17 de março de 2013

MPLA, dirigentes e a luta pela libertação de Angola



Luanda - (…) Em Angola, contudo, havia três movimentos de libertação rivais, cada um lutando por uma posição dominante, à medida que o país se aproximava da data mágica de 11 de Novembro de 1975, dia da independência. A FNLA, (Frente Nacional de Libertação de Angola) era forte no norte porque o seu líder, Holden Roberto, era oriundo da tribo Bakongo e apoiado pelo seu cunhado, o Presidente Mobutu, do Zaire. No Sul, onde a tribo Ovimbundu era a mais poderosa, o respectivo movimento de libertação, a UNITA (União Nacional para a Independência Total de Angola, era dirigida por Jonas Savimbi. Como muitos outros líderes africanos, aceitara os apoios oferecidos, independentemente de onde provinham_ no seu caso, vieram durante muito tempo da China e, em menor extensão, de admiradores na Escandinávia, sobretudo na Suécia. O MPLA, marxista, dirigido pelo médico Agostinho Neto, tinha uma menor base tribal (…)

Kinssiger (Anos de Renovação, Gradiva, pag. 704, Lisboa, 2003)

Líderes e valores consequêntes

A História do Povo Angolano anda ligada como de siameses fossem com a História do MPLA nos últimos 56 anos, mormente com o início da luta armada organizada e disto a historiografia não nega o papel dos dirigentes do MPLA como Viriato da Cruz, Mário Pinto de Andrade, Agostinho Neto, António Jacinto e José Eduardo dos Santos, este como materializador daqueles ideais de liberdade, igualdade e dignidade do angolano e africano em especial e da pessoa humana no geral, no desenvolvimento por via do trabalho, muitos outros como líderes intelectuais e políticos interessados no combate ao colonialismo, neste texto, vou ater-me duas grandes figuras como Mário Pinto de Andrade e António Agostinho Neto, com sendo os diplomatas e políticos intelectuais que muito contribuíram para a difusão da luta armada e a busca da solidariedade internacional.

Mário Pinto de Andrade, estudou filologia clássica na Universidade de Lisboa, poeta e sociólogo preocupado com a vida do seu povo, procurou por via da Casa dos Estudantes do Império garantir a luta contra o regime colonial, utilizando a escrita como consequência do Movimento “ Vamos Descobrir Angola”, como homem defensor da igualdade da raça humana e considerando-se africano, nunca iria ignorar a humilhação do homem africano, seja qual fosse a sua tonalidade e origem. Este ilustre pensador é um Sociólogo preocupado com a exclusão e a exploração do outro e eu africano, nega a visão “lusotropicalista” por considerar uma negação da identidade tão digna quanto à portuguesa. É este homem que de Paris à Conacri vai movimentar mundos na denúncia da prisão de António Agostinho Neto seu camarada da geração “Vamos Descobrir Angola”, estudante perseguido pela PIDE quanto ele e colocado nas masmorras diversas vezes (entre 1952 a 1962), para impedir a denúncia das atrocidades portuguesas do regime de Salazar ou Estado Novo. Neto e Mário Pinto de Andrade, são aqueles que melhor interpretaram o valor da luta unida de um povo sem tribalismo ou racismo, pois, ambos procuraram criar uma ética de angolanidade transcultural, buscando do passado comum a nossa essência sem desprimor do presente ou do seu tempo, salvo o combate do mal comum ou colonização que negava ao africano a dignidade de ser ele próprio sem paternalismos lusitanos da assimilação.

O MPLA, como instituição teve dois líderes intelectuais e refinados diplomatas, mesmo depois da libertação de Agostinho Neto e a imposição do carisma deste face aquele, Mário de Andrade reconhece o papel relevante de Agostinho Neto, resultante do seu carácter determinado em unir o povo angolano numa «Frente comum» nos termos da carta de Agostinho Neto de 6/8/1962, propondo a Holden Roberto uma posição de aproximação para uma luta comum e não a luta entre angolanos, proposta recusada por Holden Roberto que se considerava o único “nacionalista”. O MPLA e seus líderes sempre primaram pela causa da unidade numa luta para libertação do povo angolano, sem alianças tribais, regionais ou raciais.

Mário Pinto de Andrade e Marc Ollivier, procuraram teorizar "A Guerra em Angola, Paris 1971" , denunciando a situação social, económica, cultural e política que se vivia na Angola de 1961, existindo mesmo certa cumplicidade da NATO ou seus membros, pois, o regime salazarista tinha o apoio do Apartheid da África do Sul, exploração económica dos camponeses, falta de direito para a maioria negra, face a minoria branca e protegida pelo colonialismo, pagamento de preços baixos para o algodão, salários miseráveis para os trabalhadores, venda de mercadoria de pouca qualidade e com preços elevados, prisão arbitraria para intelectuais como cantores, escritores, enfermeiros, medico que apoiassem as populações carentes com instrução fosse de que natureza fosse. Toda poesia sobre a realidade das populações africanas era vista como anti-colonial, normal para um regime exógeno e que impunha a assimilação como requisito para a cidadania.

Mário Pinto e Agostinho Neto, nunca iriam calar-se perante tamanho insulto e ostracismo dos angolanos, surgem como lanternas, esperanças que só no exílio podiam organizar, assim, influenciam a clandestinidade, por via da poesia e outros trabalhos sobre a Historia de Angola, organizada em 1965, em Argel com a participação de jovens e então, como Pepetela, Nduduma, Abranches etc. No sentido de consciencializar a luta de libertação, o conhecimento sobre um passado comum dos antigos reinos do Kongo, Ndongo/Ngola, Lunda, Bailundu, Bie, Kwanhamas, Nhahekas e Nganguelas.

Neto era um líder natural, Mesmo no exílio, Neto era Presidente honorário e tinha nasceu para liderar homens segundo Mário Pinto de Andrade em entrevista à Laban (1997:181). Isto facilitou a Vitoria que obteve em 1962, depois de evadido da cadeia de Aljube, Lisboa, para dirigir-se a Marrocos e depois para a guerrilha, através do Congo, encontrando um movimento de intelectuais que enviavam informações ou correspondência com o interior para activar ou dar animo a luta, pois 1961 e o aproveitamento politico de Salazar pelos excessos de 15 de Marco, apresentando os nacionalistas (MPLA e UPA/FNLA) como organizações "terroristas" expondo imagens chocantes de mulheres e crianças mortas nos ataques das fazendas no norte, tendo Savimbi, então Secretario Geral da UPA e Chefe da Diplomacia do GRAR, dito: «é sabido que a demonstração patriótica do 4 de Fevereiro de 1961 foi organizada por muitos militantes do MPLA» (1978: 146) in «Angola a resistência em busca de uma nova nação», Lisboa, o mesmo autor e líder da UNITA, disse o seguinte, em relação ao 15 de Marco de 1961 e a UPA: «A insurreição liderada inteiramente por emigrantes do Congo, não podia analisar correctamente a situação do país como um todo. Como vimos, as associações de emigrantes eram de natureza tribal e, assim, os líderes da insurreição careceram da dimensão necessária para unir todo povo oprimido. O levantamento ultrapassou a capacidade de controle dos lideres criando assim a anarquia e a inacção. Para além das insuficiências do 15 de Marco de 1961. Fazemos votos para que os líderes da UPA saibam tirar partido das suas experiencias e falhas num futuro próximo.» ob. Cit. Pag 147.

Como acabamos de ver, a UPA e o MPLA são anteriores a 1961, caso contrário, não haveria referência sobre os mesmos naquele período por pessoas interessadas como Mário Pinto, Jonas Savimbi, Agostinho Neto, Holden Roberto e a própria PIDE que pretendia aniquilar o nacionalismo utilizando jovens como Jonas Savimbi para fragilizar a luta unida dirigida pela FNLA e MPLA, segundo o então Ministro de Salazar e Marcello Caetano, Dr Silva Cunha (1977:61). Este, então Ministro do Ultramar de 1965 até Novembro de 1973 e da Defesa até 25 de Abril de 1974, promoveu encontros com Savimbi, por via da PIDE/DGS e dos Serviços de Informação Militar da Zona Militar Leste, comandada pelo General Bettencourt Rodrigues, e onde participaram ainda o Governador-geral, Coronel Rebocho Vaz e o Comandante-Chefe, General Costa Gomes.

O MPLA teve sempre uma visão de inclusão, de valores de esquerda para promoção da cidadania angolana que busca, na diversidade, a consciência do homem Angolano, formado para a defesa da Pátria, sem revanchismo regional, étnico, tribal ou racial. Este Movimento tinha mais sustentação doutrinária ou político-ideológica que a UPA/FNLA, pois, mesmo com a presença de alguns membros provenientes das várias regiões do País, mantinha a consciência de um conservadora e étnica, basta lembrar a saída de quadros como Savimbi e Rosário Neto naturais de zonas sociológicas de Holden Roberto, resultante de uma cúpula que pensara aconselhava Holden como herdeiro dos antigos reis do Kongo. No entanto, a História veio comprovar que a Nação é o resultado de todos antigos reinos como emanação de Angola, entidade político-territorial e sociocultural com um poder que garante a segurança de todos, sem discriminações arbitrárias e de qualquer tipo. Sobre o tribalismo, racismo ou discriminação importa reflectir com o Professor de Filosofia em Harvard, o Anglo-Ganês Kwame Appiah (1997:220-251), este pensador levante as questões do territórios definidos pelo colonizador, embora existam elemento antropo-semióticos que diferem por razões de percepções sobre a natureza, sociedade e língua que a política não devia ignorar, mas o homem como fenómeno social vive de pactos e acordos que podem alterar valores. Este é um «fardo do homem negro», segundo Davidson (200:103).

Os dirigentes nacionalistas eram presos e condenados por questionarem certas práticas contra a dignidade da pessoa humana, mormente a do homem africano ou negro, considerado indígena ou assimilado, consoante o grau de instrução de matriz portuguesa, renunciando a sua identidade cultural (língua, crenças, família alargada e profissão africana). Como tal, à luz daquele regime, os nacionalistas eram vistos como criminosos ou “delinquentes” para limitar a sua liberdade. Por isso e só por isso, não são verdadeiras as acusações infames que se fazem aos dirigentes do MPLA. Eles lutaram por valores que hoje todos usufruem. Devemos pois, por honestidade intelectual e histórica, demarcar-nos dos excessos de linguagem que visem ultrajar e desconsiderar figuras históricas. Não é por se ler um único livro que se obtém a verdade, mas sim comparando diversas fontes. Quem faz tal coisa ou é ignorante ou revanchista, pelas as suas opções que fez e que levaram sempre estar «do lado errado da História» segundo Fernando (2012). Manifestações deste tipo só denotam ressentimento ou frustrações inconsequentes. A inveja afecta a justiça, segundo Rawls (1993:404).

O MPLA e os seus dirigentes e quadros sempre lutaram pela igualdade de oportunidades, paz, desenvolvimento e respeito pelo homem Angolano e toda humanidade. Outros optaram por negar os valores da igualdade entre humanos, aliando-se fosse a quem fosse, mesmo com o diabo, desde que desse para prolongar a luta e humilhação do homem Angolano. A ambição desmedida pelo poder levou-nos às mais objectas barbáries, que resultou em morte e luto para o nosso povo. Aqui lutou-se contra o colonialismo, invasão zairense, sul-africana e aqui foram derrubados regimes fascistas e defensores do Apartheid. Não nos acusem, hoje, por mantermos o País libertado da miséria, guerra sem valores ou exploração de recursos sem controlo e destruição de Igrejas, escolas, casas, pontes e estradas minadas, isto ficou para trás. Respeitemo-nos uns aos outros, sem branquearem a história. Os Líderes fortes devem possuir e defender valores consequentes, e honrar os seus juramentos! Se assim, não fosse o que seria de Cristo, S. Paulo e S. Pedro com o cristianismo e catolicismo? O que seria da liberdade na América sem George Washington e Abraham Lincoln, com e abolição da escravatura? O que seria da França sem Charlles D´Gaulle e a Terceira República ou o pós guerra? O que seria da Inglaterra sem Winston Churchill no combate ao Nazismo? O que seria dos Angolanos sem Mário Pinto de Andrade, Agostinho Neto e José Eduardo dos Santos?

Vamos viver o presente não fugindo do passado, pois, só com a consciência sobre, feitos e defeitos, saberemos os efeitos do porvir… compromissos com a Paz, democracia e dignidade dos Angolanos, seja qual for o credo, cor, ideologia, lugar de nascimento ou origem étnica, compromissos com a humanidade e a nação com valores consequentes…

João Pinto, 14 Março 2013

*Professor Universitário

Fonte: Club-k.net