26 de abril de 2020

Império Colonial Português: Contributo para a História (José Milhazes, 2009)


Encontrei um artigo curioso sobre “As ambições coloniais polacas nos anos 30 do séc. XX” em países como o Brasil e em colónias portuguesas como Angola e Moçambique. Não sei se este tema é conhecido dos historiadores brasileiros e portugueses, por isso deixo aqui um resumo do mesmo.

O artigo foi publicado no jornal electrónico regnum.ru por I.Gavrilov.

“...Em Fevereiro de 1928, sob a direcção do antigo consul polaco em Curitiba (Brasil), Kazemir Gluhovski, foi criada a União dos Pioneiros Coloniais (Zwiazek Pionerow Kolonialnych), cujo objectivo era a propaganda do domínio pela Polónia de colónias ultramarinas. No mesmo ano, essa União passou a fazer parte da Liga Zeglugi Polsiej (Liga Marítima Polaca), que, em 1930, passou a chamar-se Liga Morska i Kolonialna (LMK, Liga Marítima e Colonial). Não se tratou apenas de uma mudança de nome, mas uma mudança de política: no programa da organização aprovado no primeiro congresso, em Outubro de 1928, já tinham sido incluídos artigos sobre que a organização iria lutar pela aquisição de colónias por parte da Polónia, mas, agora, tratava-se da realização prática desse programa...”.

...”A imprensa russa e a direcção da LMK compreendia de várias formas o “colonialismo”.

Primeiro, tratava-se da transferência de colónos-sedentários polacos para novas terras, nomeadamente para o estrangeiro. Desse modo, criava-se de forma organizada uma forte diáspora em territórios pertencentes a potências estrangeiras. Claro que isso não transformava esses territórios em possessões da Polónia, mas podia permitir explorar novas regiões em prol da economia polaca (visto que os sedentários, em troca de créditos para a transferência, deviam pagar com matérias-primas). Semelhante “colonialismo” era praticado por uma grande quantidade de organizações na Polónia, bem como era activamente apoiado pelo governo. Porém, isso não podia dar resultados significativos, porque os sedentários não conseguiam realizar a extracção industrial de matérias-primas.

Segundo, podia ser a criação de grandes plantações com base em concessões de governos de potências pouco desenvolvidas. Semelhantes concessões, dirigidas centralizadamente por companhias polacas, deviam ser a base para a importação massiva de matérias-primas bartas para a Polónia. A LMK aposta precisamente neste tipo de “colonialismo”.

A terceira táctica era a criação de colónias clássicas, isto é, submissão política de determinados territórios à Polónia. Esta abordagem também gozava de grande apoio na LMK...

“... Além das exigências e da propaganda, organizações e governo polacos (e claro que a LMK) tentaram levar à prática projectos de colonização de territórios deste ou daquele país... Analiso apenas os projectos mais conhecidos, realizados pela LMK ou pelo Governo da Polónia.

Brasil

Não foi por acaso que a União dos Pioneiros Coloniais foi criada por um antigo consul na província brasileira de Paraná. O facto é que, no Sul do Brasil, no início do séc. XX, vivia e trabalhava uma diáspora polaca bastante grande : na provincía do Paranã viviam cperto de 150 mil no início dos anos 30, cerca de 18% da população. O general-brigadeiro Stefan Strjemenski, representante da LMK, propôs um grandioso plano: construir, com os meios das companhias polacas, um caminho de ferro, através do Estado do Paranã, de Rioniho e Gaurapavi, com o objectivo de ligar as aldeias polacas e, ao mesmo tempo, melhorar as condições de transporte da produção agrícola e de madeiras (que deviam ser enviadas para a Polónia). Em troca, a LMK devia receber dois milhões de hectares de território de uma reserva índia junto do caminho de ferro. Mas as altas despesas que implicaria a construção (11 milhões de dólares a preços da época) levaram à corecção substancial do plano. Em vez dos milhões de hectares, foram adquiridos cerca de sete mil hectares de terra para uma localidade chamada “Morska Wolia” (Liberdade Marítima). Um pouco mais tarde, com meios da LMK, foram adquiridos mais 20 mil hectares para a aldeia “Orlic-Dresher”. Em 1935, começou o povoamento das “colónias”, mas a dimensão do projecto está patente no facto de na “Liberdade Marítima”se terem instalado cerca de 350 pessoas, o que não é surpreendente, visto que os gastos com a transferência de uma família podiam chegar a três mil dólares. Além disso, a campanha colonial intensa na imprensa polaca obrigou o governo brasileiro de Getúlio Vargas a olhar de forma diferente para a questão do povoamento das terras. Como resultado, em 1937, a “Liberdade Marítima” povoou apenas 50% do planeado. Ao mesmo tempo, as relações das autoridades brasileiras, extremamente nacionalistas, e dos colonos polacos levaram ao aparecimento de recomendações da parte do MNE da Polónia no sentido de parar o posterior povoamento e foi posto fim ao projecto.

Angola

Logo após a criação, a União dos Pioneiros Coloniais dedicou-se activamente ao trabalho. Uma das primeiras tarefas da União foi a tentativa de criar uma rede de plantações polacas nas colónias portuguesas. Por exemplo, em 1928, para Angola foi enviada uma expedição com o objectivo de visitar e encontrar territórios para a criação de plantações agrícolas. Como resultado, foi encontrada a terra necessária e o trabalho começou: foram criadas duas companhias (“Polangola” para resolver questões de comércio e compras, e “Alfa” para resolver questões de povoamento) e os colonos polacos membros da LMK começaram a comprar parcelas de terra (de 600 a 2000 hectares) para plantações. Porém, os planos de criação de plantações em Angola estavam condenados a não se realizarem: o governo português, preocupado com tão inesperado desenvolvimento dos acontecimentos, tornou mais complicado o processo de imigração para as colónias, bem como passou a prestar muita atenção desnecessária aos colonos polacos. Como resultado, a maior parte dos grandes plantadores foi obrigada a abandonar Angola depois de 1938.

Moçambique

“...A LKM revelou interesse também para com Moçambique, onde se planeava realizar o plano de contrução de uma enorme plantação “Lacerda”, com uma área de 20 hectares para 100 plantadores. O valor do projecto era colossal: cerca de 15 mil libras para a aquisição de terras, para já não falar do equipamento dos colonos e dos subsídios para o início dos trabalhos. Jamais saberemos como terminaria esse plano, porque, em 1939, antes do início da guerra foram realizados apenas os trabalhos preparativos (prospecção geológica, estudos de agronomia).”


José Milhazes, 7 de Setembro de 2009
http://darussia.blogspot.pt