6 de dezembro de 2010

Matutuine: Encarregados exigem cabritos aos candidatos a emprego



Encarregados do “Bela Vista Rice Project” exigem cabritos aos candidatos a emprego

– denunciam régulos de Matutuine

Matutuine (Canalmoz) – Os responsáveis pela contratação dos trabalhadores para o “Bela Vista Rice Project’, que foi lançado semana passada em Matutuine, estão a extorquir cabritos à população local, em troca de promessas de postos de emprego. A denuncia parte dos régulos de Santaca e Djabula, no distrito de Matutuine, província de Maputo, em entrevista ao Canalmoz.
O projecto de produção de arroz em grande escala é da companhia Líbio-moçambicana, Lap-Ubuntu, que se propõe a cultivar, numa primeira fase, uma área de 5 mil hectares, com capacidade produtiva de 1,4 tonelada por hectare, em cada campanha agrícola.
Este projecto foi lançado a semana finda pelos seus proprietários e contou com a presença da governadora da província de Maputo, Ana Maria Jonas.
Entretanto, as autoridades tradicionais de Matutuine disseram à nossa reportagem que os responsáveis pela contratação dos trabalhadores da companhia Lap-Ubuntu exigem cabritos em troca de postos de trabalho.
O régulo do povoado de Santaca, Eduardo Santaca, disse ao Canalmoz que quando a fase da contratação para o “Bela Vista Rice Project” arrancou, recebeu solicitação de lista de nomes de jovens desempregados no seu regulado, com a alegação de que futuramente seriam chamados para avaliação no referido projecto. Ele disse que enviou três listas separadas com os nomes de jovens, mas “nenhum dos jovens foi admitido.” Posteriormente diz que veio a saber que outras pessoas do mesmo regulado estavam a ser admitidas para o projecto e que a admissão aconteceu “mediante a entrega de cabritos aos responsáveis pela contratação”.
As pessoas admitidas “estão a trabalhar no sector de sacha, do local onde se fizeram canteiros para a produção das futuras sementes de arroz”, disse o régulo.
“Das três listas com um total 60 pessoas que mandei, até este momento ninguém foi notificado formalmente. Mas os que conseguiram tirar cabritos já estão a trabalhar’’, acusou Santaca, sublinhando que o seu regulado tem mais de dois mil habitantes e a população é maioritariamente constituída por jovens desempregados, que se deslocam habitualmente à África do Sul ou à Swazilândia, à procura de melhores condições de vida.
Meniasse Tembe, régulo de Djabula, alinhou pelo mesmo diapasão do seu colega de Santaca. Também disse que já levou uma lista para a empresa “Bela Vista Rice Project”, na expectativa de ver jovens do seu regulado empregados pelo projecto, mas “em nada resultou”, pelo menos até agora.
“A administração exige que tenho que incentivar jovens a pagar impostos, mas se as pessoas não trabalham, onde é que vão arranjar dinheiro?”, questiona Meniasse Tembe, régulo de Djabula e prossegue: “nós como líderes gostaríamos que, primeiro, as pessoas fossem empregadas, para depois serem exigidas impostos.”

Camponeses satisfeitos

Fora as denúncias de corrupção, os camponeses de Tinonganine, localidade onde será desenvolvido o projecto de produção de arroz, estão satisfeitos. Esdra Tembe, da região de Tinonganine, disse que a promessa deste empreendimento vem sendo feita já passam 35 anos. Disse que no tempo colonial aquela zona sempre produzia arroz que era vendido na fábrica de descasque de Bela Vista.
“Desde que retornámos à zona, em 1992, depois do fim da guerra civil, produzimos muito arroz e não tínhamos onde vender. Eu produzia entre 10 e 30 sacos por época, e o arroz acabava sendo comido por ratos’’, lamentou, afirmando que já tentou vender arroz pilado nas cidades.
“As pessoas da cidade não sabem que o arroz pilado à mão é fresco e saboroso. Gastei dinheiro de transporte de borla e não tive retorno. Com a implantação da fábrica, vou passar a vender arroz localmente”, disse prevendo um futuro risonho.
Por sua vez, Augusto Manhice, residente de Mathia, disse que com a implantação de “Bela Vista Rice Project”, o desemprego será minimizado, para além doutras influências positivas que a fábrica irá trazer.
“A principal via de acesso para Tinonganine será melhorada, já estão a montar uma linha de energia para o projecto e nas povoações por onde passa. Isto é mais-valia para nós’’, reconheceu.

(Cláudio Saúte)

2010-12-06