26 de abril de 2020

Angola: Contributo Para a História (José Milhazes, 2009)


A União Soviética viu com bons olhos a audiência que o Papa Paulo VI concedeu aos dirigentes dos movimentos de guerrilha em Angola, Guiné e Moçambique, em Junho de 1970, considerando a iniciativa um duro golpe no regime salazarista.

“Tratou-se de um duríssimo golpe no ditador de Portugal, Salazar, e no ramo português da igreja católica que apoia a guerra dos colonizadores nas colónias”, escreveu nas suas memórias Piotr Evsiukov, antigo alto funcionário da Secção Internacional do Partido Comunista da União Soviética e um dos responsáveis pela política soviética em relação às colónias portuguesas.

Piotr Evsiukov, que foi também embaixador soviético em Moçambique após 1975, considerou que essa audiência foi um dos factores fundamentais do êxito da Conferência Internacional de Apoio aos Povos das Colónias Portuguesas, realizada em Roma entre 27 e 29 de Junho de 1970.

“Primeiro, a política de Portugal, país-membro da NATO, foi sujeita a uma dura crítica. Segundo, na conferência participaram Agostinho Neto do MPLA, Amílcar Cabral do PAIGC e Marcelino dos Santos da FRELIMO, que também foram recebidos pelo Papa Paulo VI no Vaticano”, escreveu o diplomata soviético nas suas memórias.

A Conferência de Roma foi fulcral para o processo de reconhecimento dos movimentos de libertação nacional pela comunidade internacional.

“Estamos convencidos de que a Conferência de Roma abre uma nova etapa na prestação de apoio material, político e moral de que o nosso povo necessita”, declarou, então, Agostinho Neto.

A delegação soviética nessa conferência era constituída pelo professor Igor Blischenko, mais conhecido por “camarada Pedro” entre os dirigentes do MPLA, pelo historiador Vladimir Chubin e por Vassili Solodovnikov, director do Instituto de África da Academia das Ciências da URSS e vice-presidente do Comité Soviético da Organização de Solidariedade com os Países da Ásia e da África.

Após a Conferência de Roma e a audiência do Vaticano, Solodovnikov recebeu autorização dos dirigentes soviéticos de tornar público, através de uma entrevista ao jornal “Pravda”, órgão do Comité Central do Partido Comunista da União Soviética, o facto de Moscovo fornecer armamentos e prestar outra ajuda aos movimentos de libertação nas colónias portuguesas de África.

Nessa entrevista, Solodovnikov revelou também que a URSS preparava quadros militares e civis para esses movimentos.

Segundo dados dos arquivos soviéticos, em 1963, a URSS prestou ao MPLA uma ajuda no valor de 50 mil dólares norte-americanos, quantia que subiu até 220 mil em 1973. Nesse mesmo ano, o PAIGC recebeu apoios no valor de 150 mil dólares e a Frelimo, 85 mil.

A ajuda material e financeira era canalizada através do Fundo Sindical Internacional de Ajuda às Organizações Operárias de Esquerda, com sede na Roménia.


José Milhazes, 22 de Março de 2009
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