Somos a escola de cidadania - dizem jovens militares na passagem à reserva
Cumpriram, durante dois anos, com brio e profissionalismo à mistura, a nobre missão de defesa da pátria. Agora estão de volta à casa para o reencontro com as suas famílias, amigos e outros parentes. Estamos a falar dos jovens incorporados nas fileiras das Forças Armadas de Defesa de Moçambique (FADM), primeiro turno de 2008. O Ministro da Defesa Nacional, Filipe Nyusi, foi ontem ao Quartel de Mahlazine despedir-se dos jovens, lançando-lhes o desafio de continuarem a usar os seus conhecimentos em defesa da Constituição da República, da soberania e da integridade territorial. Em mensagem de ocasião, os jovens disseram:
A passagem à reserva de disponibilidade destes jovens realizou-se em todo o território nacional, sendo que a cidade de Maputo acolheu simbolicamente o acto. A mesma contemplou os jovens que cumpriram o Serviço Normal Efectivo nas FADM, nos três ramos, nomeadamente Exército, Força Aérea e Marinha de Guerra.
Dados divulgados na ocasião indicam que dos jovens que juraram a bandeira, na condição de soldados prontos 60, porcento passaram ontem à disponibilidade. 84 porcento do efectivo feminino que na mesma ocasião jurou a bandeira requereram e foram admitidos para o regime de voluntariado, devendo, por consequência, continuar no quadro das FADM.
O acto de desmobilização destes jovens consistiu na leitura das respectivas ordens de serviço, entrega do espólio militar, dos cartões militares e leitura de mensagens pelos abrangidos e pelo Ministro da Defesa Nacional que depois passou em revista à Guarda de Honra.
A cerimónia foi testemunhada pelo Chefe do Estado-Maior General das FADM e o seu vice, pelos comandantes dos ramos das FADM, oficiais generais, superiores e subalternos, sargentos e praças, familiares dos jovens desmobilizados, entre outros convidados.
Dirigindo-se aos presentes, o Ministro da Defesa Nacional, Filipe Nyusi, explicou que o Serviço Militar constitui uma verdadeira escola em que os jovens aprendem o sentido de patriotismo, a cidadania e consolidam a unidade nacional.
Disse que durante os treinos militares quer no centro de instrução quer nos seus serviços, nas unidades militares onde estavam afectos, os jovens tiveram a oportunidade de saber a diversidade do grande mosaico cultural do povo, sobre a história e a tradição que representam as variadas regiões de Moçambique.
“Aprenderam na prática que nas FADM não existe discriminação sexual, racial, tribal, religiosa ou por afinidade política; aprenderam, sim, uma maneira única de ser das FADM, orientados pelos seus valores culturais internos direccionados para o cultivo do patriotismo e uniformização dos procedimentos”, salientou.
Dos que a partir de ontem se juntaram à sociedade civil, nove porcento dos que interromperam os estudos têm a garantia de retomar às salas de aulas, garantiu o titular da pasta da Defesa Nacional. Aliás, a lei do Serviço Militar defende-os. 28 porcento dos que passaram à reserva de disponibilidade e que se candidataram ao ingresso na Polícia deverão aguardar a sua convocação para a observância dos devidos requisitos, sendo que merecerão a máxima prioridade, porque demonstraram a sua prontidão de forma incondicional para as missões de chamamento à pátria.
“Podemos afirmar que 65 porcento dos incorporados em 2008 terminam a sua missão em 2010 com uma ocupação na sociedade, designadamente: continuação dos estudos, integração nas FADM e na PRM”, disse, acrescentando que os restantes vão procurar se inserir na vida social normal e continuarão a ser acompanhados pelo Governo através de instituições vocacionadas. Ou seja, o Ministério da Defesa Nacional continuará a dar o seu contributo na busca de parcerias para a sua reinserção económica e social.
De acordo com o Ministro da Defesa Nacional, o Governo está grato pelo feito nobre destes jovens a quem lembra que saíram pela grande porta depois de terem cumprido a missão de defender a pátria.
É que, segundo Filipe Nyusi, mesmo com as adversidades com que se vão confrontar em casa, eles não poderão apagar este feito, devendo lutar para preservá-lo.
“Lutem contra a droga, alcoolismo, criminalidade, desobediência e desordem; lutem contra a desunião do nosso povo; mantenham firme a vossa convicção de que Moçambique é uno e indivisível”, sublinhou Filipe Nyusi, acrescentando que “levem às comunidades as lições de respeito ao vosso superior hierárquico, respeito aos mais velhos; a estima dos desfavorecidos, amor à natureza e ao ambiente, respeito pela coisa pública, orgulho pela nossa cultura, valores que qualificam a nossa auto-estima”.
O Ministro da Defesa Nacional lembrou qeu o país está a viver um momento chuvoso, sobretudo na região centro, apelando aos jovens para que disseminem nas comunidades as experiências aprendidas na protecção do cidadão em caso de calamidades de diversa ordem. Apelou, igualmente para que o mesmo seja feito em relação à prevenção e combate ao HIV/SIDA, medidas de protecção contra a cólera e malária e outras doenças endémicas, para além de terem que difundir as acções com vista à implementação do Plano de Acção para a Promoção da Higiene.
“Que as vossas famílias descubram em vês a diferença entre ontem e hoje, através das vossas capacidades de liderança, auto -estima e espírito de cooperação e solidariedade, virtudes que caracterizam a vossa missão nas FADM”, indicou.
CUMPRIMOS
Alguns jovens inquiridos pelo “Notícias” durante o acto de desmobilização mostraram-se satisfeitos pelo facto, indicando que “cumprimos a nossa missão”.
Nácima Mussa, de 27 de anos, regressa à província de Gaza, onde gostaria de dar continuidade às suas actividades profissionais na área da saúde.
“Sinto-me profundamente emocionada. A batalha foi dura, mas consegui cumpri-la. Hoje em dia encorajo a todas jovens em idade militar para que não vejam este serviço como um bicho de sete cabeças. É uma actividade igual a qualquer outra, sendo até um privilégio pertencer nalgum momento ao ramo das FADM”, disse.
Nácima Mussa diz que durante os dois anos em que esteve integrada nas FADM aprendeu muitos valores: cidadania, patriotismo, unidade nacional, pretende disseminá-los na sua comunidade.
Mateus Mioche foi recrutado na cidade de Xai-Xai onde frequentava a 10ª classe. No final desta jornada, manifesta o desejo de continuar a estudar, não este ano, porque as aulas já começaram, mas diz que lutará para que em 2011 regresse à carteira e cumpra o sonho de entrar no Ensino Superior.
“Quando fui incorporado compreendi que era necessário responder ao chamamento. Já cumpri, agora vou-me embora. Não descansarei enquanto não alcançar os meus objectivos académicos, já sem compromissos de ordem militar”, afirmou.
Quizito Rafael, de 21 anos, oriundo da Zambézia, não considera a missão cumprida, pois, segundo disse, em caso de guerra está disponível para a mobilização.
“Volto à casa. Foi um privilégio ter cumprido o serviço militar. Espero que o Governo nos ajude no processo de reinserção. Quero continuar os estudos na 11ª classe, na Escola Pré-Universitária de Mocuba”, referiu a fonte, apelando aos jovens para que não se eximam de cumprir este serviço.
Quarta-Feira, 3 de Março de 2010:: Notícias