas pelas entidades oficiais capacitadas para tal.

Desde o anúncio da manifestação que as vozes da esquerda e da extrema-esquerda se ergueram contra a mesma, exigindo a sua proibição com o argumento de se tratar de uma tentativa de restaurar o Estado Novo, o que era totalmente falso.

O intuito da mesma baseava-se exclusivamente na pretensão de reforçar os poderes do Presidente da República de modo a travar a ignóbil “descolonização exemplar” iniciada por Álvaro Cunhal e Mário Soares e, como já referi, travar a escalada marxista.

A tensão entre as duas facções ficou ao rubro durante uma Corrida de Touros realizada no Campo Pequeno, em Lisboa, no dia 26 de Setembro, onde o então Primeiro-Ministro, Vasco Gonçalves, foi alvo de monumentais vaias e o Gen. Spínola ovacionado de pé, originando confrontos físicos entre os espectadores, durante, e sobretudo após, a Corrida, nas áreas circundantes à Praça.

Com o apoio do Gen. Costa Gomes que, como habitualmente fazia jogo duplo, a esquerda e a extrema-esquerda, nomeadamente os militantes do PCP e do PS, iniciaram na madrugada do dia 28 barricadas interditando a passagem de viaturas, não sem que antes as mesmas fossem devidamente revistadas por populares armados, violando descaradamente a Lei e os princípios básicos da democracia e da liberdade, chavões tão em moda desde o 25 de Abril e constantemente apregoados pelos infractores.

Simultaneamente desencadeou o COPCON, comandado por Otelo Saraiva de Carvalho, uma operação militar com o objectivo de prender todos os que entendessem ser influentes no combate ao marxismo e simplesmente pessoas por pertencerem a determinada família, ocuparem determinada posição social ou empresarial e simplesmente fossem rotuladas de “fascista”, o que para aquela gentalha significava – e significa – não ser comunista, não ser marxista, defender valores e princípios, aproveitando-se a ocasião para algumas vinganças pessoais.

Assim, nessa mesma noite, foram presas centenas de pessoas, desde antigos Ministros, militares de renome e inquestionável patriotismo, gente da cultura, cidadãos comuns, empresários, dirigentes políticos ou simplesmente familiares de políticos do antigo regime, que foram levados para Caxias, Trafaria e Peniche, tendo a detenção de alguns sido superior a quinze meses! Paralelamente assaltavam-se as sedes dos Partidos políticos considerados de direita, como por exemplo o Partido do Progresso ou o Partido Liberal, extinguindo-se os mesmos por proibição revolucionária, fazendo jus ao velho ditado “pela boca morre o peixe”.

Face a todos estes acontecimentos, a meio da manhã foi desconvocada a manifestação, saldando-se a operação em mais um estrondoso êxito da dupla PCP/PS.

É curioso assinalar que todos os partidos políticos, incluindo o PPD/PSD e o CDS, se mostraram contrários à manifestação, emitindo comunicados nesse sentido.

Com esta estrondosa vitória da esquerda e extrema-esquerda, abriu-se caminho para que fosse possível levar a bom termo a famigerada “descolonização exemplar”, principal objectivo de Cunhal e Soares, e para a tomada do poder em definitivo pelo PCP cujo objectivo só não se concretizou devido ao golpe levado a cabo a 25 de Novembro de 1975, curiosamente duas semanas após a conclusão do processo “descolonizador” com a entrega de Angola aos comunistas do MPLA a 11 de Novembro.

Setembro de 1974 fica, pois, registado na História de Portugal como um dos meses mais negros da sua História, não só pelos actos em si, mas também pela impunidade dos novos “Vasconcellos”.


Jornal Diabo, 28/09/2015