26 de julho de 2017

A Sagrada Ilha Japonesa Proibida a Mulheres é Património da UNESCO


A sagrada ilha japonesa de Okinoshima 


A sagrada ilha de Okinoshima, no Japão, acaba de se converter em Património da Humanidade da Unesco, debaixo de uma forte polêmica, já que, entre as suas regras, encontra-se a proibição de acesso de mulheres.

Situada a 60 km da costa de Kyushu, Okinoshima é um dos três lugares sagrados pertencentes ao Grande Santuário de Munakata, e reúne mais de 80 mil oferendas realizadas aos Deuses xintoístas do mar.

As regras são estritas. Apenas 200 homens por ano podem visitar a ilha, que fica no sudoeste do Japão, e, antes disso, têm que se banhar nus para se purificarem. Os escolhidos não podem comer carne de animais de quatro patas durante a estadia, nem levar nada da ilha – nem sequer uma pequena pedra ou algum pedaço de planta.

Depois de deixar o local, ninguém pode nunca mais falar de Okinoshima.

A UNESCO incluiu agora a pequena ilha de Okinoshima, com menos de 1 km2, na sua exclusiva lista de património protegido, por ser “um exemplo excepcional da tradição de culto de uma ilha sagrada”.


O governo japonês mostrou-se “muito satisfeito” pelo reconhecimento deste “local valioso e único a nível mundial”, e o ministro dos Negócios Estrangeiros do Japão, Fumiov Kishida, disse que respeita “sinceramente todas as pessoas encarregadas de manter as tradições desta ilha sagrada”.

Mas entre estas tradições, está a polémica regra de não permitir que mulheres visitem o local sagrado.

Segundo explicou à Agência EFE Ryuzo Nakaya, responsáel do Gabinete de Património Mundial da província de Fukuoka, houve um intenso debate à volta da inclusão na lista de Património um local onde ao qual é permitido o acesso a mulheres. Mas a UNESCO concluiu que já havia precedentes, como o Monte Athos, na Grécia, e a mesquita Haji Ali, na Índia, entre outros.

“É preciso detalhar, no entanto, que a ilha só aceita fazer convites a frades do Grande Santuário de Munakata”, cerca de 200 homens uma vez por ano, para a realização de um festival, pelo que as restrições não se aplicam apenas as mulheres, explicou Nakaya. “Na realidade, o acesso é proibido a toda a gente – menos a 200 frades”.

O festival, que acontece anualmente, a 27 de maio, serve como homenagem aos marinheiros que morreram numa batalha na região durante a guerra russo-japonesa de 1904-1905.

A ilha é um dos últimos locais no Japão em que não é permitido o acesso a mulheres. O icónico Monte Fuji e o Monte Koya, por exemplo, não podiam ser visitados por pessoas do sexo feminino até 1868 e 1872, respectivamente.

O segredo mais bem guardado de Fukuoka, província à qual pertence Okinoshima e cujos habitantes estavam a trabalhar no projecto há quase uma década, conseguiu tornar-se no 21º local Património da Humanidade do país do sol nascente.

Mas ainda que a presença na lista de Património da Humanidade normalmente se traduza num maior número de visitantes interessados no local, não há planos para abrir a ilha ao público – e muito menos a turistas.

Tanto assim é que, revelou Nakaya, para preservar ainda mais a ilha, o festival de maio, único momento em que é permitido acesso aos 200 frades, deixará de ser celebrado após o reconhecimento de Okinoshima pela UNESCO.

zap.aeiou.pt, 24 de Julho de 2017