Enchimento de urnas à moda da Frelimo
Polémica entre estudantes na Universidade Eduardo Mondlane
Maputo (Canalmoz) – Está instalado um ambiente turvo na Associação dos Estudantes Universitários (AE-UEM) da Universidade Eduardo Mondlane, a mais antiga instituição de ensino superior do país. A discórdia entre os estudantes e a direcção da associação estudantil veio à superfície na semana passada, aquando da realização das eleições para o novo elenco directivo daquela agremiação académica.
O actual presidente da associação e seu elenco são acusados de orquestrar esquemas fraudulentos para favorecer uma das listas que é maioritariamente composta por amigos seus, e assim poderem continuar a dirigir a associação nem que seja a “controlo remoto”, para que não seja denunciada a suposta gestão danosa de que são acusados de terem sujeitado a agremiação até agora.
As eleições em que se deveria encontrar o elenco para substituir o actual elenco liderado por Jobe Fazenda, foram marcadas por muitas polémicas. As listas que concorreram ao escrutínio são a lista “A”, liderada por Dino Sampanha Soares, lista “B,” encabeçada por Helton Gimo António, a lista “C”, liderada por Dany Marangaze, a suposta lista dos grandes amigos do actual elenco, e finalmente pela lista “D”, encabeçada por Pedro Miguel Coimbra.
A lista “C” é conhecida entre os estudantes por integrar “meninos bonitos”, que assim como o actual elenco, segundo dizem os estudantes, não passam de bajuladores, característica com a qual a maior parte dos estudantes não se identifica. E não só: a lista “C” foi amplamente apoiada, segundo contam, pelo actual elenco que “goza de uma péssima reputação no seio dos estudantes por se promíscuir até ao pescoço com o partido Frelimo”. Entretanto, ainda segundo relato dos estudantes, estavam criadas todas as condições para a lista dos supostos “escovas” não ser votada.
Os estudantes contam que apercebendo-se da situação, o actual presidente da Associação, que também participa na organização das eleições, sugeriu, poucos dias antes das eleições, que as mesmas fossem realizadas alargadas à participação também dos estudantes das delegações provinciais, caso de Inhambane e Zambézia.
É a partir das províncias onde começariam os supostos esquemas para favorecer a lista “C”, acusam certos estudantes. Acontece, porém, que os outros candidatos não aceitaram (apesar de estar legalmente estatuído) que as delegações participassem nas eleições porque não havia condições materiais para tal, porque mesmo aqui, em Maputo, tem havido muitas dificuldades materiais. Goradas as expectativas de Jobe Fazenda de organizar eleições a nível das delegações lá se foi ao escrutínio no dia 22 de Novembro do corrente ano, com a tal lista “C” carregada de má fama.
É a partir das províncias onde começariam os supostos esquemas para favorecer a lista “C”, acusam certos estudantes. Acontece, porém, que os outros candidatos não aceitaram (apesar de estar legalmente estatuído) que as delegações participassem nas eleições porque não havia condições materiais para tal, porque mesmo aqui, em Maputo, tem havido muitas dificuldades materiais. Goradas as expectativas de Jobe Fazenda de organizar eleições a nível das delegações lá se foi ao escrutínio no dia 22 de Novembro do corrente ano, com a tal lista “C” carregada de má fama.
Na noite da contagem dos votos, veio o que já se receava. A Fraude organizada por Jobe Fazenda para favorecer a apelidada lista dos “escovas”. Um estudante que responde pelo nome de Edmar Fernando Reane e que faz parte do elenco liderado por Jobe Fazenda foi flagrado a encher urnas com votos da lista “C”. Instalou-se uma confusão sem precedentes. O jovem afirmou que estava a serviço de Jobe Fazenda e do secretário-geral, Alexandre Daniel.
O Canalmoz teve acesso ao vídeo do interrogatório, no qual Edmar afirma repetidamente o seguinte: “foi Fazenda e Alexandre Daniel que me mandaram pôr esses votos na urna. Para quê? Não sei”.
Tragam-nos a cabeça de Fazenda e seu comparsa
Instalado o clima de tensão e com a denúncia já feita tinha-se a todo custo de encontrar os mandantes do “crime”, nesse caso, Jobe Fazenda e seu comparsa Alexandre Daniel, para o contraditório. Os estudantes foram amotinar-se à porta da associação. Houve um breve encontro no qual Jobe Fazenda tinha de renunciar o cargo em reconhecimento da “pouca-vergonha” por ele encomendada. A discussão não teve grandes conclusões, porque os ânimos estavam exaltados. Houve até promessas de pancadaria à mistura. Nisso, Jobe Fazenda e seu comparsa tiveram de sair escoltados pela segurança da Universidade e ficou agendado um outro encontro para 25 de Novembro, quinta-feira. Já no encontro da quinta-feira, Jobe Fazenda negou renunciar ao cargo tal como prometera e mais uma vez os ânimos exaltaram-se e o impasse voltou a instalar-se.
Fazenda: presidente para alguns e burlador para outros
Nesse impasse todo, alguns estudantes organizaram-se e formaram uma direcção, a chamada direcção interina ou provisória, que tal como muitos estudantes, não reconhece Jobe Fazenda como presidente. Estes estudantes acusam Fazenda de falta de carácter e de ser a maior vergonha dos estudantes.
Recorde-se que a associação dos estudantes da UEM foi notícia durante as eleições de gerais de Novembro passado por ter apoiado Guebuza e a Frelimo. A Frelimo usou e abusou da associação para a campanha eleitoral com a conivência da direcção da associação. A associação chegou até a mentir aos estudantes ao organizar no centro de Conferências Joaquim Chissano uma suposta palestra académica proferida por Chissano, que na verdade era campanha eleitoral organizada pela OJM com o cunho da AEU. Nessa “pseudo-palestra”, Chissano disse que todos estudantes que tinham bolsas de estudo deviam louvar a Frelimo porque é ela que dá bolsas.
O mandato da dupla Fazenda e Alexandre
O mandato da dupla Jobe Fazenda e Alexandre Daniel não deixa boas recordações aos estudantes. E as razões que os estudantes apontam são várias, desde promiscuidade com o partido Frelimo, concretamente com a OJM, até desvio de aplicação de fundos. Existem estudantes que renunciaram os seus cargos da direcção, alegadamente devido à conduta da dupla Fazenda-Dabiel. Fala-se de “viagens estranhas”, e de uma série de aspectos que desqualificam o nome da associação. Aeroplano Franscisco já fez parte da associação como responsável do departamento de infra-estruturas e pediu a demissão, devido à conduta da tal dupla. Disse que viveu de perto a “conduta criminosa” da dupla. Conduta “criminosa” que descreve citando a venda de camisetas que eram para serem distribuídas gratuitamente aos estudantes; desvio de bebidas que seriam para festas dos estudantes; viagens e passeios que eram justificados com contas fantasmas; até à entrega ao partido Frelimo sem serem ouvidos.
Outro que preferiu demitir-se, alegadamente para preservar o nome é Josefe Viajem. Era responsável do departamento dos assuntos académicos. Saiu porque “a dupla” usou o grupo como “braço forte” da OJM e começou a relegar, os ideais que nortearam a sua candidatura, para o segundo plano. Viajem diz que Fazenda e seu “comparsa” não têm condições morais para dirigir os estudantes.
Sou vítima de uma campanha de difamação
O Canalmoz contactou Jobe Fazenda para esclarecer o imbróglio. Fazenda não desmentiu mas também não aceitou ser ele o mandante da fraude. Disse ser vítima de um grupo de estudantes que “tem interesses políticos obscuros”. Segundo suas palavras, ele continua presidente da AEU e não reconhece nenhuma direcção provisória. Sobre a realização de eleições nas delegações, explica que havia condições para tal. Fazenda aceita, entretanto, ser de relações próximas dos integrantes da lista “C”. Em relação ao mandato que expirou, disse que nunca se apegou ao poder tal como vem sendo acusado. Nega ter gerido de forma danosa o património da associação, durante os dois anos em que esteve na direcção da agremiação.
(Matias Guente)
2010-12-01