30 de setembro de 2011

Samora recusou ser presidente segundo Joaquim Chissano


Samora recusou ser presidente

Segundo Joaquim Chissano.

O antigo chefe do Estado moçambicano, Joaquim chissano, diz que Samora Machel recusou-se a ser presidente quando indicado para o cargo depois da assinatura dos acordos de Luzaka, que davam direito de Moçambique criar o seu próprio Governo pela conquista da independência.

Segundo Chissano, o primeiro presidente de Moçambique independente nunca pensou em ser presidente da República, depois da independência.

“Samora queria apenas continuar como homem de combate. Quando indicado a presidente, não aceitou”, revelou Chissano, que falava ontem numa palestra a propósito das comemorações do Ano Samora Machel, pela passagem dos 25 anos da morte deste líder. Contudo, o primeiro presidente de Moçambique independente foi convencido pelos “camaradas” a tomar o cargo, uma vez que só pensava em servir o povo.

O ex-presidente da República defendeu ainda que Samora era um homem que contagiava a todos pela rapidez do seu pensamento e de tomada de decisões.

“Ele pensava rápido em tudo o que fazia. Essa rapidez no pensamento, nos actos, foi transmitida a todos durante as conversas e em todos os momentos em que estivemos juntos”, disse.

André Manhice
SAPO MZ, 28 Setembro 2011

Comentário de:


Livre Pensador (http://www.livrepensadormoz.blogspot.com)

Como cidadao e patriota, e apenas nesse contexto, uma das caracteristicas que sempre apreciei em Samora foi a sua sinceridade e ate, imagine-se, bom senso analitico. Era um homem com poucos estudos, mas extremamente intuitivo e inteligente. O excerto do texto, certamente refinado com a pena de Aquino de Braganca (ou de Carlos Adriao Rodrigues em algumas ocasioes), mostra que entre ELE e a ala de MARCELINO DOS SANTOS (que muitas vezes e vulgarizada como sendo de TODOS intelectuais da FRELIMO, o que e falso) havia uma rotura politica clara na visao do novo Mocambique. Por exemplo, Samora percebeu imediatamente que nao era conveniente entrar em guerra aberta com vizinhos poderosos militar e economicamente, mas Marcelino dos Santos foi mais eficiente e matreiro, convencendo-o a entrar em confronto com eles. Primeiro, com a Rodesia do Sul, ao fechar as fronteiras em cumprimento de resolucoes da ONU, que por sua vez prometera a Mocambique a compensacao militar, diplomatica e financeira, uma vez que se esgotava ali uma fonte importante de divisas de Mocambique. E com a RSA, primeiro com a questao do pagamento das remessas em Krueger Rands, que por causa de Marcelino tambem, deixaram de se-lo. E posteriormente, ao colocar Mocambique como peao da Guerra Fria em linha com as orientacoes ideologicas ha muito dimanadas do COMECON e que comecaram com os antecendentes internos que determinaram o assassinato de Eduardo Mondlane. Portanto, para mim, em todas decisoes colegiais de Samora (desastrosas, na maior parte das vezes) esteve o dedo de Marcelino dos Santos e sua entourage. Quando Samora pode "rebelar-se" contra estas, Mocambique conheceu algumas das melhores decisoes do pos-independencia, ainda que muitas vezes polemicas e questionaveis nos dias de hoje. Providencialmente, a morte de Samora Machel, Mocambique abriu as auto-estradas para o Acordo de Paz em Roma, porque antes de Novembro de 1986, nos teriamos invadido o Malawi (outro exercicio megalomano de Machel no quadro da Guerra Fria), o que resultaria numa energica retaliacao militar de muitos Estados da Commowealth contra nos e contra o Zimbabwe, incendiando toda a Africa Austral. Estariamos muito provavelmente numa situacao semelhante a da Costa do Marfim. O que sendo, teria sido uma NODOA NEGRA muito feia na folha de servicos de Samora Machel, o lider que discursava como um Fuehrer e agia como um Pai dos Povos...

O perfil politico de Samora, mais ou menos maquilhado por Aquino de Braganca e sua entourage podera ser apreciado nesta publicacao: Machel, Samora Moisés, O processo da revolução democrática popular em Moçambique (1970?). Maputo: Departamento de Informação e Propaganda, 1976, in Colecção estudos e orientações, Instituto Nacional do Livro e Disco, 1980, 78 pp, que e um condensado contendo passagens de uma outra publicacao anterior da autoria de Elisio Martins (Eli. j. e. mar., Portugal e capital multinacional em Moçambique 1503-1973, Vol. II, African Studies Editorial, Denmark, 1975), intelectual mocambicano supostamente emigrado na Dinamarca que nunca ninguem conheceu pessoalmente, e nem se sabe se ainda e vivo.

O Poeta Nasce, o Orador Faz-se, la diz o velho ditado. E aqui assistiu-se-lhe o mais belo exemplo.

Nao deixa portanto de ser ridicula esta deusificacao de Samora nos ultimos tempos feita pelos "intelectuais do governo". Samora, o Desportista, Samora, o Pai, Samora, o Engenheiro, Samora, o Jurista, Samora, o Economista, Samora, o Historiador, Samora, o Humilde, Samora, o Sociologo, Samora, o General. So nos falta ouvir falar de um Samora, o Messias na Terra, capaz de curar os enfermos, dar vista aos cegos, ressuscitar os mortos. O que nao se faz para elevar a imagem de um Partido hegemonico, hoje sem valores, sem rei, nem roque... e com o Pais atrelado e a reboque. Politica a mocambicana, no ano Samora Machel. E da preparacao do Congresso de 2012 tambem!

Distraidos andam os muitos palestrantes-militantes "NEW WAVE" que ate fazem filas para falar. Certamente hoje nao lhes convem dizer que nao havendo mais teocratas do Marxismo a moldar ideologicamente a nossa sociedade como nos anos 70-80, talvez alguns idealistas "naive" achem que faca falta o antidoto de alguma ideologia Machelista em seu lugar, a pretexto da recuperacao de uma consciencia patriotica que se foi esvaindo desde 1986. Porque, no início do nosso socialismo existiram as dificuldades de crescimento. Mas depois, sobreveio o crescimento das dificuldades que ate hoje prevalece com numeros solidos, mesmo com bolchevismo morto e enterrado ha mais de 20 anos na ex-Uniao Sovietica. Porque afinal, os que nos governam ate hoje sao os mesmos actores e ideologia que permanecem agarrados aos seus dogmas, enquanto ofuscam o seu propositadamente desinformado eleitorado com os novos vernizes do Capital e quando eles finalmente estalam, a sua verdadeira face marxista-leninista reaparece.

Como por exemplo, recordar alguns aspectos peculiares da nossa mal-sucedida tentativa socialista (ate parecem anedoticos...):

1. Toda a militancia tinha emprego garantido (e hoje, é diferente?);
2. Apesar de toda a militancia ter emprego, quase ninguem fazia nada de construtivo (era preciso escangalhar com o passado...);
3. Apesar de ninguem fazer quase nada, o plano era sempre dado como cumprido (sucessos...);
4. Apesar do plano ser sempre cumprido, os cofres do Estado estavam sempre vazios (austeridade revolucionaria...);
5. Apesar dos cofres do Estado estarem vazios, as pessoas foram descobrindo modo de arranjar as coisas (palavras para que?);
6. Apesar das pessoas descobrirem modo de arranjar as coisas toda a gente acabava por roubar(hum...hum...);
7. Apesar de toda a gente roubar, nunca ninguem é apanhado, porque a responsabilizacao era militantemente colectiva ("as nossas insuficiencias...").

E quanto ao exercicio dos "intelectuais do governo" da epoca, apesar da Critica e Auto-Critica serem comiciadas, encorajadas e alardeadas pelas mais altas esferas do Partido e Estado (terminologia da epoca, ainda em voga nos nossos dias...), sempre foi um jogo de equilibrismo politico, porque só conheceu sucesso profissional, carreira, regalias e salario condizente, a militancia intelectual que:

1. Não pensou quando deveria;
2. Se pensou, não o disse a ninguem;
3. Se disse o que pensava, não escreveu em lado algum;
4. Se pensou, disse e escreveu, não assinou ("dando origem ao famoso ANONIMATO");
5. Se pensou, disse, escreveu e assinou, não se surpreendeu com a colocacao no patamar mais baixo da hierarquia do poder de entao, e acabou num bar falando mal dos antigos correlegionários.

Pergunto agora, se isto sera diferente nos tempos actuais?!