6 de agosto de 2013

Serviçais de Luanda (Paulo Morais)




A oligarquia angolana está presente na vida económica, social e até política de Portugal.

Os dirigentes angolanos controlam já uma parte significativa do capital bolsista português. São inúmeras as suas participações, que vão dos petróleos, onde marcam posição predominante na Galp, às telecomunicações, através da Zon e da Optimus; passando pelas finanças, com posições relevantes no BPI e no Millennium. A sua influência estende-se a muitos outros setores de atividade. O dinheiro proveniente das riquezas naturais angolanas jorra a rodos nos grupos económicos portugueses.

Contudo, estes capitais em nada beneficiam a economia portuguesa. De facto, os angolanos não investem em nada de produtivo, não criam riqueza agrícola ou industrial. Limitam-se a comprar participações de capital aos seus amigos portugueses – os únicos que enriquecem pela venda de uma parte do tecido económico português. O dinheiro angolano não gera crescimento, não incrementa a atividade económica nem cria novos empregos.

Na vida social portuguesa, o peso das elites angolanas também se faz sentir. Adquirem os apartamentos mais caros no Estoril, frequentam os restaurantes mais luxuosos de Lisboa e os melhores hotéis do Porto.

Por via deste predomínio económico e influência social, o controlo dos governantes angolanos sobre o poder político português é crescente. Observam-se hoje situações bizarras, como a do deputado Mota Pinto, que coordena a fiscalização dos serviços secretos portugueses e é, em simultâneo, enquanto administrador da ZON, subordinado de Isabel dos Santos, filha do presidente angolano.

As autoridades angolanas conseguiram estender o seu domínio sobre os atores políticos portugueses, do Partido Comunista de quem receberam o poder aquando da independência, ao CDS, cujo presidente, Paulo Portas, foi o ministro dos estrangeiros mais subserviente com o poder corrupto de Angola. O regime político português torna-se assim o maior cúmplice de Eduardo dos Santos.

Mas, enquanto a clique dirigente angolana ostenta a sua riqueza e vai colonizando Portugal, lá longe, em África, o povo continua a viver na miséria, apesar do ouro negro que brota do chão.

Correio da Manhã, 6 de Agosto de 2013